sexta-feira, dezembro 05, 2003

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Obrigada CAA

Obrigada por partilhar o sentir; subscrevo a visão face ao PPD, depois PSD.

Foram necessários 23 anos para conseguir colocar em palavras aquela noite.

Os meus Pais estavam presentes no Coliseu do Porto, naquela noite. Na altura era o meu Pai autarca; e a grande admiração que todos nós nutriamos por Sá Carneiro era..
Lembro de correr para o televisor, cada vez que ouvia a voz de Sá Carneiro. Era pura admiração, não idolatria. Sá Carneiro não gostava de idolatria, era um Homem simples nessa sua percepção da vida. Considerava e aceitava a liberdade do Ser Humano, daí ser natural não aceitar a idolatria de qualquer espécie face à sua pessoa.
Nessa altura, após passar por duas revoluções, e embora menina (no início do liceu), tinha uma consciência política muito marcada, fruto das circunstâncias e da percepção pessoal dessas circunstâncias. Revia-me naquele Homem, cuja capacidade de estar na vida, fazia-me desejar que um dia pudesse, de alguma forma, corresponder 'àquele chamamento'.
Naquela noite, frente ao televisor, não foi só Sá Carneiro, e Adelino Amaro da Costa que 'morreram'.

No Coliseu do Porto, só por volta das 22h é que anunciaram que tinha havido um acidente. De início não revelaram o que tinha acontecido na realidade. Preparavam as pessoas para o choque. O Coliseu estava apinhado; mesmo antes de ser anunciado o ocorrido, as pessoas intuiram que algo não estava bem! Foi o Caos! As pessoas choravam, e à saída do Coliseu estavam os comunas à espera para gozarem.
Diziam que "havia Carneiro assado".
A porrada estalou, e nas ruas próximas ao Coliseu, foi ver que dava e recebia mais. Quem sai do Coliseu estava magoado, ferido, entorpecido, e ao deparar-se com aquela cena, passou à fúria. Só aquelas que não foram dadas se perderam.

A dor foi grande, nunca tinha visto o meu Pai chorar, nem sequer quando tinha sido sujeito às situações mais humilhantes que as guerras e revoluções podem trazer, resultando na perda de tudo o que tinha conquistado. Era a esperança que morria.

A 4 de Dezembro de cada ano volvido daí, há sempre uma lembrança.

Ao Homem que deu esperança, e que pela sua morte a levou com ele; mas também, que volvidos 23 anos, voltou a dá-la.