quarta-feira, janeiro 19, 2005

Sitting-Bull



O Chefe Índio Seattle - Sitting-Bull, escrevia há 150 anos atrás, a seguinte Carta ao Presidente dos EUA:

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra.

O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência.

Isto é gentil da sua parte, pois sabemos que não necessita da nossa amizade.

Nós, vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra.

O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano.

Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.

Como pode comprar-se ou vender-se o céu, o calor da terra?
Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água.
Como pode então comprá-los a nós?

Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo.
Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insectos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.

Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver.
Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita.
A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la, vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra dos seus filhos, nada respeita.
Esquece os antepassados e os direitos dos filhos.
A sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. As suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.

Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insectos.
Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos.
E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo nocturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite?
Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.

Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição:
o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisontes a apodrecer nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiro, disparados do combóio.
Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisonte, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida.
O que é o homem sem os animais?
Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afectar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.

Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota.
Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam o seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes.
Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos; um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.

De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha um dia a descobrir:
o nosso Deus é o mesmo Deus.
Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra.
Mas não pode.
Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco.
A terra é amada por Ele.
Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador.

O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças.
Continua a sujar a sua própria cama e há-de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejectos.
Depois de abatido o último bisonte e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem a gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões?
Terão acabado.
E as águias? Terão ido embora.
Restará dizer adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida, e o começo da luta pela sobrevivência.

Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos que esperanças transmite aos seus filhos nas longas noites de inverno, que visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã.
Mas nós somos selvagens.
Os sonhos do homem branco estão ocultos para nós.
E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração da sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos.
Protege-a como nós a protegíamos.
Nunca esqueças como era a terra quando dela tomas-te posse.
E com toda a tua força, o teu poder, e todo o teu coração, conserva-a para os teus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos.

Uma coisa sabemos:
o nosso Deus é o mesmo Deus.
Esta terra é querida d'Ele.
Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."