domingo, julho 27, 2008

Pois é ...

... há quem nem isso tenha

Ou seja, uma larga maioria (que engrossa a cada dia), tendo em conta que ainda têm de pagar as contas mensais e prover à descendência!!

Quem vive com 10 euros por dia.
Contar os trocos e chegar ao fim do dia de bolsos vazios

Não foi necessário passar fome, nem endividar-me para garantir comida na mesa, mas durante duas semanas alterei todas as rotinas para evitar derrapagens nas minhas contas domésticas. Introduzi mudanças nos hábitos alimentares, abdiquei de cinema e de noites de copos, racionei café e tabaco e, mesmo assim, tive de esticar os trocos para chegar ao fim de cada dia com quase nada

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Viver com 10 euros por dia é tão fácil como fazer contas de cabeça. Basta subtrair todos os caprichos e manter as necessidades básicas. O que tem isso de extraordinário? Afinal, se há quase um milhão de portugueses a fazer o mesmo, porque é que também eu não conseguiria? Para os que já estão irritados com esta conversa de mulher de classe média, há sempre o consolo de saber que o meu optimismo desmoronou-se ao fim de alguns dias e, duas semanas mais tarde, transformou-se num caso psiquiátrico de angústia.

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Valeram-me dois grandes trunfos para todo este esforço não resultar num enorme fracasso: fui todos os dias a pé da Rua Passos Manuel até ao edifício do Diário de Notícias, na Avenida da Liberdade (Lisboa) e, por isso, não dependi de transportes públicos para me deslocar à redacção. Nem sequer precisei de incluir as contas da água, luz, telemóvel e renda de casa, pois, felizmente, as despesas fixas não foram incluídas neste desafio. No meu caso, garantir a alimentação foi o suficiente para cumprir os objectivos desta missão. Caso contrário, teria de desistir mesmo antes de começar.

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Provavelmente terá sido também a ausência de nicotina e de cafeína que contribuiu para obscurecer o meu estado de espírito. Se tivesse de vestir por mais alguns meses a pele de quem vive com 10 euros, estaria em breve a tomar um antidepressivo para aguentar a rotina. Ou talvez não. Só depois de saber qual a comparticipação do Estado nos medicamentos é que teria de decidir se podia ou não engolir um comprimido antes de adormecer.