quarta-feira, julho 13, 2005

É valente

Ferreira Leite recusa-se a "deixar o PS à solta"

Antiga ministra das Finanças arrasa projectos do TGV e do aeroporto da Ota

«Betão só cria emprego para "africanos e ucranianos"»


Manuela Ferreira Leite foi ontem a Odivelas, "em nome do partido", (PSD) criticar em termos muito duros a política financeira de Campos e Cunha e o novo projecto de investimentos do Governo. Na inauguração da sede do candidato do PSD àquela câmara, Fernando Ferreira, a antiga ministra das Finanças defendeu que os sociais-democratas não devem "deixar o PS à solta" e que "todos os momentos são bons" para denunciar os erros da governação socialista.

Admitindo que o PS passou por "um chamado estado de graça", Ferreira Leite explicou que a aura de "credibilidade" do actual Executivo se ficou a dever, nos primeiros meses, à exigência de austeridade nas contas públicas - a mesma marca que marcou o seu próprio mandato "Só há alguma coisa de positivo em todos os aspectos em que estão a fazer rigorosamente o mesmo que nós". Mas, sublinhou a ex-ministra, essa exigência de rigor que ditou um aumento dos impostos baseia-se "num facto falso". Ferreira Leite referia-se ao valor do défice (6,83% do Produto Interno Bruto) encontrado pela comissão liderada pelo governador do Banco de Portugal. E não foi branda: "Pura e simplesmente, esse valor não existe."

A actual presidente da mesa do congresso do PSD mostrou-se contrária ao novo aumento de impostos e lembrou que as medidas tomadas pelo último Governo de que fez parte, chefiado por Durão Barroso, ditaram uma subida da carga fiscal porque "havia um processo de Bruxelas" [por défice excessivo] e, sobretudo, porque "o País perdia o acesso aos fundos comunitários". Ora, para Ferreira Leite, a situação não se repete.

Ataque ao betão.
De seguida, a antiga titular das Finanças passou ao ataque ao plano de inventimentos lançado pelo Executivo. Sugerindo que o Governo do PS deveria ter optado pela redução da despesa, Manuela Ferreira Leite classificou a adopção do TGV e a construção do novo aeroporto na Ota como "dois projectos absolutamente megalómanos". E passou a explicar O comboio "de altíssima velocidade não vai ser rentável. Para ser, teria de ter dez milhões de passageiros por ano, mas terá no máximo três milhões". O mesmo se passará com o novo aeroporto, que, lembrou, "irão ser os nossos filhos a pagar."

Estes investimentos estiveram sempre na mira da ex-ministra, a qual adiantou que "o betão já deu o que tinha a dar". Segundo Manuela Ferreira Leite, os milhares de postos de trabalho prometidos por Sócrates, alguns dos quais afectos a este plano de investimento, só irão beneficiar o emprego "de africanos e de ucranianos, não de portugueses". Num discurso que alguns dos presentes entenderam como de "autêntica liderança da oposição", concluiu "que o País precisa é de melhor qualidade de vida."


- DN

E mais nada.