quarta-feira, junho 08, 2005

Parlamento decidiu adiar revisão constitucional sobre o referendo

PS admite que consulta poderá não se realizar

Adiamento da consulta ganha força.


A Assembleia da República decidiu, ontem, aguardar o Conselho Europeu de 16 e 17 de Junho, antes de aprovar a revisão constitucional e de avançar com o processo de referendo e de discussão pública do Tratado Constitucional Europeu.

Na conferência de líderes, os partidos agendaram a votação da revisão constitucional – que permite um referendo sobre o tratado juntamente com as autárquicas - para 22 de Junho, propositadamente para depois do Conselho Europeu.

«Não se faz uma revisão constitucional inutilmente», justificou à Lusa o vice-presidente da bancada parlamentar do PS Vitalino Canas, admitindo, implicitamente, que a proposta de alteração da Lei Fundamental não seja aprovada se o Conselho Europeu (que reúne os chefes de Estado e de Governo da União) decidir parar o processo de ratificação do tratado.

«Esta alteração da Constituição está directamente ligada ao Tratado Constitucional Europeu e qualquer decisão que seja tomada sobre o documento tem de ter consequências na revisão constitucional», reforçou Vitalino Canas.

Também ontem, a Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus, presidida pelo deputado socialista e ex-comissário europeu António Vitorino, decidiu, «por prudência», suspender quaisquer iniciativas de discussão pública do tratado até ao Conselho Europeu de 16 e 17 de Junho.


...(Continua na edição impressa d' A Capital)

Esta estória já .

- Uma Revisão Constitucional Extraordinária feita em tempo recorde! 3 dias, e já está! Quando querem...

- Suspensão até "ordens em contrário" dos "srs.".

- "Suspender quaisquer iniciativas de discussão pública do tratado», como se de rebanho se trata-se. É o chamado: "come e cala".

E sem mais, que isto já nem dá vontade para mais, tal é a estupidez.

Dedicado ao zeloso Eurocrata Vitorino

TALENTO BUROCRÁTICO

Palavra que o Eusébio é um rapaz astuto;
não é um imbecil, como há alguém que o pense.
Tinha um ar de quem anda em busca do Absoluto
e andava era a cismar na manga do amanuense.

Mal vagou o lugar Foram dez cães a um osso,
e ele é que o abocou. Ora o comendador
(o tal que usa um grilhão pendente do pescoço)
influiu; mas o Eusébio inda operou melhor.

Foi aberto concurso, a bem da velha prática;
e o Eusébio (por si, sem ter quem o guiasse)
Fez no requerimento onze erros de gramática –
sete de ortografia e quatro de sintaxe.

Assim li num jornal. Os outros concorrentes,
sem um erro sequer, estavam muito abaixo:
o Eusébio apresentou asneiras convenientes
e foi ele, bem visto, o que alcançou despacho.

Ei-lo pois amanuense. Agora vai casar-se.
Comprou já chapéu alto e um valioso anel.
O pai gaba-o e diz: «É pena não formar-se!
Fazia-se dali um rico bacharel.»

É um moço prendado e é justo o seu alarde;
e então (e ele c que o diz) não tem sequer um vício...
Não há quem puxe um D como ele no Deus Guarde,
nem quem faça também mais erros num ofício.

Em contas, nem Falar; é mesmo prodigioso;
não conheço ninguém mais Forte na tabuada:
aquilo é segurinho, exacto, escrupuloso...
três vezes três são seis; dez, noves fora, nada.

Em suma, é um zeloso, um óptimo empregado.
Foi acertada a escolha; e só me desconsola
que ele não possa ser mais bem utilizado.
Que penal Uma aptidão que dava um mestre-escola.


- Garcia Monteiro