sábado, janeiro 08, 2005

Samakuva e Guebuza

Um é o líder da UNITA e o outro agora presidente de Moçambique. Enquanto Samakuva diz a verdade, Guebuza mente descaradamente passando as suas culpas (ou não fosse dirigente do partido que governa Moçambique desde a independência) para o velho monstro chamado colonialismo. Um reconhece que Angola andou para trás, o outro afirma com toda a lata que a Frelimo fez mais por Moçambique em 30 anos do que os portugueses em 500 anos. Um tem estofo de estadista e outro de mero bandoleiro.

Segundo Armando Guebuza, “a Frelimo construiu 10 ou 20 vezes mais infra-estruturas, como escolas e hospitais, do que Portugal construiu em 500 anos de colonialismo".

Basta ir a Moçambique, 30 anos depois da independência, para ver a desonestidade intelectual do actual presidente. Basta falar com o povo para ver que, afinal, Guebuza confunde o luxo em que vive (ou não fosse um “empresário” dos mais bem sucedidos) com a miséria dos moçambicanos. Basta ver para ter a certeza de que verdadeiramente importantes para o novo presidente são os poucos que têm milhões e não os milhões que têm pouco, ou nada.

Quanto a Isaías Samakuva, basta atentar nas suas palavras:

“Aqueles que como eu viram a noite colonial, concordarão comigo que o paraíso que na nossa imaginação de então seria o país Independente que sonhávamos, ainda continua longe do nosso alcance. Parece estarmos a andar para trás com ruas outrora limpas e secas hoje salpicadas de lixo e de lama à mistura; parece estarmos a recuar quando vemos a água que ontem chegava permanentemente às nossas casas ou ao nosso chafariz, hoje a correr pelas ruas quando não enche buracões e não faz lagoas, ajudando a multiplicação de mosquitos com todas as suas consequências”.

Embora em situações políticas diferentes, creio que nunca o presidente da UNITA diria barbaridades semelhantes às que tanta satisfação dão, perante a passividade dos governantes portugueses, ao presidente moçambicano.


- Lusófias
Por: Orlando Castro
orlando@orlandopressroom.com