sexta-feira, julho 27, 2007

ONU denuncia «limpeza étnica» e insta Cartum a actuar

AVISO:

Não coloco imagens porque são demasiado abjectas.
Quem quiser um vislumbre do que é lá a realidade, pode fazê-lo aqui e aqui.

Esta é uma causa que abraço desde o início deste blog, e enquanto ele existir, continuará a ser veículo para, uma ténue tentativa de, chamar a atenção para esta barbaridade e genocídio.

O Comité de Direitos Humanos da ONU pediu hoje ao Governo do Sudão que combata com urgência os crimes cometidos na região de Darfur e que garanta que as milícias não recebem apoio do exército do país para realizar uma «limpeza étnica» entre a população.

«Preocupa-nos muito a impunidade de que gozam as milícias responsáveis pela limpeza étnica que ocorre em Darfur e pelas graves e sistemáticas violações dos direitos humanos, como assassínios, violações, deslocamentos forçados e ataques contra os civis», disse hoje em Genebra o presidente do comité, Rafael Rivas-Posada.

Darfur é palco de um conflito desde Fevereiro de 2003, quando os movimentos de Libertação do Sudão e da Justiça e Igualdade pegaram em armas para protestar contra a pobreza e a marginalização da região.

A guerra interna causou já mais de 200 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados e refugiados, uma das piores tragédias humanitárias das últimas décadas, segundo a ONU.

O Comité de Direitos Humanos, formado por 18 especialistas independentes, redigiu um relatório sobre o cumprimento, por parte do Sudão, do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, a partir de informações fornecidas pelo Governo sudanês e por Oorganizações Não Governamentais que actuam no país.

No documento de nove páginas, os especialistas falam de «claras violações dos direitos humanos» e lamentam que as autoridades não tenham investigado as denúncias, principalmente no caso de Darfur.

Entre as recomendações ao Governo do Sudão, Rivas-Posada destacou a necessidade de que «se assegure que as milícias que cometem uma limpeza étnica não recebam apoio algum, nem financeiro nem material».

O texto pede também às autoridades de Cartum que protejam as vítimas de abusos e lhes concedam algum tipo de indemnização, que descartem qualquer tipo de amnistia para os que tenham violado os direitos da população sudanesa, que discutam o problema das crianças-soldado e que eliminem a pena de morte da legislação.

Outras recomendações contidas no documento são a protecção dos direitos da mulher, principalmente em relação à participação na vida pública e ao acesso à educação, a disponibilização dos meios para reduzir a violência contra as mulheres, a proibição da mutilação genital feminina e o combate à tortura.

Esta semana, o ministro do Interior sudanês, Al Zubair Bashir Taha, acusou os serviços secretos norte-americanos de traficar armas em Darfur, oferecer ajuda económica aos líderes dos grupos rebeldes e de ter contribuído para a morte de milhares de sudaneses na região.

- Diário Digital

janjaweed = ASSASSINOS


Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!

Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.

Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.

Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!

Não passarão!

Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:

Não passarão!


- Miguel Torga, Não passarão!