quinta-feira, abril 07, 2005

«Estou em melhores condições de ser candidato»

Carmona Rodrigues diz que se sentirá defraudado se PSD não o escolher para Lisboa



O actual vice-presidente da Câmara de Lisboa Carmona Rodrigues considera que está «em melhores condições» de ser o candidato do PSD à Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas e admite que se sentirá «defraudado» se tal não acontecer.

Em entrevista ao Diário de Notícias, hoje publicada, Carmona Rodrigues revela que, «com amizade», aconselhou Santana Lopes a não regressar à autarquia, na sequência da derrota nas eleições legislativas de 20 de Fevereiro, e que o ex-primeiro-ministro e actual autarca ainda não lhe disse se tenciona ou não recandidatar-se à presidência da Câmara.

Carmona Rodrigues diz-se convicto de que, na altura da escolha do candidato a Lisboa nas eleições de Outubro, o PSD «por certo escolherá o que estiver mais bem colocado», e recorda que, neste momento, as sondagens apontam-no como o melhor candidato.

Questionado sobre se gostaria de ter continuado na presidência da Câmara de Lisboa, que assumiu quando Santana Lopes se tornou primeiro-ministro, Carmona Rodrigues reconhece que gosta muito do que tem feito e diz que sente que se «casou» com estas funções.

«Empenhei-me e isso deu frutos e algum reconhecimento e visibilidade que não tinha. Acho que não me saí mal», afirma Carmona Rodrigues, acrescentando que prefere as funções de autarca às de ministro.

Comentando o regresso de Santana Lopes à autarquia e o alegado desapontamento de muitas pessoas, «nomeadamente de dentro da Câmara», Carmona Rodrigues afirma que de facto «na altura houve muitas pessoas que de uma forma emotiva fizeram essa reflexão» e revela que desaconselhou o regresso ao ex-chefe de Governo.

«Ele (Santana Lopes) não se decidiu logo e eu próprio fiz-lhe ver que as circunstâncias do seu regresso não seriam as mais favoráveis. Disse-lhe isso com amizade», afirma Carmona Rodrigues, assegurando todavia que nunca se sentiu «usado», até porque sempre preservou o seu «estatuto de independente e permaneceu na câmara porque quis, não porque tenha sido obrigado.

Perspectivando as autárquicas de Outubro, Carmona manifesta-se «disponível» para avançar com uma candidatura e diz-me mesmo convicto de que será o melhor candidato social-democrata.

«Neste momento, de acordo com as sondagens estou em melhores condições de ser o candidato», afirma, admitindo que, se não for, as suas expectativas saem defraudadas, embora também só avance depois de ver quais os apoios que pode suscitar.

Instado a comentar o nome do candidato do PS a Lisboa, Manuel Maria Carrilho, Carmona diz que não lhe parece que tenha «muita ligação à cidade de Lisboa», e que «a avaliar pelo que tem dito, que quer uma cidade cosmopolita», parece «querer começar a casa pelo telhado».

Questionado sobre se não seria suposto Santana Lopes já lhe ter dito algo sobre as eleições, admite que sim, mas diz compreender as suas razões - «Estando ele como presidente do partido tem que aguardar o desenlace do congresso» do PSD, que decorre entre sexta-feira e domingo.

Relativamente à corrida à liderança do PSD, Carmona Rodrigues resguarda-se no seu estatuto de independente para dizer que não tem preferência por qualquer dos candidatos (Marques Mendes e Luís Filipe Menezes), embora frise que tem «uma maior proximidade e identidade do estilo» com Marqes Mendes, de quem foi colega no governo.

- Portugal Diário

Serenata de Satan ás Estrellas

I
Nas noites triviaes e desoladas
Como vos quero mysticas estrellas!...
Lucidas antigas camaradas...
Gotas de luz, no frio ar nevadas,
Podesse a minha boca inda bebel-as

II
Nem vos conheço já. Por onde eu ando!...
Sois vós mysticos pregos d'uma cruz?
Que Christo estais no ceo crucificando?...
Quem triste pelo ar vos foi soltando
Profundos, soluçantes ais de luz!

III
Oh! viagens nas nuvens desmanchadas!...
Doces serões do ceo entre as estrellas!...
Hoje só ais e lágrimas caladas...
Ai! sementes de luz mal semeadas,
Ave do ceo, podesse eu ir comel-as!

IV
Triste, triste loucura oh! flores da cruz
Quando eu vos dizia soluçando:
Affastae-vos de mim cardos de luz!...
Podesse eu ter agora os pés bens nús,
inda por entre vós i-los rasgando!...

V
Hoje estou velho e só e corcovado.
Causa-me espantado a sombra d'uma estola:
Enche-me o peito, um tedio desolado:
E corro o mundo todo esfomeado,
Aos abutres do ceo pedindo esmola.

VI
Eu sou Satan o triste o derrubado!
Mas vós estrellas, sois os musgo velho
Das paredes do ceo desabitado.
E a poeira que se ergue ao ceo calado,
Quando eu bato co'o pé no Evangelho!

VII
O céo é cemiterio trivial:
Vós sois o pó dos deuses sepultados!
Deuses, magros esboços do ideal!
Só com rasgar-se a folha d'um missal,
Vós cahis mortos, hirtos, gangrenados.

VIII
Eu sou expulso, roto, escarnecido
Mas a vós já ninguém vos quer as leis.
Oh! velho Deus oh! Christo dolorido!
Lembrae-vos que sois pó enegrecido,
E cedo em negro pó vos tornareis.

- Eça de Queirós