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Mais que o homem feliz! Quando eu no vale
Dos túmulos cair; quando uma pedra
Os ossos me esconder, se me for dada,
Não mais reviverei; não mais meus olhos
Verão, ao pôr-se, o Sol em dia estivo,
Se em turbilhões de púrpura, que ondeiam
Pelo extremo dos céus sobre o ocidente.
Vai provar que um Deus há o estranhos povos
E além das ondas trémulo sumir-se;
Nem, quando, lá do cimo das montanhas,
Com torrentes de luz inunda as veigas:
Não mais verei o refulgir da Lua
No irrequieto mar, na paz da noite,
Por horas em que vela o criminoso,
A quem íntima voz rouba o sossego.
E em que o justo descansa, ou, solitário,
Ergue ao Senhor um hino harmonioso.
- Alexandre Herculano, A Harpa do Crente, VII