quarta-feira, dezembro 24, 2008

Dia Feliz

Num mundo em declínio, onde os seres humanos passam indiferentes à tristeza e dificuldade dos demais, a quadra natalícia é muitas vezes vazia de Espírito.

Desejo a todos:

Aos amig@s de perto e de longe e aos leitores que:

A Luz e o Som do Espírito possa tocar o vosso Coração, dando-vos Paz e Amor.

A Todos:

Sagrada Esperança



I

A ti, ó Senhor !
Na solidão deste templo
Onde o incenso
M’embriaga
A ti me dirijo
A ti proclamo

Em ti ó Senhor !
Pequeno como um seixo
Nas mãos dum ribeiro
Como um luar por
Entre canaviais
Em ti sossego

Em ti sossego
A minha fronte
Cansada de tanto
Cogitar
Em ti sossego
Os meus membros
estigmatizados

Vem, ó Senhor
Abre o teu manto
Toma-me em teu regaço
e deixa-me planar
para além das minhas
fronteiras
para além
de todas as palavras...

vem, ó Senhor
Vem, com passos de borboleta
e perfumes de rosas
por entre um mar de candeias
Ás horas mortas
e deixa-me ver para
além dos olhos
tal como tirésias...

Vem, Senhor
vem
Recebe a minha oração
Deixa-me por um pouco
Mergulhar no teu ventre
De nada
Saborear o ar da praia
Onde não existem
Horas absurdas
Onde o Alpha e o Omega
Dançam ao ritmo
Da madrugada

Vem, ó Senhor
Penetra a minha angústia
Penetra a minha solidão

II

Para conseguir avançar
Mas para conseguir
Mesmo avançar
Procuro os teus olhos
Olhos povoados de mares
E selvas intocáveis
Onde a clorofila é translúcida
E as borboletas são livres
E as caravelas do Gama
Perfuram o verde das palmeiras
Com cânticos de louvor
E os ossos de animais antigos
Se misturam com o plâncton
Rodeado de peixes, mastros
E ânforas fosforecentes
E iluminam a noite
Do nada
Mistura irredutível
Entre lâminas e mandíbulas
De mistérios

Sim
para conseguir avançar
procuro os teu olhos,
amplos, d’águas ternas
avistados por Tirésias
algures
entre baías e pórticos
de paz e descanso
ou por trás do arvoredo
ou por trás dos nossos corpos
agitados pelos vendavais
da vida moderna...
Ah! sim, esses teu olhos...
Que os ribeiros tornam rios
E os rios tornam mares
E que absorvem os astros
E que tragam os deuses
De barro
E que digerem os desertos
Com seus rochedos,
Noites e dias
E que são carne
Da nossa carne
Sangue do nosso sangue...

Esses teus olhos...


- Luís Costa, II Salmos