domingo, julho 27, 2008

A culpa é toda do Paulo Macedo

Uma deliciosa crónica de Jorge Fiel no DN

Alguns trechos:

Nunca fui muito de doces. A minha perdição são os queijos e os presuntos, mas
tenho-me forçado a disciplinar o seu consumo.

Um S. Jorge picante, um Manchego muito curado e um Parmesão apimentado constituem a base da minha tábua de queijos. Guardo o Serra para o Natal. É o mais maravilhoso dos queijos, mas cada colherada equivale a um chuto de colesterol administrado directamente na veia. E só compro Roquefort quando me oferecem uma botelha de vinho que precisa dele como companhia.
(...)

Os pecados do queijo e do presunto já teriam atirado para patamares preocupantes
os meus níveis de colesterol, se não se desse o caso de eu tomar diariamente um
comprimido de pravastatina.

Reconheço que este regime de tomar o antídoto a seguir a ingerir o veneno não é o mais recomendável.
(...)

Quando tomou posse, este Governo tinha em cima da mesa o problema sério do défice excessivo. O Estado gastava mais dinheiro do que o que recebia - para além dos 3% da tolerância máxima que Bruxelas fixou para quem quer fazer parte do clube euro.

Sob a batuta de Ferreira Leite, a gerência anterior foi contornando ardilosamente a questão. Compunha as contas vendendo activos.
Bruxelas fechava os olhos, mas era batota e não se tratava de uma solução de futuro porque, mais tarde ou mais cedo, a família deixaria de ter jóias para vender.

A solução de Sócrates é mais engenhosa. Tinha duas alternativas:
cortar na despesa ou aumentar as receitas. Apostou nesta última e ganhou. A máquina de cobrança fiscal, dirigida por Paulo Macedo, extorquiu aos contribuintes o dinheiro necessário para trazer o défice abaixo dos 3% e assim o Estado pôde continuar a gastar como dantes.

O aumento extraordinário da receitas dos impostos foi a pravastatina de um Estado gordo que se mantém anafado, a comer queijo, presunto e salpicão.

O problema é que não se pode tirar sangue das pedras e os contribuintes estão exangues. O regime de terror fiscal já rapou o fundo do tacho. Agora o Estado tem de começar a fazer dieta - a gastar menos. Já o devia ter começado a fazer há muitos anos . E se não o fez a culpa foi da eficácia do Paulo Macedo.