sexta-feira, agosto 12, 2005

Os colos da Revolução

O 'DIÁRIO DE NOTíCIAS' HÁ 30 ANOS

Uma carta, um pedido e uma acusação.
Estes são os "três documentos sobre a crise política" que fazem manchete no DN de há precisamente 30 anos.
Estão publicados na íntegra, tal qual foram concebidos pelos seus autores.
"Será que ainda temos tantas disponibilidades dentro do MFA que nos possamos dar ao luxo de o dividir neste momento metendo no seu seio uma 'cunha' chamada Melo Antunes", interroga o general Pinto Soares, membro do Conselho da Revolução, na missiva que abre a edição do jornal. O segundo documento é um pedido dirigido ao chefe do Estado para que faça um "inquérito ao envolvimento de Vasco Lourenço e de outros oficiais nas manobras do Partido Socialista contra a figura de Vasco Gonçalves e negando a representatividade dos órgãos estruturais do MFA".
Finalmente, a acusação da 5.ª Divisão do EMGFA (Estado- -Maior-General das Forças Armadas) "o Grupo dos Nove recusou--se a respeitar a organização democrática do Movimento das Forças Armadas para superação das naturais divergências de ordem ideológica."
Isto enquanto surge a indicação de que a direita francesa apoia o documento Melo Antunes e que o "povo vietnamiano está solidário com as forças progressistas".

O Documento dos Nove continua, assim, a marcar a actualidade revolucionária, com o DN a dar destaque aos que condenam a actuação dos militares apoiantes de Melo Antunes.
Essa posição é, aliás, sublinhada num dos Apontamentos, a coluna que supostamente transmitia a opinião do jornal e que, nesse dia, tinha por título, O Fascismo ao Colo "Não é ao ELP nem aos golpistas do 28 de Setembro e do 11 de Março que acusamos de trazerem o fascismo ao colo: esses trazem-no no ódio. Quem consciente ou inconscientemente traz o fascismo ao colo, ou nos sorrisos, ou nas proclamações, ou nos manifestos, ou nos discursos, são aqueles que contraíram os mais graves deveres para com a Revolução e a traem ao abandoná-la."

A tensão nas colónias aumenta. Sobretudo em Angola. Com os combates a intensificarem-se, o MPLA admite a "eventual proclamação unilateral da independência. E, em Belém, o presidente da República e o primeiro-ministro reúnem a Comissão de Descolonização para discutir o evoluir dos acontecimentos. Entretanto vão chegando à Portela os primeiros retornados de Angola. É a imagem da primeira página no DN de 12 de Agosto de 75, a merecer um comentário que não economiza na adjectivação "Para esta família angolana acabada de chegar ao Aeroporto da Portela, terminaram as desesperadas horas passadas em Nova Lisboa, aguardando o início da ponte aérea, enquanto a cidade era sacudida por violentos combates. Mas não findaram os momentos de angústia - sem vislumbrar qual será o seu futuro, despojados dos seus haveres, os deslocados de Angola são bem a imagem do drama pungente que é este êxodo sem par na história de África."

Da colónia mais longínqua chegam também notícias de um "provável golpe reaccionário encabeçado pela UDT", mas o Palácio de Belém desmente um eventual golpe de Estado em Timor. Foi no dia em que Mário Soares declarou à agência espanhola Pyresa "Não é Marx mas Lenine que nos separa do PCP."

- DN

Excelente série de artigos que o DN tem estado a publicar; pena é que seja durante o mês de Agosto, altura em que Portugal está a banhos, e que, por tal, quase ninguém lê.

Sugere-se que retomem a questão a bold.