Timor-Leste: População grita vivas a Portugal e à GNROs timorenses receberam hoje com gritos efusivos, bandeiras e cachecóis de Portugal os 120 militares da GNR que chegavam ao bairro Kuluhun, na entrada em Díli, uma recepção que revela a confiança da população nos agentes portugueses.
Na ponte de Becora, jovens e velhos, os primeiros com bandeiras e gritos de Viva a Portugal, os outros em palmas e animação, acolheram a coluna que partiu ao início da tarde de hoje de Baucau, 120 quilómetros a leste de Díli.
À semelhança do que já tinha ocorrido na passagem por Manatuto e Metinaro, no caminho para a capital, também em Díli a população ladeava as ruas, saudando os militares.
Espantados, sem perceber o que se passava, seis soldados australianos, em patrulha na zona, param para ver a coluna passar e um deles, em dúvida, perguntou ao timorense mais próximo: «o que é isto?».
«São os soldados de Portugal», disse o jovem, em inglês.
Maria da Piedade, bebé ao colo, furou a multidão, e conseguiu aproximar-se o suficiente de um dos carros da coluna para entregar a um militar português um ramo de «bungha», uma flor rosa tradicional de Timor-Leste.
E emocionada disse: «estou muito alegre porque os soldados de Portugal estão agora em Díli. Agora vai haver paz».
De trás, mais flores caíam sobre as carrinhas da coluna, formada por viaturas da cooperação portuguesa, camiões de caixa aberta carregados com o equipamento da GNR e carros e motas de timorenses que se juntaram na entrada em Díli.
Vítor, de seis anos, uma das dezenas de crianças que se juntaram à festa, traduzia outro sentimento que ecoa em Kuluhun: «estou contente porque gosto muito de Portugal».
Manuel de Sousa, funcionário do Ministério da Saúde quis falar aos jornalistas, dizer que está «muito contente» e que «até hoje a segurança em Díli não estava garantida».
«Com a chegada da GNR tenho a certeza que todos vão voltar para casa», afirma.
E, com a certeza que os seus mais de 50 anos lhe conferem, pediu que os militares portugueses não sejam como os australianos, «serenos e meigos», mas tenham antes «uma atitude mais dura e severa».
«Duríssima mesmo. Estas lutas pelas cadeiras do poder deixam o povo em cheque», acrescentou um outro timorense, dentes vermelhos do betel.
Eduardo, por seu lado, explicou a esperança que a população de Díli deposita na chegada dos efectivos portugueses, não tanto pela eventual dureza da sua acção, mas antes porque «conhecem muito bem o país e, por mais grave que seja o problema, vão ajudar a resolve-lo».
O acolhimento em Díli traduz o entusiasmo que domina todas as conversas na cidade.
Residentes, governantes e expatriados juntam-se na expectativa de que a chegada do contingente português possa fazer regressar a Díli, sem policiamento há quase duas semanas, a segurança suficiente para que as dezenas de milhares de desalojados possam voltar às suas casas.
Uma situação que, na opinião do major Paulo Soares, da GNR no terreno, «eleva os patamares de responsabilidade» da equipa de militares portugueses agora no terreno.
«Sentimos de facto essa ansiedade e uma enorme expectativa quanto à nossa chegada», disse à agência Lusa.
«Mas este é um contingente com muita experiência, quer ao nível de missões aqui em Timor-Leste, quer no Iraque. São militares habituados a lidar com este tipo de situações e que actuarão sempre dentro da sua capacidade técnica e operacional, e independentemente das ansiedades e das expectativas», frisou.
Ainda que grande parte do equipamento dos militares portugueses não esteja ainda no terreno, Paulo Soares garantiu que a partir do momento em que chegar a Díli, e ainda que esteja em fase de instalação, o contingente terá «capacidade de actuação».
«Não lhe posso dizer se será numa actuação com os 120 ou com um grupo mais reduzido, mas está preparado para actuar de imediato», frisou.
Esta é a segunda vez que a equipa de operações especiais da GNR actua em Timor-Leste, depois de uma missão de dimensão idêntica ter estado no terreno entre Fevereiro de 2000 e Junho de 2002.
Os militares portugueses estão em Timor-Leste na sequência de um pedido formalizado pelas autoridades timorenses a Portugal, Austrália, Nova Zelândia e Malásia para o envio de forças militares e policiais para apoiar na restauração da lei e ordem em Díli.
Nos últimos meses, Timor-Leste tem vivido os seus piores momentos de tensão, instabilidade e violência desde que se tornou independente, há quatro anos, na sequencia da eclosão de uma crise político-militar que tem sido marcada por divisões no seio das Forças Armadas e da Polícia Nacional, e elevada tensão política.
- Diário Digital / Lusa