Uma Questão Difícil
A conselho do amigo CAA, vou publicar um texto que enviei em "resposta" à questão suscitada, em Círculo mais intimista, pelo amigo AAA; e que em tudo tem a ver, com a "Queda".
A Queda, muitas vezes o esborroar de um Sonho.
"Ontem no Blasfémias o CAA colocava uma questão pertinente:
sobre a abstenção registada em 1998 ter sido predominantemente feminina.
E com razão.
Incomoda-me, angustia-me e até assusta-me esta questão.
Não sei se exagerarei ao dizer que o mesmo se passará com as outras mulheres.
Desculpem se eventualmente, enquanto homens, se sentem excluídos, não será o caso - lá iremos.
A Maternidade é um presente da natureza, de Deus. É tão profundo como o Oceano mais profundo, e mais íntimo e intimista que qualquer situação que a Vida possa colocar.
E o Aborto é o maior tormento e dificuldade que existe para contrariar tão belo presente.
Quando se debate a IVG, está a debater-se uma questão a 'milhares' de níveis diferentes, todas nuances de uma mesma questão; detalhes que dificilmente são conhecidos na sua totalidade.
Ao 'tentar-se' positivar - leia-se legislar, em relação a uma questão absoluta de consciência.
Duas posições, mais lineares (embora muitas outras derivadas possam ser 'cozinhadas', como é o caso da legislação actual), podem ser traçadas:
- A penalização.
- A despenalização.
Na primeira, a mulher que recorrer e praticar a IVG, sujeita-se a pena de prisão.
Na segunda, a mulher que recorrer e praticar a IVG, está isenta de qualquer sanção penal.
A sociedade que necessita de legislar determinados comportamentos (no caso de questões de consciência, em que cada indivíduo se deve auto-determinar) é uma sociedade em decadência, i.e., uma sociedade em que cada qual 'já não tem capacidade' para decidir por si, necessitando que o 'legislador' passe a decidir.
Apreciei imenso o texto que o Rui Albuquerque, então no Cataláxia, escreveu sobre o tema. Foi sem dúvida, uma análise profunda, introspectiva, e compassiva da questão. E resumiu com muita propriedade os efeitos.
É extraordinariamente difícil fazer juízos de valor sobre as decisões das outras mulheres. Cada qual tem de decidir por si a todo o tempo, e é-me difícil impor uma qualquer decisão.
Imagine-se uma lei que determina a liberalização. Não é por ser "legal" que uma mulher que recorre ao IVG, se sentirá menos culpada. Bem assim, como não se sentirá menos culpada, uma mulher que sem recorrer à IVG se sente separada da vida.
Em toda esta questão há, de facto, muita hipocrisia. Tanto por parte das mulheres, quanto (e, desculpem, muito mais) por parte dos homens. Embora possa chocar aquilo que a Sara Müller escreveu no Blasfémias, muito é a verdade. E muitas das senhoras que 'campanham' no "Pró-Vida", são aquelas senhoras que, com capacidade financeira, se deslocaram e/ou deslocam a Londres, e enviam as suas filhas, sobrinhas, etc, etc. E a seguir vão-se confessar.. Eventualmente vou chocar e até magoar, mas esta é a realidade.
Naturalmente que também há excelentes referências em que casais constróem uma vida em comum com igualmente excelentes bases de relacionamento, e com uma prole invulgarmente grande, feliz e com condições afectivas, emocionais, e materiais.
Infelizmente, estas são excepções.
Em relação aos homens, à sua intervenção e decisão nesta questão:
a mulher deve ouvir o seu companheiro, e idealmente, tomar as suas decisões em consenso. Mas, conforme podem compreender, se uma mulher decidir não ter um filho não existe homem que a impeça.
É sem sombra de dúvidas uma questão difícil, ética, de consciência.
A legislação que existe hoje, é suficiente, apenas não é aplicada.
Poderia dar milhares de exemplos contra , a favor, ou assim-assim.
Mas, no final, no final, restam as pessoas, as suas decisões, ou a ausência delas. Cujos efeitos sentiram pelo resto da vida.
E a consciência (isenta de quaisquer preciosíssimos religiosos) é o "pior carrasco".
Vai extenso o texto e, eventualmente espremido, não 'sai nada de concreto', apenas sentimentos.
Que é disso que esta questão, em essência, trata."
A Queda, muitas vezes o esborroar de um Sonho.
"Ontem no Blasfémias o CAA colocava uma questão pertinente:
sobre a abstenção registada em 1998 ter sido predominantemente feminina.
E com razão.
Incomoda-me, angustia-me e até assusta-me esta questão.
Não sei se exagerarei ao dizer que o mesmo se passará com as outras mulheres.
Desculpem se eventualmente, enquanto homens, se sentem excluídos, não será o caso - lá iremos.
A Maternidade é um presente da natureza, de Deus. É tão profundo como o Oceano mais profundo, e mais íntimo e intimista que qualquer situação que a Vida possa colocar.
E o Aborto é o maior tormento e dificuldade que existe para contrariar tão belo presente.
Quando se debate a IVG, está a debater-se uma questão a 'milhares' de níveis diferentes, todas nuances de uma mesma questão; detalhes que dificilmente são conhecidos na sua totalidade.
Ao 'tentar-se' positivar - leia-se legislar, em relação a uma questão absoluta de consciência.
Duas posições, mais lineares (embora muitas outras derivadas possam ser 'cozinhadas', como é o caso da legislação actual), podem ser traçadas:
- A penalização.
- A despenalização.
Na primeira, a mulher que recorrer e praticar a IVG, sujeita-se a pena de prisão.
Na segunda, a mulher que recorrer e praticar a IVG, está isenta de qualquer sanção penal.
A sociedade que necessita de legislar determinados comportamentos (no caso de questões de consciência, em que cada indivíduo se deve auto-determinar) é uma sociedade em decadência, i.e., uma sociedade em que cada qual 'já não tem capacidade' para decidir por si, necessitando que o 'legislador' passe a decidir.
Apreciei imenso o texto que o Rui Albuquerque, então no Cataláxia, escreveu sobre o tema. Foi sem dúvida, uma análise profunda, introspectiva, e compassiva da questão. E resumiu com muita propriedade os efeitos.
É extraordinariamente difícil fazer juízos de valor sobre as decisões das outras mulheres. Cada qual tem de decidir por si a todo o tempo, e é-me difícil impor uma qualquer decisão.
Imagine-se uma lei que determina a liberalização. Não é por ser "legal" que uma mulher que recorre ao IVG, se sentirá menos culpada. Bem assim, como não se sentirá menos culpada, uma mulher que sem recorrer à IVG se sente separada da vida.
Em toda esta questão há, de facto, muita hipocrisia. Tanto por parte das mulheres, quanto (e, desculpem, muito mais) por parte dos homens. Embora possa chocar aquilo que a Sara Müller escreveu no Blasfémias, muito é a verdade. E muitas das senhoras que 'campanham' no "Pró-Vida", são aquelas senhoras que, com capacidade financeira, se deslocaram e/ou deslocam a Londres, e enviam as suas filhas, sobrinhas, etc, etc. E a seguir vão-se confessar.. Eventualmente vou chocar e até magoar, mas esta é a realidade.
Naturalmente que também há excelentes referências em que casais constróem uma vida em comum com igualmente excelentes bases de relacionamento, e com uma prole invulgarmente grande, feliz e com condições afectivas, emocionais, e materiais.
Infelizmente, estas são excepções.
Em relação aos homens, à sua intervenção e decisão nesta questão:
a mulher deve ouvir o seu companheiro, e idealmente, tomar as suas decisões em consenso. Mas, conforme podem compreender, se uma mulher decidir não ter um filho não existe homem que a impeça.
É sem sombra de dúvidas uma questão difícil, ética, de consciência.
A legislação que existe hoje, é suficiente, apenas não é aplicada.
Poderia dar milhares de exemplos contra , a favor, ou assim-assim.
Mas, no final, no final, restam as pessoas, as suas decisões, ou a ausência delas. Cujos efeitos sentiram pelo resto da vida.
E a consciência (isenta de quaisquer preciosíssimos religiosos) é o "pior carrasco".
Vai extenso o texto e, eventualmente espremido, não 'sai nada de concreto', apenas sentimentos.
Que é disso que esta questão, em essência, trata."