segunda-feira, novembro 20, 2006

PPD-PSD ao rubro

Menezes censura Marques Mendes em defesa de Cavaco

No Brasil, líder do PSD rectificou discurso, afirmou que "o PSD faz o seu caminho autónomo" e voltou a atacar o Executivo de Sócrates

Luís Filipe Menezes colocou-se ontem ao lado do Presidente da República, censurando duramente as críticas, ainda que indirectas, do líder do PSD aos elogios que Cavaco Silva deixou, na entrevista à SIC, quanto ao rumo da economia e ao "espírito reformista" do Governo socialista de José Sócrates.
"O senhor Presidente da República tem a obrigação de ser o Presidente de todos os portugueses e de o afirmar de acordo com a sua consciência e, em meu entender, é o que está a fazer, e bem. O PSD tem a obrigação de fazer oposição e está a fazê-lo mal", declarou Menezes ao PÚBLICO, considerando que a circunstância de as posições de Cavaco Silva não coincidirem com as do seu partido "não constitui drama nenhum, nem é caso para o criticar".
O ataque de Menezes surge um dia depois de Marques Mendes, que está de visita ao Brasil, ter escolhido um jantar com membros da comunidade portuguesa em São Paulo para responder, ainda que indirectamente, às declarações de Cavaco Silva, contestando-as. Onde o Presidente da República viu reformas que vão na direcção certa, o líder do PSD não vê mais do que "coragem retórica". "Não chega falar de reformas, é preciso fazê-las", disse Marques Mendes, sublinhando que "hoje, infelizmente, Portugal não tem o espírito reformista que podia e devia ter".

Mendes não comenta críticas internas

Marques Mendes voltou ontem ao tema, mas corrigiu o tiro. "O PSD fez o seu caminho sempre autónomo", afirmou, realçando que "o Presidente da República cumpre a sua missão e a sua agenda". E voltou a fustigar o Executivo de José Sócrates: "O caminho [do Governo] é errado e acho que tenho um caminho diferente."
Recusando-se a comentar as críticas internas, nomeadamente as de Menezes, que repreendeu o líder por discutir política interna no Brasil, Mendes reagiu apenas às acusações do ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, que ontem afirmou que o presidente do PSD estava a contribuir para denegrir a imagem de Portugal no estrangeiro. "É um ministro que já se especializou em faltas de educação", retorquiu Mendes.
Foi para a separação das águas entre o exercício do mandato presidencial e o espaço do PSD que, também ontem, Paula Teixeira da Cruz, ex-vice da direcção de Mendes, chamou a atenção. Numa entrevista ao Diário de Notícias, a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa declarou: "O professor Cavaco Silva está a fazer aquilo que tem que fazer. Não há nenhuma limitação do papel do PSD." E avisou ainda: "O Presidente da República não é suposto ser oposição ao Governo, é suposto ser cooperativo com o Governo."
Em sentido diverso, pronunciou-se anteontem o líder do PSD-Porto. Agostinho Branquinho, que reclamou do Presidente da República "mais recato nas loas que tece a José Sócrates", lembrando, a propósito, o relatório do Banco de Portugal, divulgado na semana passada, que prevê um crescimento da economia abaixo do esperado e também o aumento da inflação.

"Liderança anda aos ziguezagues"

Para Menezes, as críticas de Marques Mendes reflectem uma falta de rumo na direcção do partido, uma liderança "aos ziguezagues". "Há três semanas, o Presidente da República era o melhor do mundo, porque os pactos que estava a propor e a sua postura presidencial eram o que convinha ao país e agora o dr. Marques Mendes vem pôr em causa a leitura que o Presidente faz da realidade, que aliás era previsível", acusa o presidente da Câmara de Gaia, lembrando os compromissos eleitorais que Cavaco assumiu perante o país. "No seu programa, ele disse que iria contribuir até aos limites para puxar o país para cima", observa.
Menezes dá como certo que "o Presidente sabe que o crescimento económico é incipiente, que algumas reformas não têm a profundidade que deviam ter", mas acredita que "se, eventualmente, o país entre em derrapagem absoluta, falará". "Acho que esta não é altura para o Presidente falar, agora é altura para a oposição falar e isso não está a acontecer", afirma, desafiando a direcção do PSD.

- Público



A difícil travessia do deserto.