sexta-feira, outubro 17, 2008

O Huguinho e o Zézinho

MAIS VALE CAIR EM GRAÇA DO QUE SER ENGRAÇADO
Em Portugal temos uma versão interna do Magalhães e temos também uma versão europeia de Hugo Chavez. Explico-me.

José Sócrates já conseguiu embrulhar-se numa equívoca licenciatura, descobrir-se projectista misterioso de casas pimba, ter ministros em fuga do seu Governo, e, agora, qual cereja em cima do bolo, entregar uma pen no Parlamento sem o Orçamento lá dentro. Isto em pleno Governo-chip, MIT, Plano Tecnológico, SIMPLEX’s, PRACES, MODERNEX’s, muita I&D, power points e cigarros a bordo quanto baste.

Artista português com certeza, Sócrates logrou inclusivamente e sem queimar nenhum ministro com declarações ingénuas, perante umas meras notícias meio envergonhadas na comunicação social e uma estranha apatia do próprio, reduzir o tempo de duração da palestra dominical do inconveniente Marcelo rebelo de Sousa.

A coordenação das polícias todas já mora na residência oficial do Primeiro-Ministro e Hugo José faz comícios contra os capitalistas e as bolsas, para animar plateias partidárias, antes de pôr a gravata para mais uma reunião em Bruxelas com Barroso e Sarkozy.

Evidentemente que os manuais classificam este tipo de político como o político credível. Os jornais, com mais ou menos ranger de dentes, aturam o estilo.

Agora, imaginem que onde escrevi José Sócrates escrevia Pedro Santana Lopes. O artigo mudaria exactamente neste ponto e passaria a ser assim: o que espera o Presidente para correr com ele? O país não aguenta tanta trapalhada. Não somos nada por aí além, mas merecemos um bocadinho melhor e por aí fora. Sinceramente, levar uma pen vazia ao Parlamento e deixar os mapas em casa? E não acontece nada? Já chega, estamos fartos, não aguentamos mais. Pedir desculpa? Pedir desculpa não chega. É preciso evitar as desculpas, não pedi-las. Precisamos de descanso. Vamos manifestar-nos, pedir, requerer, implorar pela demissão do Governo e novas eleições.
Não chega. Não estamos fartos. E, claro, aguentamos tudo. Aguentámos os espanhóis durante sessenta anos. Aguentamos o Carlos Queiroz na selecção. Aguentamos Gilberto Madail na Federação. Aguentamos tudo. Por que não haveríamos de aguentar Hugo José?

Preparem-se. Vem aí mais, tudo indica. E, agora sim, habituem-se. É que mais vale cair em graça do que ser engraçado.
- Jorge Ferreira, Tomar Partido