quarta-feira, abril 26, 2006

Um momento apenas a vida

O falecimento do Presidente da Junta de Freguesia da Pena, em exercício de funções, veio suscitar-me, uma vez mais, reflexão sobre a transitoriedade da vida, e de como ténue é o exercício de funções públicas.

Ao contrário do que é comummente considerado, o exercício de funções públicas de âmbito político e/ou administrativo traz severas vicissitudes, e o expoente máximo encontra-se expresso no falecimento deste Autarca devido a agressões sofridas durante o desempenho dessas mesmas funções; serão as autoridades criminais a determinar com rigor o sucedido.

A ter em conta são as responsabilidades do exercício destas funções, bem assim como, sobre a eventual perigosidade que as mesmas acarretam a nível físico e psicológico.

Nenhum Autarca pode deixar de reflectir sobre tal, ao mesmo tempo que pondera se valerá a pena colocar em risco a sua integridade e dignidade ao serviço dos demais.

Na Lei existe uma disposição que determina que todos os autarcas, inclusive os designados Membros das Assembleias, têm direito a um seguro de acidentes pessoais; nunca antes foi tão necessário.

O choque que acarreta este drama, está longe de estar concluso; esperemos que o tempo possa trazer alguma compreensão relativamente a questões desta natureza.

Paz à sua Alma.



Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha


- Jorge de Sena, Fidelidade