Um relato na 1ª pessoa
O terrorismo.
O Terror.
Não sou única no contacto com este fenómeno.
Quem viveu nas "ex-colónias" pode relatar muitos casos ligados a este espectro.
Eu, nasci na selva angolana, bem no 'coração de Angola'.
O meu:
O terrorismo não se circunscreve apenas, e somente, a actos bombistas, mas sobretudo à criação e propaganda do medo:
seja pelo recurso a actos ou a omissões.
Um inimigo invicível.
O Medo prespassava, principalmente na noite. Pela calada da noite os vultos moviam-se livres.
Embora com milícia privada, nunca existem elementos de segurança suficientes para garantir a integridade física de quem quer que seja, em circunstâncias destas.
O Terror era uma sensação que pairava; não se traduzia, até determinado momento, em acontecimentos físicos.
Apenas pairava, e era um inimigo psicológico, que constrangia e aprisionava a mente e o 'coração'.
Eu, míuda, absolutamente despudorada, escapava-me de noite e percorria as ruas, sem medo, ou temor.
Existe um sistema próprio que nos é conferido quando nascemos nestas circunstâncias: todos os instintos da Terra são nossos.
Instintos muito mais apurados e 'refinados' - à milésima.
Nunca fui atacada, apenas observada; como predador e presa. Nunca me considerei presa, e muito menos predadora.
VÍTIMA NUNCA.
Mas, existe 'um certo código', que se traduz em "respeito pelos despudorados"; como que a dizer: "eh pá, olha um doido! Será que se pega?!"
Ainda nesta linha:
uma certa noite, eu 'mignone', em todos os sentidos - desde a idade, até a altura! - ouvi um algazarra, eram três pretos (sim, a cor deles) a discutirem; um deles tinha um gato preto.
Estavam a preparar-se para matarem o gato.
'Fui-me a eles'; primeiro, uns pontapés nas canelas "Toma lá que é para aprenderes!", e depois, "Não têm vergonha? Então vocês querem matar o animalzinho?!! Mas, que mal é que ele vos fez?!!"
"Ele traz má sorte."
"Má sorte?!! Mas, porquê?!"
"Ah, então, porque é preto!"
"Ah, porque é preto!! Então e vocês? São o quê?!!
Dêem-me mas é o gato."
Vai daí que, o gato foi parar à minha pessoa. Coitadinho, arranhou-me toda!
É a luta pela vida! Nada que não tenha sarado.
Era um gato maravilhoso; amigo, carinhoso, companheiro.
O problema dele?
ERA PRETO, e eles eram 'PARDOS'.
Quando a situação se tornou, de facto impraticável, as mulheres e crianças foram evacuadas.
Saímos à meia-noite, em 'machimbombos' com os faróis apagados, e 4 milicianos em cada viatura. Às crianças, as Mães tapavam a boca, para não serem feitos ruídos.
Partimos dia 26 de Maio, para chegarmos a Lisboa a 3 de Junho de 1975.
No Aeroporto de Luanda fomos sujeitos a bombardeamentos de 'rockets', bzzz, por todos os lados, assobiavam à volta do avião e, iam caindo na pista. (Parámos para embarcar mais passageiros. Parecia um jardim zoológico!!)
O que se passou entretanto? Não sei, deve estar aqui 'escondido', algures em mim. Porque a Vida, tem a benção de permitir esquecer; lançar para um canto qualquer da 'memória', do inconsciente, factos.
O meu gato? Bem, o meu gato ficou.
Assim como ficou 'metade de mim'.
O que custou mais? Ser espoliada dos bens materiais, ou dos bens imateriais?
Mil, muitas vezes mil, os imateriais.
Nem toda a racionalidade do Mundo (e arredores), explica ou prepara para compreender na totalidade, tudo aquilo por que passamos na vida.
Quando da luta entre a razão e o coração, quem vence é o coração. Porque o Coração tem razões, que a Razão desconhece. Essa é que é essa.
E os muitos 'canudos' que possamos conquistar, estão muito aquém da realidade; a teoria e a prática têm um fosso entre elas, e em última instância vence sempre a realidade.
O Terror.
Não sou única no contacto com este fenómeno.
Quem viveu nas "ex-colónias" pode relatar muitos casos ligados a este espectro.
Eu, nasci na selva angolana, bem no 'coração de Angola'.
O meu:
O terrorismo não se circunscreve apenas, e somente, a actos bombistas, mas sobretudo à criação e propaganda do medo:
seja pelo recurso a actos ou a omissões.
Um inimigo invicível.
O Medo prespassava, principalmente na noite. Pela calada da noite os vultos moviam-se livres.
Embora com milícia privada, nunca existem elementos de segurança suficientes para garantir a integridade física de quem quer que seja, em circunstâncias destas.
O Terror era uma sensação que pairava; não se traduzia, até determinado momento, em acontecimentos físicos.
Apenas pairava, e era um inimigo psicológico, que constrangia e aprisionava a mente e o 'coração'.
Eu, míuda, absolutamente despudorada, escapava-me de noite e percorria as ruas, sem medo, ou temor.
Existe um sistema próprio que nos é conferido quando nascemos nestas circunstâncias: todos os instintos da Terra são nossos.
Instintos muito mais apurados e 'refinados' - à milésima.
Nunca fui atacada, apenas observada; como predador e presa. Nunca me considerei presa, e muito menos predadora.
VÍTIMA NUNCA.
Mas, existe 'um certo código', que se traduz em "respeito pelos despudorados"; como que a dizer: "eh pá, olha um doido! Será que se pega?!"
Ainda nesta linha:
uma certa noite, eu 'mignone', em todos os sentidos - desde a idade, até a altura! - ouvi um algazarra, eram três pretos (sim, a cor deles) a discutirem; um deles tinha um gato preto.
Estavam a preparar-se para matarem o gato.
'Fui-me a eles'; primeiro, uns pontapés nas canelas "Toma lá que é para aprenderes!", e depois, "Não têm vergonha? Então vocês querem matar o animalzinho?!! Mas, que mal é que ele vos fez?!!"
"Ele traz má sorte."
"Má sorte?!! Mas, porquê?!"
"Ah, então, porque é preto!"
"Ah, porque é preto!! Então e vocês? São o quê?!!
Dêem-me mas é o gato."
Vai daí que, o gato foi parar à minha pessoa. Coitadinho, arranhou-me toda!
É a luta pela vida! Nada que não tenha sarado.
Era um gato maravilhoso; amigo, carinhoso, companheiro.
O problema dele?
ERA PRETO, e eles eram 'PARDOS'.
Quando a situação se tornou, de facto impraticável, as mulheres e crianças foram evacuadas.
Saímos à meia-noite, em 'machimbombos' com os faróis apagados, e 4 milicianos em cada viatura. Às crianças, as Mães tapavam a boca, para não serem feitos ruídos.
Partimos dia 26 de Maio, para chegarmos a Lisboa a 3 de Junho de 1975.
No Aeroporto de Luanda fomos sujeitos a bombardeamentos de 'rockets', bzzz, por todos os lados, assobiavam à volta do avião e, iam caindo na pista. (Parámos para embarcar mais passageiros. Parecia um jardim zoológico!!)
O que se passou entretanto? Não sei, deve estar aqui 'escondido', algures em mim. Porque a Vida, tem a benção de permitir esquecer; lançar para um canto qualquer da 'memória', do inconsciente, factos.
O meu gato? Bem, o meu gato ficou.
Assim como ficou 'metade de mim'.
O que custou mais? Ser espoliada dos bens materiais, ou dos bens imateriais?
Mil, muitas vezes mil, os imateriais.
Nem toda a racionalidade do Mundo (e arredores), explica ou prepara para compreender na totalidade, tudo aquilo por que passamos na vida.
Quando da luta entre a razão e o coração, quem vence é o coração. Porque o Coração tem razões, que a Razão desconhece. Essa é que é essa.
E os muitos 'canudos' que possamos conquistar, estão muito aquém da realidade; a teoria e a prática têm um fosso entre elas, e em última instância vence sempre a realidade.