terça-feira, dezembro 30, 2008

País

Em que um Conselho de Ministro decide alienar um princípio fundamental de transparência das entidades públicas; o fartar vilanagem foi elevado a legalidade.

Em plena época de caça ao voto, não vão faltar rotundas e outros monos para o comprovar.
Nem tão pouco irá faltar dinheiro às campanhas eleitorais que se avizinham.
Tudo feito com o beneplácito ... republicano do Conselho de Ministros.

O Portugal político está entregue à bicharada.
A uma catrefa de esbulhadores, compadres e afilhados.
Nem uma vaga noção do ridículo resta a esta catrefa.

Triste País, triste Nação.

Para o ano, por Júpiter, isto mudará.

Vibra, clarim, cuja voz diz.
Que outrora ergueste o grito real
Por D. João, Mestre de Aviz,
E Portugal!


Vibra, grita aquele hausto fundo
Com que impeliste, como um remo,
Em El-Rei D. João Segundo
O Império extremo!

Vibra, sem lei ou com lei,
Como aclamaste outrora em vão
O morto que hoje é vivo — El-Rei
D. Sebastião!

Vibra chamando, e aqui convoca
O inteiro exército fadado
Cuja extensão os pólos toca
Do mundo dado!

Aquele exército que é feito
Do quanto em Portugal é o mundo
E enche este mundo vasto e estreito
De ser profundo.

Para a obra que há que prometer
Ao nosso esforço alado em si,
Convoco todos sem saber
(É a Hora!) aqui!

Os que, soldados da alta glória,
Deram batalhas com um nome,
E de cuia alma a voz da história
Tem sede e fome.

E os que, pequenos e mesquinhos,
No ver e crer da externa sorte,
Convoco todos sem saber
Com vida e morte.

Sim, estes, os plebeus do Império;
Heróis sem ter para quem o ser,
Chama-os aqui, ó som etéreo
Que vibra a arder!

E, se o futuro é já presente
Na visão de quem sabe ver,
Convoca aqui eternamente
Os que hão de ser!

Todos, todos! A hora passa,
O gênio colhe-a quando vai.
Vibra! Forma outra e a mesma raça
Da que se esvai.

(...)


- Fernando Pessoa