Do Deserto à Luz
- Fechaste os olhos. Ah! como sonhavas!
Era um sonho d’amor – Tão profundo! –
Véu d’encanto, princípio do mundo,
Gérmen da palavra em que acreditavas.
Levaste a cruz em nosso nome. E o grito
Do sangue obstruiu-te a garganta.
Branco e frágil, choraste; Sem esp’rança,
Caiste de joelhos, qual granito.
Porém, logo que a união se consumou,
Do puro amor que em ti vicejou,
Fortalecida, a fé abriu-nos o peito.
E tu, de olhos ao alto – Oh filho eleito! –
Qual cotovia no azul meridional,
irradiaste a noite sepulcral.
- Homem, por entre o cosmos e a matéria
Singras, barco sem mastros e sem velas
Que mais lembra uma sombra pelas vielas...
Ou o pálido albatroz de Baudelaire.
A ciência – tão sapiente e austera! –
Dilacerou a unidade do sagrado,
E demonstrou-nos, fria, com agrado,
Que Deus é uma ingénua quimera.
Mas será que sabemos, hoje, quem
Somos? E o que é a matéria? E, além,
No cosmos, já não há nenhum segredo?
Homem, homem, não! não tenhas medo...
Mergulha na maré do puro ser
E aprende, livre e são, de novo – a ver.
- No vago vapor desta melodia,
No ouro que nos assalta, velho leão,
O mundo ferve, o mundo é canção,
Turbilhão de cordas da tua lira.
Sob esta voz telúrica, a razão
despe toda a sua consistência.
E tudo quanto era aparência
Cai... Então, vê-se o vero coração...
Que visão! Tanta luz do meio-dia!
Libertos de qualquer dicotomia,
Seguimos a magia dos teus passos...
Agora, adormecidos nos teus braços,
Descemos ao fundo de nós mesmos
e crentes – a dar graças aprendemos.
- Luís Costa, IV, III, I
Era um sonho d’amor – Tão profundo! –
Véu d’encanto, princípio do mundo,
Gérmen da palavra em que acreditavas.
Levaste a cruz em nosso nome. E o grito
Do sangue obstruiu-te a garganta.
Branco e frágil, choraste; Sem esp’rança,
Caiste de joelhos, qual granito.
Porém, logo que a união se consumou,
Do puro amor que em ti vicejou,
Fortalecida, a fé abriu-nos o peito.
E tu, de olhos ao alto – Oh filho eleito! –
Qual cotovia no azul meridional,
irradiaste a noite sepulcral.
- Homem, por entre o cosmos e a matéria
Singras, barco sem mastros e sem velas
Que mais lembra uma sombra pelas vielas...
Ou o pálido albatroz de Baudelaire.
A ciência – tão sapiente e austera! –
Dilacerou a unidade do sagrado,
E demonstrou-nos, fria, com agrado,
Que Deus é uma ingénua quimera.
Mas será que sabemos, hoje, quem
Somos? E o que é a matéria? E, além,
No cosmos, já não há nenhum segredo?
Homem, homem, não! não tenhas medo...
Mergulha na maré do puro ser
E aprende, livre e são, de novo – a ver.
- No vago vapor desta melodia,
No ouro que nos assalta, velho leão,
O mundo ferve, o mundo é canção,
Turbilhão de cordas da tua lira.
Sob esta voz telúrica, a razão
despe toda a sua consistência.
E tudo quanto era aparência
Cai... Então, vê-se o vero coração...
Que visão! Tanta luz do meio-dia!
Libertos de qualquer dicotomia,
Seguimos a magia dos teus passos...
Agora, adormecidos nos teus braços,
Descemos ao fundo de nós mesmos
e crentes – a dar graças aprendemos.
- Luís Costa, IV, III, I