sábado, abril 29, 2006

Distante Melodia

Num sonho de Íris morto a oiro e brasa,
Vem-me lembranças doutro tempo azul
Que me oscilava entre véus de tule –
Um tempo esguio e leve, um tempo-asa

Então os meus sentidos eram cores,
Nasciam num jardim as minhas ânsias,
Havia na minha alma outras distâncias –
Distancias que o segui-las era flores...

Caía oiro se pensava estrelas,
O luar batia sobre o meu alhear-me...
– noites-lagoas, como éreis belas
– sob terraços-lis de recordar-me!...

Idade acorde de inter-sonho e Lua
Onde as horas corriam sempre jade,
Onde a neblina era uma saudade,
E a luz – anseios de Princesa nua ...

Balaústres de som, arcos de amar,
Pontes de brilho, ogivas de perfume...
Domínio inexprimível de ópio e lume
Que nunca mais, em cor, hei – de habitar...

Tapetes de outras Pérsias mais Oriente...
Cortinados de Chinas mais marfim...
Áureos templos de ritos de cetim...
Fontes correndo sombra, mansamente...

Zimbórios-panteões de nostalgias,
Catedrais de ser – eu por sobre o mar ...
Escadas de honra, escadas só, ao ar ...
Novas Bizancios – Alma, outras Turquias...

Lembranças fluidas ...cinza de brocado ...
Irrealidade anil que em mim ondeia ...
Ao meu redor eu sou Rei exilado,
Vagabundo dum sonho de sereia...


- Mário Sá-Carneiro

Tango

Carlos Gardel no tango La Violetera.


quinta-feira, abril 27, 2006

Já que estamos com a mão na massa ...


- Uma colectânea quente para maiores de 18 anos, como não podia deixar de ser!
Da Via Occidentalis

Comprem, comprem, senão não esgota!!

Jaquinzinhos na Espírito das Leis

O carapau de escabeche, como soía apelidá-lo :), publicou pela edição da Espirito das Leis uma selecção de textos do comatoso Escabeche :))

Comprem, comprem! Senão não esgota!!

quarta-feira, abril 26, 2006

Um momento apenas a vida

O falecimento do Presidente da Junta de Freguesia da Pena, em exercício de funções, veio suscitar-me, uma vez mais, reflexão sobre a transitoriedade da vida, e de como ténue é o exercício de funções públicas.

Ao contrário do que é comummente considerado, o exercício de funções públicas de âmbito político e/ou administrativo traz severas vicissitudes, e o expoente máximo encontra-se expresso no falecimento deste Autarca devido a agressões sofridas durante o desempenho dessas mesmas funções; serão as autoridades criminais a determinar com rigor o sucedido.

A ter em conta são as responsabilidades do exercício destas funções, bem assim como, sobre a eventual perigosidade que as mesmas acarretam a nível físico e psicológico.

Nenhum Autarca pode deixar de reflectir sobre tal, ao mesmo tempo que pondera se valerá a pena colocar em risco a sua integridade e dignidade ao serviço dos demais.

Na Lei existe uma disposição que determina que todos os autarcas, inclusive os designados Membros das Assembleias, têm direito a um seguro de acidentes pessoais; nunca antes foi tão necessário.

O choque que acarreta este drama, está longe de estar concluso; esperemos que o tempo possa trazer alguma compreensão relativamente a questões desta natureza.

Paz à sua Alma.



Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha


- Jorge de Sena, Fidelidade

Chernobyl


Isto, minhas senhoras e meus senhores, é a energia nuclear.

Depois não digam que não sabiam.

terça-feira, abril 25, 2006

(R/E)volução

Parece que este ano deixaram de insistir na letra (R/E)volução.

O Sr. PAR fez uma pergunta à qual respondo:

- Eu.

Falam em tanta revolução/evolução ou a PQOP, mas no que toca a resolver as questões pendentes: NADA.



Perdem-se no vento nossas insinceras palavras;
tudo que fingimos ser são como péssimas encenações de comédias.
Sorrisos fáceis e falsos são como venenos lançados ao ar, nos intoxicam.
Desejos mesquinhos de poder e controle despertam minha repulsa e ódio.
A vaidade vazia que nada acrescenta é a mais detestável de todas as mentiras.
A riqueza pelo dinheiro é somente felicidade perene e vazia;
vazias e asquerosas são as pessoas que tudo fazem em sua função.
A ambição desmedida que tudo quer, gera fome, miséria e desespero.
Toda vulgaridade dos que se vendem muito barato.
É desagradável o cheiro da politicagem que emanam as instituições.
Homens robotizados diariamente embarcam em imensos navios negreiros;
Ei! Não sou, nem serei um número de série a mais em seu inventário.
Diariamente morte, guerra e caos só porquê boas notícias não vendem jornal.
Compre, tenha, ligue agora! Desgraçados!
A buzina dos carros, a fumaça, os assaltos, o pivete, o travesti na esquina, a sirene da ambulância, o mendigo, as latas de lixo.
Não há mais espaço para inocência.
A traição é a moeda corrente.
Finalmente os olhos aprenderam a mentir.
Malditos!
Tais como insetos repugnantes,
segue a raça humana aniquilando a tudo e a si mesma.


- Carlos Sant'Anna, Malditos!

segunda-feira, abril 24, 2006

Livros

Livros, livros e mais livros:

Aqui

Blogger

O Blogger esteve em baixo.

Não há inspiração ou publicação que resista!

quarta-feira, abril 19, 2006

Publicidade enganosa ou burla?

A estória das transportadoras aéreas Low Cost

Viagens chegam a custar o dobro do publicitado

Os preços dos bilhetes de viagens de avião anunciados pelas transportadoras aéreas, agências de viagem ou "sites" na Internet especializados são substancialmente inferiores aos que, de facto, são cobrados. As empresas divulgam apenas a tarifa base, excluindo as várias taxas cobradas que chegam, mesmo, a ser superiores à tarifa inicial e que variam de caso para caso. O resultado, conclui um estudo da Deco a publicar na próxima "Dinheiro e Direitos", é uma "publicidade enganosa", já denunciada junto do Instituto do Consumidor.

A publicação divulga casos, reportados a Novembro do ano passado, em que o preço final chega a ser o dobro do que tinha sido anunciado, já que à tarifa base são acrescidas as várias taxas, cobradas quer por entidades externas à transportadora (como aeroportos ou Governo) quer pelas próprias empresas, como as que incidem sobre o combustível, a segurança, abertura de processo, de reserva, de meio de pagamento, entre outras.

"As taxas são identificadas por siglas e variam de acordo com vários critérios, como o momento em que a compra é feita", afirmou Luís Rodrigues da Silva, responsável técnico pela "Dinheiro e Direitos". Por isso, o consumidor não tem informação, à partida, sobre o valor final a pagar pelo bilhete.

Para o saber tem que fazer todo o processo de compra da viagem, mas "se calhar já eliminou uma determinada companhia porque a sua tarifa base era mais elevada", afirmou o responsável, que garante haver "casos de tarifas base mais baixas que acabam por não ser o preço final mais baixo". O que está em causa, entende a Deco, é a possibilidade de confrontar custos.

A disparidade entre o preço publicitado e o realmente cobrado é maior junto das transportadoras de baixo custo, as "low cost".

Nestas empresas, as tarifas base são mais baixas que nas tradicionais, pelo que o peso das taxas (muitas delas cobradas por entidades terceiras, como os aeroportos ou os Governos) é superior, explicou Rodrigues da Silva.

Casos em português

Entre os preços analisados pela Deco estão alguns praticados pelas maiores transportadoras portuguesas. Por exemplo, a diferença no preço final de um voo de ida e volta de Lisboa a Barcelona pela TAP e pela Portugália era de apenas dois euros. Mas inicialmente, a TAP publicitava 104 euros, enquanto que a concorrente propunha 154 euros.

Também junto de agências de viagem on-line e motores de busca especializados, os preços praticados divergem. Um voo de Lisboa a Bruxelas é publicitado a 89 euros pela Netviagens, Geotur, Travelprice e Exit, mas o preço final é substancialmente superior. Nas duas últimas entidades, é cobrado 132 euros, valor que pode subir aos 152 euros na Netviagens e aos 164 na Geotur.

- JN

terça-feira, abril 18, 2006

E a Indonésia?

Timor: três magistrados portugueses apresentaram demissão

Três magistrados portugueses em comissão eventual de serviço em Timor-Leste ao serviço das Nações Unidas apresentaram segunda-feira a demissão, depois de terem sido apodados de «colonialistas» pelo ministro do Interior, disse hoje fonte da ONU à Lusa.
O pedido de demissão foi apresentado directamente, segunda-feira, ao representante do secretário-geral da ONU em Timor-Leste, Sukehiro Hasegawa.


A fonte contactada pela Lusa acrescentou que Sukehiro Hasegawa pediu aos três magistrados portugueses, João Carreira, Luís Mota Carmo e Sandra Pontes, que suspendessem o pedido de demissão até sexta-feira, enquanto decorre um inquérito sobre as circunstâncias invocadas quinta-feira passada, em conferência de imprensa, pelo ministro do Interior, Rogério Lobato.

João Carreira exerce actualmente o cargo de Procurador-Geral Adjunto da República, Luís Mota Carmo o de Procurador da República no Distrito de Díli e coordenador no distrito de Oecussi, e Sandra Pontes o de Procuradora da República em Díli e coordenadora no distrito do Suai.

De acordo com os relatos da imprensa timorense, Rogério Lobato criticou na conferência de imprensa as reiteradas faltas ao trabalho dos magistrados, que acusou de preferirem viajar em vez de trabalharem nos casos que lhes estão distribuídos nos tribunais.

«Eles vêm para Timor para ganhar muito dinheiro para passarem férias ou para trabalhar? Isso é o que eu pergunto», vincou.

O ministro Rogério Lobato, que considerou o comportamento daqueles magistrados «colonialista» e que tinha ao seu lado o Procurador-Geral da República, Longuinhos Monteiro, aproveitou para solicitar a este que «controle a sua gente», especialmente os procuradores.

Na resposta, Longuinhos Monteiro confirmou que alguns magistrados do Ministério Público estavam de férias, ao que Rogério Lobato reafirmou a necessidade de o PGR indagar junto dos juristas internacionais os que pretendem continuar a trabalhar em Timor-Leste.

A alternativa, apontou, é regressarem aos seus países.

A fonte contactada pela Lusa salientou a estranheza por Longuinhos Monteiro não ter aproveitado a ocasião para esclarecer que tinha sido o próprio PGR a autorizar os magistrados a viajarem, numa deslocação enquadrada pelos contratos de trabalho dos procuradores ao serviço das Nações Unidas e também avalizada pela UNOTIL, a actual missão da ONU em Timor-Leste.

A deslocação foi autorizada por se encontrarem em Timor-Leste procuradores internacionais e nacionais habilitados a substituir os ausentes.

Na sequência da conferência de imprensa, o gabinete de Sukehiro Hasagawa distribuiu um comunicado em que manifestou surpresa pelas críticas do ministro do Interior, pelo que decidiu criar uma comissão de avaliação da actividade dos procuradores ao serviço das Nações Unidas.

As críticas de Rogério Lobato foram feitas dois dias depois de o juiz administrador do Tribunal Distrital de Díli, António Hélder do Carmo, ter apresentado por escrito uma queixa sobre os alegados contínuos atrasos dos procuradores internacionais nos tribunais, invocados por juízes, o que acarreta perturbações na normal condução dos casos levados a julgamento.

Fontes judiciais disseram à Lusa que não é a primeira vez que magistrados portugueses são criticados por viajarem para fora do país.

Da primeira vez, em Março, a alegação foi semelhante à actual, mas o resultado foi a repreensão dos funcionários judiciais que, infundadamente, tinham denunciado a ausência dos magistrados, os quais, tal como agora, estavam devidamente autorizados a viajar e tinham outros procuradores credenciados para os substituir.

A Lusa tentou falar com os magistrados portugueses alvo das críticas de Rogério Lobato, mas os três escusaram-se a prestar declarações.

O ministro da Justiça, Domingos Sarmento, não se pronunciou sobre as queixas do seu colega do Interior sobre o trabalho dos magistrados.

Portugal é um dos principais financiadores do sector da Justiça em Timor-Leste, através da participação no Programa Fortalecimento do Sistema da Justiça.

Este programa teve o orçamento de três milhões de dólares no triénio 2003/2005, período em que o financiamento de Portugal ascendeu a 1,2 milhões de dólares.

Já este ano, após a revisão deste programa, válido até 2008, o orçamento global é de 10 milhões de dólares e o envolvimento de Portugal é de três milhões de dólares.

Diário Digital / Lusa

segunda-feira, abril 17, 2006

Carga fiscal com o maior aumento desde 1999

A carga fiscal cresceu durante o ano passado ao ritmo mais alto desde 1999, fazendo com que Portugal tenha sido o segundo país com uma variação mais acentuada deste indicador em toda a União Europeia.

(...)

- DN

Por este andar, não tarda nada, seremos todos refugiados económicos!

Expressão que ouvi hoje a propósito dos emigrantes portugueses! Os portugueses deixaram de serem emigrantes para passarem a ser: refugiados económicos.
Expressão muito apropriada.

quarta-feira, abril 12, 2006

Boa Páscoa

Votos de uma Excelente Páscoa

Que este seja um momento de reflexão e Paz interna - muito Amor, são os meus votos


Quando o amor te acenar, segue-o,
ainda que por caminhos ásperos e íngremes.

E quando as suas asas te envolverem,
rende-te a ele,
ainda que a lâmina escondida sob suas asas possa ferir-te.

E quando ele te falar, acredita no que ele diz,
ainda que a sua voz possa destroçar os teus sonhos,
assim como o vento norte açoita o jardim.

Pois, se o amor te coroa, ele tambm te crucifica.
Se te ajuda a crescer, também te diminui.
Se te faz subir às alturas
e acaricia os teus ramos mais tenros que tremem ao sol,
também te faz descer às raízes
e abala a tua ligação com a terra.

Como os feixes de trigo, ele mantém-te íntegro.
Debulha-te até que fiques nu.
Transforma-te, retirando a tua palha.
Tritura-te, até que estejas branco.
Amassa-te, até que te tornes macio;
e então coloca-te perante o fogo,
para que te transformes em pão,
no banquete sagrado de Deus.

Todas essas coisas pode o amor realizar,
para que conheças os segredos do teu Coração,
e que com esse conhecimento, sejas um fragmento
do Coração da Vida.


- Khalil Gibran, O Amor

domingo, abril 09, 2006

Evangelho Apócrifo segundo Judas

Foram necessários mais de 2000 anos para lançar alguma luz sobre a personagem de Judas e desmistificar a sua caracterização.

Os Evangelhos Apócrifos segundo Judas
(Tradução disponível em inglês; documento em .pdf, os interessados podem enviar mail.)

A Igreja prontificou-se, uma vez mais, a desvalorizar e descredibilizar este texto Apócrifo, e Judas em particular.

Uma religião deve transmitir uma mensagem de Amor e Paz

É possível que tenha chegado o momento de rectificar os erros e mentiras sobre os quais está erecta uma Igreja, e não haveria momento mais adequado do que na Páscoa.

Inicia-te, enfim, Alma imprevista,
Entra no seio dos Iniciados.
Esperam-te de luz maravilhados
Os Dons que veêm consagrar-te Artista.

Toda uma Esfera te deslumbra a vista,
Os activos sentidos requintados.
Cius e mais cius e cius transfigurados
Abrem-te as portas da imortal Conquista.

Eis o grande Momento prodigioso
Para entrares sereno e majestoso
Num mundo estranho d'esplendor sidéreo.

Borboleta de sol, surge da lesma...
Oh! vai, entra na posse de ti mesma,
Quebra os selos augustos do Mistério!


- Cruz e Sousa, O Grande Momento

terça-feira, abril 04, 2006

A brutalidade do poder absoluto

A publicação de documentos e fotografias secretas do governo britânico do post IIª GM chocou o mundo.

As tentativas levadas a cabo pelo governo britânico não surtiram efeito, e o Guardian publicou os esqueletos escondidos no armário relativos a esse período.

O mundo ficou boquiaberto, escandalizado e estupefacto pela forma como um país dito civilizado se comportou.

Sucede que, a brutalidade do poder absoluto não tem tempo, não tem face, cor, religião, dialecto e, muito menos, se reconhece na dita civilidade, civilização ou pseudo democracia.

Dizem que dos fracos não reza a história, assim como não reza dos perdedores, e a prova aí está, possível aos olhos e consciências.

O escândalo reside no facto de ter sido a Grã-Bretanha a perpretar esta infâmia? Isso foi ontem; hoje estamos perante outras situações, situações presentes visíveis aos olhos e consciências, e ainda assim, a coberto de pseudo civilidade, civilização e, pasme-se, democracia, há situações tão ou mais escabrosas - Sérgio Vieira de Melo, onde estiver, que o diga.

O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente.

Quanto aos britânicos do post IIª GM:

UP YOURS.