Pssst... no pasa nada!
À pesporência e desatino, um tributozinho de somenos importância:
Sirventês
Vej’eu as gentes andar revolvendo
e mudando aginha os corações
do que põen antre si as nações;
e já m’eu aquesto vou aprendendo
e ora cedo mais aprenderei:
a quen poser preito, mentir-lho-ei,
e assi irei melhor guarecendo.
Ca vej’eu ir melhor ao mentireiro
c’ao que diz verdade ao seu amigo;
e por aquesto o jur’ e o digo
que já mais nunca seja verdadeiro;
mais mentirei e firmarei log’al:
a quen quer’oje ben, querrei-lhe mal,
e assi guarrei como cavaleiro.
Pois que meu prez nem mia onra non crece,
por que me quígi teer à verdade,
vede’lo que farei, par cardade,
pois que vej’ o que m’assi acaece:
mentirei ao amigo e ao senhor,
e poiará meu prez e meu valor
com mentira, pois com verdade dece.
- Pêro Mafaldo
Tendo o terrível Bonaparte à vista,
Novo Aníbal, que esfalfa a voz da Fama,
"Ó capados heróis!" (aos seus exclama
Purpúreo fanfarrão, papal sacrista):
"O progresso estorvai da atroz conquista
Que da filosofia o mal derrama?..."
Disse, e em férvido tom saúda, e chama,
Santos surdos, varões por sacra lista:
Deles em vão rogando um pio arrojo,
Convulso o corpo, as faces amarelas,
Cede triste vitória, que faz nojo!
O rápido francês vai-lhe às canelas;
Dá, fere, mata: ficam-lhe em despojo
Relíquias, bulas, merdas, bagatelas.
- Bocage
Sirventês
Vej’eu as gentes andar revolvendo
e mudando aginha os corações
do que põen antre si as nações;
e já m’eu aquesto vou aprendendo
e ora cedo mais aprenderei:
a quen poser preito, mentir-lho-ei,
e assi irei melhor guarecendo.
Ca vej’eu ir melhor ao mentireiro
c’ao que diz verdade ao seu amigo;
e por aquesto o jur’ e o digo
que já mais nunca seja verdadeiro;
mais mentirei e firmarei log’al:
a quen quer’oje ben, querrei-lhe mal,
e assi guarrei como cavaleiro.
Pois que meu prez nem mia onra non crece,
por que me quígi teer à verdade,
vede’lo que farei, par cardade,
pois que vej’ o que m’assi acaece:
mentirei ao amigo e ao senhor,
e poiará meu prez e meu valor
com mentira, pois com verdade dece.
- Pêro Mafaldo
Tendo o terrível Bonaparte à vista,
Novo Aníbal, que esfalfa a voz da Fama,
"Ó capados heróis!" (aos seus exclama
Purpúreo fanfarrão, papal sacrista):
"O progresso estorvai da atroz conquista
Que da filosofia o mal derrama?..."
Disse, e em férvido tom saúda, e chama,
Santos surdos, varões por sacra lista:
Deles em vão rogando um pio arrojo,
Convulso o corpo, as faces amarelas,
Cede triste vitória, que faz nojo!
O rápido francês vai-lhe às canelas;
Dá, fere, mata: ficam-lhe em despojo
Relíquias, bulas, merdas, bagatelas.
- Bocage