sexta-feira, abril 23, 2004

Mercenários (II)*

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ACTIVIDADE DAS EMPRESAS MILITARES E DE SEGURANÇA
Actividade de Apoio Operacional Private Military Companies (PMC)

1. Combate: Prover suporte ou participa de operações militares governamentais.
- Sandline International; Reino Unido.
- Executive Outcomes (Pty), Ltd.- EO (extinta); África do Sul.
- The Jedburgh Group; Florida, EUA
- Lubrinco Group, Ltd.; Pennsylvania, EUA

1. Treino militar & Assistência: Fornecer treino a forças militares estatais, incluindo forças especiais e grupos de elite, abrange a utilização de armas, tácticas e estrutura de força.

2. Aquisição: Compra directa ou consultoria.

3. Análise Militar: Avaliação e estimativa de ameaças para os governos.
- Defence Systems, Ltd. (DSL)
- Military Professional Resources, Inc. - MPRI; Alexandria, VA, EUA
- Saladin Security, Ltd. uma subsidiaria daKMS); London, Reino Unido
- Control Risks Group (uma subsidiaria da Hogg Robinson Insurance, e Network Holdings, Ltd.); Reino Unido
- Vinnell Corp. (uma subsidiaria daTRW & BDM International); Fairfax, VA, EUA
- BDM International (aka) Braddock, Dunn and McDonald Inc.; McLean, VA, EUA
- Sandline International; Reino Unido
- Executive Outcomes Ltd. - EO (extinta); África do Sul
- Strategic Applications International Corp - SAIC
- Levdan
- Rapport Research and Analysis
- Lonrho

1. Logística: Inclui entrega de equipamentos, protecção humanitária, participação em operações de paz da ONU.

2. Resolução pós-conflito: Reestabelecimento das infraestruturas públicas e limpeza de minas terrestres..
- Defence Systems Ltd. - DSL
- Brown and Root; Houston, TX, EUA
- Pacific Architects and Engineers - PAE
- DynCorp (pilotos); Reston, VA, EUA
- Saracen
- Saladin Security, Ltd.; Reino Unido

1. Protecção e Segurança Comercial: Protecção de instalações e funcionários.

2. Análise de Riscos: Avaliação da insegurança e instabilidade das áreas de interesse para o cliente, tendo em conta investimentos e operações futuras.
- Kroll Associates, Inc. - O'Gara Protective Services; New York, EUA
- Saladin Security, Ltd.; Reino Unido
- KMS (parte da Saladin Security, Ltd.)
- Defence Systems Ltd. - DSL
- Control Risks Group - CRG
- Rapport Research and Analysis
- Group 4
- Sandline International
- Rapport Research and Analysis
- LifeGuard Management
- Corps of Commissionaires

1. Inteligência Privada/Correctores de Informações: Investigação e obtenção de inteligência contra crimes praticados contra empresas como: extorsão, fraude, contaminação de produtos, entre outros. As operações de inteligência envolvem a análise de potenciais clientes, possíveis sócios e análise da interferência política nas actividades comerciais.

2. Resposta a Seqüestros: Negociação e aconselhamento em situações de reféns.
- Kroll Associates, Inc.
- Saladin Security, Ltd.
- Control Risks Group - CRG
- Network Security Management
- Argen
- Carratu International
- Asmara
- Executive Outcomes (Pty) Ltd. - EO (extinta); [África do Sul
- Neil Young Associates
- Oxford Analytica
- Economist Intelligence Unit
- Interfor

Existem também, claro está, diversas diferenças na estrutura das PMCs. Algumas são capazes de operar em vários países ao mesmo tempo, cumprindo contratos bilionários com governos e multinacionais, como a MPRI, a Sandline e a DSL, outras empresas apenas se autodenominam PMCs, mas na realidade são pequenas empresas mercenárias de fachada que só existem durante a sua missão como a Stabilco, Secrets, Security Advisory Services Ltd, e a Special Projects Services Ltd.

Um coisa que muitos esquecem, é que as PMCs, não são capazes de levar a cabo qualquer tarefa. Mesmo para as grandes, seria difícil manter mais de um regimento de "contratados" em acção, em vários locais. As PMCs também se classificam conforme a sua actuação em: empresas activas (fornecem treino, armas, equipamentos e combatem) e as passivas (normalmente fornecem treino e consultoria, e não combatem).

As PMCs multinacionais, sediadas no designado 'mundo civilizado', prestam serviços comerciais e dizem seguir o modelo militarizado dos "capacetes azuis" da Organização das Nações Unidas (ONU). Essas multinacionais contam nos seus quadros com generais reformados, plenos de experiências adquiridas em diferentes campos de batalha e carregados de medalhas por bravura.

Não fossem as formalidades e as cláusulas dos pactos sociais de constituição – que lhes fornecem personalidade jurídica –, poderiam ser confundidas e passar por associações hierarquizadas de mercenários. Ingenuidade à parte, as PMCs também assumem a condição de longa manus da CIA norte-americana ou do MI6 britânico.

Em regra, as PMCs são contratadas para treinar tropas de países pobres ou em vias de desenvolvimento – marcados por reais ou potenciais conflitos internos; protegem a vida de líderes governamentais, dão segurança a empresas multinacionais, aos seus funcionários e às suas instalações, e até prestam serviços para ao corpo diplomático de determinados países. Caso seja necessário, entram em combate sem a menor cerimônia. Matam e morrem, não por uma causa, mas por dinheiro, isso é claro.

As PMCs são muito requisitadas por grupos económicos, que detém actividades de extração extremamentes lucrativas no Terceiro Mundo. Os mencionados grupos económicos sentem a necessidade de proteger a posse das suas áreas e os seus prepostos, esses, na condição de estrangeiros residentes . Nesta situação, por exemplo, encontram-se os representantes de cerca de 600 empresas que, desde o tempo da colonização francesa, exploram grandes herdades de cacau na Costa do Marfim.

Pode-se afirmar ainda que as PMCs já viraram moda em África e na Ásia, e isso quando ficam na mira de pessoas que necessitam de ser mantidas vivas, pois são fundamentais no arranque ou manutenção de negócios e interesses geopolíticos.
Para se ter uma idéia, até o corpo de funcionários e de voluntários da Unicef, enviados ao Afeganistão e ao Paquistão, viram a sua segurança garantida pelas PMC. Num caso, pela britânica L'Armor Group e pela americana Armor Holdings, e durante os conflitos envolvendo norte-americanos, os talibãs, o líder e os membros da Al-Qaeda.

Coube à Vinnell Corporation Fairfax, com sede na Virgínia, constituir e treinar a Guarda Nacional da Arábia Saudita, incumbida de garantir a segurança do soberano doente, de parte da sua família real e de alguns dos sucessores de 'sangue azul'.

Formada por oficiais militares que ocuparam postos de importância no Pentágono e actualmente na reserva, a Military Professional Ressources Inc (MPRI) constituiu, treinou e acompanhou grupos armados que lutaram ao lado dos separatistas na ex-Jugoslávia.

A mencionada MPRI já criou grupos de combatentes para acções no Kuwait, na Colômbia, na Guiné Equatorial e na Nigéria, isto depois da morte do ditador-general Sani Abacha. Na Costa do Marfim, as PMCs contratadas e os seus homens, fortemente armados, protegem as empresas que exploram as fazendas de cacau (primeiro país produtor a nível mundial), algodão e café (sexto produtor). Evitam invasões e repelem ataques promovidos por grupos étnicos em conflito e por mercenários liberianos, sul-africanos, israelitas, tchecos, bielo-russos, búlgaros e ucrânianos.

Na Colômbia, a British Petroleum - BP contratou os serviços de segurança da DSL-Defense Systems Limited (empresa britânica) para fornecer, através da sua subsidiária DSC-Defence Systems Colombia, segurança às suas instalações e ao seu pessoal instalado no local. A DSC treinou e equipou um batalhão da polícia para realizar tal tarefa. A DSL já forneceu treino em operações anti-insurgência, às forças da segurança do Sri Lanka, Papua Nova Guiné, Angola e Moçambique.

Na Libéria, as plantações de borracha da Firestone são guardadas por um pequeno exército privado.
Em Angola, outra empresa americana, a Airscan, foi contratada pela Chevron para proteger as instalações petrolíferas de Cabinda. Esta empresa vigia a totalidade do enclave com (os seus) aviões Cessna-337 apetrechados com os mais sofisticados sistemas eletrónicos de detecção militares, os mesmos que utiliza, nos EUA, para proteger as bases de mísseis e outras instalações militares "sensíveis" por conta da Força Aérea americana (o seu cliente principal).

Em Angola, trabalha para o Governo, uma força de cerca de 150 sul-africanos, liderada pelo ex-coronel Lafras Luitingh, um veterano da unidade da Executive Outcomes que ajudou a retomar à UNITA grande parte do território nacional, durante a ofensiva governamental de 1994. Sabe-se que os sul-africanos têm estado a pilotar diversos aviões do MPLA, incluindo um avião civil preparado para vigilância e recolha eletrónica de dados, bem como diversos aviões L39 de ataque a alvos terrestres, de origem checa.
A Empresa britânica Lonrho empregou nos anos 80 vários ex-Gurkhas britânicos para protegerem os seus recursos e operações em Moçambique, durante a guerra civil.

Dentro da Lei (?)

Na verdade a maioria dos negócios das PMCs são obscuros e não se fala explicitamente em valores, serviços e clientes. Muitas dessas empresas, contudo, podem ser encontradas em 'vistosos' sites na internet.
Desnecessário será de dizer, que é rara a menção de termos como ''guerra'' e ''combate'', substituídos por expressões como ''transição para a democracia'' e outras similares. O sigilo é grande mesmo entre as empresas que admitem publicamente que efectuam ''operações especiais'', como a inglesa Sandline.

Numa entrevista, um dos directores da Sandline, negou-se a informar os locais onde a empresa actuou em 2003. ''Os nossos contratos são elaborados com base em sigilo com os governos que são nossos clientes. Tudo o que posso dizer é que actualmente trabalhamos em dois continentes'', "a selecção dos clientes é rigorosa". ''Trabalhamos apenas para governos legítimos e eleitos democraticamente.'' Esclareceu que a sua empresa não trabalha contra interesses do governo inglês ''e, em última instância, contra nenhum governo'', repetindo o coro de outras empresas contatadas. Uma advertência do governo inglês desencorajou que a empresa a prestar 'ajuda' a rebeldes de Kosovo.

Muitas das vezes estabelecem as suas próprias regras. ''As empresas maiores tendem a ser mais éticas, mas há outras - e muitos indivíduos - que desafiam a lei'', explica o cientista político Doug Brooks, do Instituto Sul-Africano de Assuntos Exteriores, um especialista em PMCs. As empresas mais pequenas ocupam-se de tarefas como limpeza de campos minados e segurança de instalações industriais, por outro lado a sua menor visibilidade exime-as de compromissos humanitários que impediriam empresas maiores de aceitar certos trabalhos.

Substituindo os capacetes azuis

O caso da Serra Leoa mostra como os novos mercenários podem ser úteis à paz. O país atravessava uma guerra sangrenta desde o início da década de 90.
A determinado momento, foi ponderado requerer a intervenção da ONU para conter a onda de crimes bárbaros perpetrados pelos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU).

Em 1995, o governo contratou um batalhão de 300 homens da empresa sul-africana Executive Outcomes para acabar com o conflito. Por cerca de US$ 2 milhões mensais e trabalhando com o Exército local, a PMC pacificou o país em pouco mais de um ano. Realizaram-se as primeiras eleições democráticas em décadas, enquanto os rebeldes ficaram circunscritos a uma parte isolada do país. A semanas de uma provável vitória final, a Executive Outcomes foi convidada a deixar o país, em parte devido à pressão internacional. Com a saída da EO os combates voltaram e foram contabilizados milhares de mortos no novo conflito.

Tropas africanas, ao serviço da ONU, foram enviadas depois e não fosse a intervenção do Exército inglês, com a colaboração de mercenários, a situação na Serra Leoa não seria controlada.

O episódio mostra falhas no modelo das acções de paz da ONU. Não há uma força constantemente mobilizada, mobilizável e eficiente. Cada vez que um contigente de paz é necessário a burocracia, referente aos pedidos de intervenção, entre o organismo e os vários países do mundo retarda o desembarque, muitas vezes com conseqüências trágicas.

''As PMCs são mais baratas e eficientes. O simples facto de conseguirem cumprir as missões de paz já justifica a sua utilização'', garante Brooks. O especialista, contudo, defende que a ONU deve manter o seu ''papel político'' na resolução de conflitos. Uma acção conjunta, afirma, poderia evitar novos genocídios como o do Ruanda, em 1994.

De acordo com dados apurados, a Executive Outcomes chegou a ser sondada pela ONU para resolver o problema do Ruanda. Segundo uma análise efectuada pela dita empresa, poderia preparar uma operação em duas semanas e por fim ao genocídio em seis. O massacre estendeu-se por dois meses, fazendo um milhão de mortos e 2,3 milhões de refugiados.

* Por comodismo, tentando poupar 'trabalho', acabei por publicar o 2º texto no 'local' do 1º. Está corrigido.