Impropério de Nicolau Santos
Apenas perguntas
Eduardo Ferro Rodrigues será tudo o que quiserem por inveja ou negação. Não terá jeito para líder. Os fatos que usa nunca lhe ficam bem. Os seus discursos não entusiasmam. No que toca a aparência, está nos antípodas de um Harrison Ford. Não consegue evitar que os barões socialistas já lhe rosnem às canelas.
Tudo isso será verdade. Mas a questão, a grande questão é: alguém vê Eduardo Ferro Rodrigues como pedófilo? Ou como espectador de actos pedófilos? Ou como conivente com actos pedófilos? Ou como encobridor de actos pedófilos?
Não, definitivamente não, mil vezes não. Ferro Rodrigues será tudo o que quiserem por inveja ou negação. Mas pedófilo, pedófilo não.
Estamos, claro, no domínio dos sentimentos e a Justiça não funciona assim. Acreditamos nós. Ou melhor, gostaríamos de acreditar que é cega, julga do mesmo modo ricos e pobres, é imparcial e isenta. Mas o que dizer do acto do juiz Rui Teixeira, que se serviu de um artifício legal para impedir que Paulo Pedroso visse apreciado por outros juízes o recurso sobre os fundamentos da sua prisão? Ou dos três juízes da Relação que, com base na letra e não no espírito da lei, lavaram logo daí as mãos, para não apreciar o recurso e não terem problemas, sem se importar que com essa decisão estabeleceram, na prática, que um detido pode ficar eternamente preso por um juiz sem poder recorrer da sentença? Ou do presidente da Associação Sindical de Juízes, que, como muito bem notava Miguel Sousa Tavares, veio defender a decisão dos seus colegas, como se estivesse em causa não uma questão de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos mas um problema sindical?
Esta mistura de corporativismo, de cobertura de erros e de laxismo, de odiozinho rasteiro aos políticos (consta que em altas instâncias judiciais há quem se ufane pelos corredores de que «o Pedroso já cá canta e o Ferrinho também não escapa»...), a que se junta um procurador que diz o que não deve e desdiz-se do que não devia ter dito, um juiz que quer condenar ainda na fase de instrução e manda escutar as conversas telefónicas de quem tem e quem não tem a ver com o processo, investigadores que deixam sair para a imprensa o que lhes convém, jornalistas justiceiros e ex-casapianos com sede de vingança contra o mundo em geral - já criou um monstruoso processo kafkiano em que quem está preso não sabe exactamente em que razões muito objectivas se fundamenta a sua prisão e quem está solto é confrontado com uma teia diária de factos soltos, insinuações, acusações anónimas, que conduzem, todas, a criar na opinião pública a ideia de que também deveria estar preso.
A forma como o processo da Casa Pia está a ser conduzido vai levar, em última instância, à sua descredibilização e a deixar de fora, porventura, alguns dos principais responsáveis.
E está a conduzir a uma perigosa situação política. A maioria pensará que lhe convém um líder da oposição fraco e refém do processo até às eleições de 2006. É um erro. As democracias só são fortes com governo e oposição fortes.
A alternativa é o surgimento de movimentos populistas, que odeiam os políticos em geral. E, nessa altura, a própria maioria sofrerá as consequências.
- Expresso, 28 Julho 2003
Uma aberração do intelecto. Não carece de comentários.
Eduardo Ferro Rodrigues será tudo o que quiserem por inveja ou negação. Não terá jeito para líder. Os fatos que usa nunca lhe ficam bem. Os seus discursos não entusiasmam. No que toca a aparência, está nos antípodas de um Harrison Ford. Não consegue evitar que os barões socialistas já lhe rosnem às canelas.
Tudo isso será verdade. Mas a questão, a grande questão é: alguém vê Eduardo Ferro Rodrigues como pedófilo? Ou como espectador de actos pedófilos? Ou como conivente com actos pedófilos? Ou como encobridor de actos pedófilos?
Não, definitivamente não, mil vezes não. Ferro Rodrigues será tudo o que quiserem por inveja ou negação. Mas pedófilo, pedófilo não.
Estamos, claro, no domínio dos sentimentos e a Justiça não funciona assim. Acreditamos nós. Ou melhor, gostaríamos de acreditar que é cega, julga do mesmo modo ricos e pobres, é imparcial e isenta. Mas o que dizer do acto do juiz Rui Teixeira, que se serviu de um artifício legal para impedir que Paulo Pedroso visse apreciado por outros juízes o recurso sobre os fundamentos da sua prisão? Ou dos três juízes da Relação que, com base na letra e não no espírito da lei, lavaram logo daí as mãos, para não apreciar o recurso e não terem problemas, sem se importar que com essa decisão estabeleceram, na prática, que um detido pode ficar eternamente preso por um juiz sem poder recorrer da sentença? Ou do presidente da Associação Sindical de Juízes, que, como muito bem notava Miguel Sousa Tavares, veio defender a decisão dos seus colegas, como se estivesse em causa não uma questão de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos mas um problema sindical?
Esta mistura de corporativismo, de cobertura de erros e de laxismo, de odiozinho rasteiro aos políticos (consta que em altas instâncias judiciais há quem se ufane pelos corredores de que «o Pedroso já cá canta e o Ferrinho também não escapa»...), a que se junta um procurador que diz o que não deve e desdiz-se do que não devia ter dito, um juiz que quer condenar ainda na fase de instrução e manda escutar as conversas telefónicas de quem tem e quem não tem a ver com o processo, investigadores que deixam sair para a imprensa o que lhes convém, jornalistas justiceiros e ex-casapianos com sede de vingança contra o mundo em geral - já criou um monstruoso processo kafkiano em que quem está preso não sabe exactamente em que razões muito objectivas se fundamenta a sua prisão e quem está solto é confrontado com uma teia diária de factos soltos, insinuações, acusações anónimas, que conduzem, todas, a criar na opinião pública a ideia de que também deveria estar preso.
A forma como o processo da Casa Pia está a ser conduzido vai levar, em última instância, à sua descredibilização e a deixar de fora, porventura, alguns dos principais responsáveis.
E está a conduzir a uma perigosa situação política. A maioria pensará que lhe convém um líder da oposição fraco e refém do processo até às eleições de 2006. É um erro. As democracias só são fortes com governo e oposição fortes.
A alternativa é o surgimento de movimentos populistas, que odeiam os políticos em geral. E, nessa altura, a própria maioria sofrerá as consequências.
- Expresso, 28 Julho 2003
Uma aberração do intelecto. Não carece de comentários.