Angola reedita técnica dos tempos coloniais para o caso de Cabinda
Panfleto distribuído massivamente tenta desmoralizar os guerrilheiros que combatem as forças armadas de Luanda
Está a ser distribuído pelas autoridades de Angola um panfleto que apela aos soldados da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) a «abandonarem as matas», elaborado dentro do mesmo princípio que as tropas coloniais portuguesas utilizaram em Cabinda e Angola no sentido de provocarem uma «desmoralização» dentro das fileiras do Movimento para a Libertação de Angola (MPLA), da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Em 1963, o Ministério do Exército português, num manual reservado aos quadros superiores, intitulado «O Exército na Guerra Subversiva», mais precisamente no opúsculo denominado «Acção Psicológica», aconselhava (sic): «A propaganda de rendição visa o enfraquecimento da vontade de combater do adversário e a sua consequente entrega».
No documento, lia-se ainda que «numa manobra de propaganda de rendição deve adaptar-se o seguinte procedimento: começar por explorar a ideia de que os rebeldes já estão batidos, fazendo-lhes querer que os seus esforços serão vãos; (...) fornecer instruções concretas para a rendição e dar a garantia de que os prisioneiros feitos serão bem tratados».
Na redacção dos referidos panfletos, aconselhava ainda o mesmo manual, «deve evitar-se dar um aspecto desonroso ao apelo que nele se faz, falando, por exemplo, em ‘cessar a resistência’ em vez de empregar a palavra ‘rendição’. Deve, além disso, justificar-se este acto, empregando para isso expressões de compreensão comum, como ‘o desejo de paz’, ‘fim das hostilidades inúteis’, etc.».
Recentemente foi distribuído em Cabinda um panfleto que respeita rigorosamente as técnicas outrora utilizadas pelo exército português em Angola e no enclave, com os títulos «Pela paz e reconciliação» e «A verdade da FLEC». No panfleto é publicada a fotografia a cores de 11 antigos guerrilheiros da FLEC: Aliança; Giro; Gomes Macai; Tigre; Velho; Francisco Luemba Lazaro; Zeferino Mabiala; Comandante Paka Cele; Comandante Espírito; Sambaca e Povo, acompanhada do seguinte texto: «Somos vossos antigos companheiros na guerrilha. Entendemos que a guerra só prejudica. O Governo Angolano e as FAA receberam-nos bem. Nossos filhos estão a estudar. Os oficiais e tropas incorporados nas FAA têm o seu salário mensal. Os desmobilizados receberam seu dinheiro e Kit completo para a sua reinserção na sociedade. É a sua vez, abandone as matas, junte-se a nós. Somos pela paz e entendimento dos angolanos. Não Sofra nas matas. Viva a Paz e a Unidade Nacional».
No mesmo panfleto, sob o título «A Verdade da FLEC», afirma-se que «o Sr. Alexandre Taty, secretário-geral da FLEC, e o Sr Estanislau Miguel Boma ‘Aparência’ disseram: ‘Não temos meios, nem condições de sustentar a guerrilha, cada um por si’. Palavras do antigo guerrilheiro Marcelo Makanga e Carlos António Baiona que abandonaram a mata. Caro irmão a FLEC até hoje não te deu nada. Tua vida está cada vez pior. Nzita Tiago e Bento Bembe nada te darão senão desgraças e mortes. Tua salvação é o Governo de Angola. Pense bem, abandone o terrorismo, faça como os outros que hoje vivem em paz e harmonia junto da família e colegas. Apresenta-te sem medo e sem receio. Viva a Paz e a reconciliação. Viva o Sr. Presidente dos Santos».
O final do panfleto apresenta semelhanças claras com outro sugerido no referido manual das tropas coloniais portuguesas, que as forças lusas distribuíram em massa nas matas, quando refere «Não esqueças que somos portugueses com iguais direitos. Apresenta-te sem medo!» ou «Apresenta-te e informa onde os guerrilheiros têm as suas armas. Serás bem tratado. Serás recompensado».
Em declarações ao Ibinda.com, a direcção da FLEC/FAC negou categoricamente que Alexandre Taty ou Estanislau Boma, tivessem feito, conjuntamente, as afirmações contidas no panfleto. «O MPLA pretende através de mentiras e intoxicação tentar baixar o moral das nossas forças. Esse panfleto é uma prova do desespero que as Forças Armadas Angolanas (FAA) encontram em Cabinda», adiantou a mesma fonte do movimento de resistência.
Um membro da sociedade civil em Cabinda contactado pelo Ibinda.com também analisou o conteúdo do panfleto. «Esta é uma prova material que os angolanos não controlam a situação em Cabinda, do ponto de vista militar e social», concluiu. «Em nenhum lado do folheto eles declaram a sua máxima favorita de ‘uma Angola de Cabinda ao Cunene’, e limitam-se a falar exclusivamente do ‘Governo angolano’. Esta prudência reflecte a compreensão angolana da especificidade de Cabinda, assim como da rejeição dos cabindas de serem integrados no contexto angolano», explicou.
O mesmo responsável afirmou igualmente que «de uma forma discreta, Angola pretende provocar a amálgama entre os termos ‘resistência’ e ‘terrorismo’, neste panfleto, quando se refere aos desertores chama-lhes ‘antigos guerrilheiros’». Porém, acrescentou, «quando se dirige aos actuais guerrilheiros apela a que ‘abandonem o terrorismo’, esta amalgama é claramente propositada, e esconde em si as pretensões angolanas de associar a FLEC ao terrorismo, no intuito de legitimar internacionalmente a sua acção belicista em Cabinda, excluindo qualquer via ou hipótese para a negociação e resolução pacifica do conflito».
E conclui: «É chocante ver quando Angola foi vítima dos métodos de colonialistas portugueses, hoje utiliza esses mesmos métodos como que um autoreconhecimento da prática neocolonialista angolana em Cabinda. Os métodos e os argumentos são exactamente os mesmos. Por outro lado este tipo de propaganda demonstra que Angola não tem qualquer intenção de negociar a questão de Cabinda».
Está a ser distribuído pelas autoridades de Angola um panfleto que apela aos soldados da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) a «abandonarem as matas», elaborado dentro do mesmo princípio que as tropas coloniais portuguesas utilizaram em Cabinda e Angola no sentido de provocarem uma «desmoralização» dentro das fileiras do Movimento para a Libertação de Angola (MPLA), da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Em 1963, o Ministério do Exército português, num manual reservado aos quadros superiores, intitulado «O Exército na Guerra Subversiva», mais precisamente no opúsculo denominado «Acção Psicológica», aconselhava (sic): «A propaganda de rendição visa o enfraquecimento da vontade de combater do adversário e a sua consequente entrega».
No documento, lia-se ainda que «numa manobra de propaganda de rendição deve adaptar-se o seguinte procedimento: começar por explorar a ideia de que os rebeldes já estão batidos, fazendo-lhes querer que os seus esforços serão vãos; (...) fornecer instruções concretas para a rendição e dar a garantia de que os prisioneiros feitos serão bem tratados».
Na redacção dos referidos panfletos, aconselhava ainda o mesmo manual, «deve evitar-se dar um aspecto desonroso ao apelo que nele se faz, falando, por exemplo, em ‘cessar a resistência’ em vez de empregar a palavra ‘rendição’. Deve, além disso, justificar-se este acto, empregando para isso expressões de compreensão comum, como ‘o desejo de paz’, ‘fim das hostilidades inúteis’, etc.».
Recentemente foi distribuído em Cabinda um panfleto que respeita rigorosamente as técnicas outrora utilizadas pelo exército português em Angola e no enclave, com os títulos «Pela paz e reconciliação» e «A verdade da FLEC». No panfleto é publicada a fotografia a cores de 11 antigos guerrilheiros da FLEC: Aliança; Giro; Gomes Macai; Tigre; Velho; Francisco Luemba Lazaro; Zeferino Mabiala; Comandante Paka Cele; Comandante Espírito; Sambaca e Povo, acompanhada do seguinte texto: «Somos vossos antigos companheiros na guerrilha. Entendemos que a guerra só prejudica. O Governo Angolano e as FAA receberam-nos bem. Nossos filhos estão a estudar. Os oficiais e tropas incorporados nas FAA têm o seu salário mensal. Os desmobilizados receberam seu dinheiro e Kit completo para a sua reinserção na sociedade. É a sua vez, abandone as matas, junte-se a nós. Somos pela paz e entendimento dos angolanos. Não Sofra nas matas. Viva a Paz e a Unidade Nacional».
No mesmo panfleto, sob o título «A Verdade da FLEC», afirma-se que «o Sr. Alexandre Taty, secretário-geral da FLEC, e o Sr Estanislau Miguel Boma ‘Aparência’ disseram: ‘Não temos meios, nem condições de sustentar a guerrilha, cada um por si’. Palavras do antigo guerrilheiro Marcelo Makanga e Carlos António Baiona que abandonaram a mata. Caro irmão a FLEC até hoje não te deu nada. Tua vida está cada vez pior. Nzita Tiago e Bento Bembe nada te darão senão desgraças e mortes. Tua salvação é o Governo de Angola. Pense bem, abandone o terrorismo, faça como os outros que hoje vivem em paz e harmonia junto da família e colegas. Apresenta-te sem medo e sem receio. Viva a Paz e a reconciliação. Viva o Sr. Presidente dos Santos».
O final do panfleto apresenta semelhanças claras com outro sugerido no referido manual das tropas coloniais portuguesas, que as forças lusas distribuíram em massa nas matas, quando refere «Não esqueças que somos portugueses com iguais direitos. Apresenta-te sem medo!» ou «Apresenta-te e informa onde os guerrilheiros têm as suas armas. Serás bem tratado. Serás recompensado».
Em declarações ao Ibinda.com, a direcção da FLEC/FAC negou categoricamente que Alexandre Taty ou Estanislau Boma, tivessem feito, conjuntamente, as afirmações contidas no panfleto. «O MPLA pretende através de mentiras e intoxicação tentar baixar o moral das nossas forças. Esse panfleto é uma prova do desespero que as Forças Armadas Angolanas (FAA) encontram em Cabinda», adiantou a mesma fonte do movimento de resistência.
Um membro da sociedade civil em Cabinda contactado pelo Ibinda.com também analisou o conteúdo do panfleto. «Esta é uma prova material que os angolanos não controlam a situação em Cabinda, do ponto de vista militar e social», concluiu. «Em nenhum lado do folheto eles declaram a sua máxima favorita de ‘uma Angola de Cabinda ao Cunene’, e limitam-se a falar exclusivamente do ‘Governo angolano’. Esta prudência reflecte a compreensão angolana da especificidade de Cabinda, assim como da rejeição dos cabindas de serem integrados no contexto angolano», explicou.
O mesmo responsável afirmou igualmente que «de uma forma discreta, Angola pretende provocar a amálgama entre os termos ‘resistência’ e ‘terrorismo’, neste panfleto, quando se refere aos desertores chama-lhes ‘antigos guerrilheiros’». Porém, acrescentou, «quando se dirige aos actuais guerrilheiros apela a que ‘abandonem o terrorismo’, esta amalgama é claramente propositada, e esconde em si as pretensões angolanas de associar a FLEC ao terrorismo, no intuito de legitimar internacionalmente a sua acção belicista em Cabinda, excluindo qualquer via ou hipótese para a negociação e resolução pacifica do conflito».
E conclui: «É chocante ver quando Angola foi vítima dos métodos de colonialistas portugueses, hoje utiliza esses mesmos métodos como que um autoreconhecimento da prática neocolonialista angolana em Cabinda. Os métodos e os argumentos são exactamente os mesmos. Por outro lado este tipo de propaganda demonstra que Angola não tem qualquer intenção de negociar a questão de Cabinda».