quarta-feira, março 17, 2004

MAS QUE M++++ É ESTA?!!

Aguardam-se explicações, antes de maiores comentários.

No CDS Já Se Fala em Fusão

Quando se fala com algum dirigente do CDS sobre os dois anos de Governo, uma das primeiras coisas que salientam é a solidez da coligação com o PSD. Lembram como nos primeiros tempos comentadores e adversários vaticinavam que a aliança entre Paulo Portas e Durão Barroso seria breve e asseguram que está para durar até 2006, até 2010. Dois membros da direcção democrata-cristã com que o PÚBLICO falou admitem mesmo que o caminho pode ser uma fusão entre os dois partidos no decorrer de uma segunda legislatura de governo em coligação. Já no PSD, as vozes vão no sentido contrário: são de algum incómodo pelo peso que o CDS, que não chegou a ter dez por cento dos votos, tem no Executivo.

A solidez da coligação parece residir na relação entre os líderes dos dois partidos. E também numa certa discrição a que Paulo Portas se tem remetido. O líder do CDS percebeu que tinha de se "apagar" para que o PSD aceitasse o CDS. Um dirigente democrata-cristão admite mesmo que esta seja uma estratégia deliberada e até combinada entre Durão e Portas.

O mesmo dirigente confia que os partidos vão coligados às legislativas de 2006 e defende que depois devem caminhar para uma fusão, que, no entanto, deve permitir manter a identidade de cada um. A camparação que faz é com o PP espanhol, onde tanto há "gays" como militantes da Opus Dei anti-legalização das ligações homossexuais.

Um outro dirigente democrata-cristão, que também defende o caminho da fusão, alerta que é preciso o CDS não criar dificuldades ao PSD com episódios como as picardias com a família Soares. E acredita que é possível os dois partidos ou o "grande partido de direita" que ambos formarem ficar no poder para além do habitual ciclo de oito anos. É que, explica, se, em 2006, a economia vai estar a crescer, em 2010 será possível estar a viver dos rendimentos.

Os discursos partidários do CDS provocam por vezes a irritação dos sociais-democratas, foi o caso deste episódio com Mário Soares ou do tema da imigração. Estas divergências acabam por ser vistas no PSD como o preço a pagar por algo que os sociais-democratas prezam acima de tudo: a estabilidade governativa, ou seja, as condições para governar em maioria absoluta. Mesmo nas alturas de maior tensão, a maior parte das pessoas reconhecem que a direcção do PSD tomou a atitude certa ao aliar-se ao CDS porque, de outro modo, e com uma conjuntura económica desfavorável, um governo minoritário pouco conseguiria fazer.

As críticas que os partidos da oposição fazem ao CDS e ao seu peso excessivo na política do Governo em proporção com o número de lugares que ocupam começam a ter, contudo, algum eco entre os sociais-democratas. É o caso da posição tomada em relação ao aborto, o almoço de congratulação pela regulamentação da lei de imigração, um projecto de revisão constitucional mais radical do que o pretendido pelo PSD, o abandono dos círculos uninominais na revisão das leis eleitorais.

Membros do Governo sublinham ao PÚBLICO, no entanto, que os casos de maior tensão no Executivo ocorrem não tanto entre pessoas do PSD e do CDS, mas mesmo entre sociais-democratas.

Nos primeiros meses de Governo, o período foi de expectativa do PSD, desconfiado, em relação ao comportamento do CDS. Depois seguiu-se o caso Moderna e aí é curiosa a interpretação do que se passou. Durão Barroso apoiou sem reservas o seu ministro da Defesa e o PSD garante que, em contrapartida, o CDS ficou devedor dessa prova de apoio político que ajudou a sedimentar a coligação.

- Por E.L./H.P.
Quarta-feira, 17 de Março de 2004