terça-feira, fevereiro 28, 2006

Afinal



Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora.
Mais análogo serei a Deus, seja ele quem for,
Porque, seja ele quem for, com certeza que é Tudo,
E fora d'Ele há só Ele, e Tudo para Ele é pouco.

Cada alma é uma escada para Deus,
Cada alma é um corredor-Universo para Deus,
Cada alma é um rio correndo por margens de Externo
Para Deus e em Deus com um sussurro soturno.

Sursum corda! Erguei as almas! Toda a Matéria é Espírito,

Porque Matéria e Espírito são apenas nomes confusos
Dados à grande sombra que ensopa o Exterior em sonho
E funde em Noite e Mistério o Universo Excessivo!
Sursum corda! Na noite acordo, o silêncio é grande,
As coisas, de braços cruzados sobre o peito, reparam

Com uma tristeza nobre para os meus olhos abertos
Que as vê como vagos vultos noturnos na noite negra.
Sursum corda! Acordo na noite e sinto-me diverso.
Todo o Mundo com a sua forma visível do costume
Jaz no fundo dum poço e faz um ruído confuso,

Escuto-o, e no meu coração um grande pasmo soluça.

Sursum corda! ó Terra, jardim suspenso, berço
Que embala a Alma dispersa da humanidade sucessiva!
Mãe verde e florida todos os anos recente,
Todos os anos vernal, estival, outonal, hiemal,
Todos os anos celebrando às mancheias as festas de Adônis
Num rito anterior a todas as significações,
Num grande culto em tumulto pelas montanhas e os vales!
Grande coração pulsando no peito nu dos vulcões,
Grande voz acordando em cataratas e mares,
Grande bacante ébria do Movimento e da Mudança,
Em cio de vegetação e florescência rompendo
Teu próprio corpo de terra e rochas, teu corpo submisso
A tua própria vontade transtornadora e eterna!
Mãe carinhosa e unânime dos ventos, dos mares, dos prados,
Vertiginosa mãe dos vendavais e ciclones,
Mãe caprichosa que faz vegetar e secar,
Que perturba as próprias estações e confunde
Num beijo imaterial os sóis e as chuvas e os ventos!

Sursum corda! Reparo para ti e todo eu sou um hino!
Tudo em mim como um satélite da tua dinâmica intima
Volteia serpenteando, ficando como um anel
Nevoento, de sensações reminescidas e vagas,
Em torno ao teu vulto interno, túrgido e fervoroso.
Ocupa de toda a tua força e de todo o teu poder quente
Meu coração a ti aberto!
Como uma espada traspassando meu ser erguido e extático,
Intersecciona com meu sangue, com a minha pele e os meus nervos,
Teu movimento contínuo, contíguo a ti própria sempre,

Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais.

Sou uma chama ascendendo, mas ascendo para baixo e para cima,
Ascendo para todos os lados ao mesmo tempo, sou um globo
De chamas explosivas buscando Deus e queimando
A crosta dos meus sentidos, o muro da minha lógica,
A minha inteligência limitadora e gelada.

Sou uma grande máquina movida por grandes correias
De que só vejo a parte que pega nos meus tambores,
O resto vai para além dos astros, passa para além dos sóis,
E nunca parece chegar ao tambor donde parte ...

Meu corpo é um centro dum volante estupendo e infinito
Em marcha sempre vertiginosamente em torno de si,
Cruzando-se em todas as direções com outros volantes,
Que se entrepenetram e misturam, porque isto não é no espaço
Mas não sei onde espacial de uma outra maneira-Deus.

Dentro de mim estão presos e atados ao chao
Todos os movimentos que compõem o universo,
A fúria minuciosa e dos átomos,
A fúria de todas as chamas, a raiva de todos os ventos,
A espuma furiosa de todos os rios, que se precipitam,

A chuva com pedras atiradas de catapultas
De enormes exércitos de anões escondidos no céu.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!


- Álvaro Campos

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Parabéns

Ao Insurgente, por 1 ano de combate!

Contem muitos :)

E como estamos no Carnaval, heis o insurgente dedo, prova de rebeldia

domingo, fevereiro 26, 2006

Auguri



Alegria de viver, que coisa mais linda,
algo que nos faz bem,
nos dá uma felicidade infinda...
faz bem à alma e ao corpo também.
A vida sempre é bela,
para quem vive feliz,
a vida sempre é bela,
está bem quem o diz.
A alegria de viver está na alma,
é uma sensação de felicidade,
que sempre nos acalma,
e nos dá tranqüilidade.
Sabiamente já se dizia que a felicidade
pode ser sempre encontrada,
não tem credo, cor, nem idade,
e tampouco deve ser procurada.
A felicidade está na nossa frente,
só depende, essa é a verdade,
de que realmente, minha gente,
seja essa a nossa vontade.
A felicidade está no amor,
está na paz, está na amizade,
devemos sempre ter n'alma o calor
do amor, e assim, a felicidade.


- Marcial Salaverry, Alegria de viver

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Cocas

Sismo em Maputo

Foi agora noticiado que ocorreu um sismo de 6,9 na escala de Richter, em Maputo!!

Espero que todos estejam bem por aí.
Por cá grande preocupação.
Deêm notícias.

Consultem as advertências do SNBPC (.pdf) aqui da terrinha.

Addenda:

Maputo: Sismo atingiu magnitude de 7,5 - Centro norte-americano

O sismo que hoje à noite se sentiu na capital de Moçambique atingiu uma magnitude de 7,5 na escala aberta de Richter, anunciou o centro de estudos geológicos norte-americano (USGS).

Segundo o USGS, o sismo ocorreu às 22:19 TMG (mesma hora em Lisboa), a cerca de 530 quilómetros a norte de Maputo e a 225 quilómetros a sudoeste da Beira.

O hipocentro do sismo foi situado a 10 quilómetros de profundidade sob a superfície terrestre, acrescentou o USGG.

O sismo levou centenas de habitantes de Maputo para as ruas da cidade.

Segundo constatou a agência Lusa no local, logo após o abalo, residentes nas principais artérias da cidade, onde se situam os edifícios mais elevados, fugiram para a rua, com receio de novas réplicas.

Uma hora depois do abalo, nas ruas continuavam centenas de pessoas, comentando um fenómeno que não é vulgar no país.

A rede telefónica ficou congestionada, tornando difíceis as comunicações com a polícia e serviços de meteorologia.

O sismo não provocou derrocadas de edifícios nem danos visíveis nas principais ruas da cidade de Maputo.

- Diário Digital / Lusa

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Twilight Zone

You are now going to enter the Twilight Zone, ou Quando Dois Monstros se Juntam...........



Be afraid, be really afraid.

Bruxelas defende papel principal do nuclear na Europa

O Comissário Europeu para a Energia, Andris Piebalgs, defendeu hoje em Pequim que a energia nuclear dever ser parte «substancial» da matriz energética europeia.

«Acredito que a energia nuclear dever ser parte da matriz energética europeia, e mesmo uma parte substancial, porque responde às questões relacionadas com a segurança de abastecimento energético e às questões relacionadas com emissão de dióxido de carbono para atmosfera,» disse Piebalgs em conferência de imprensa.
Sublinhando que a composição energética nacional é uma decisão da competência de cada estado membro, disse acreditar que, apesar de «compreender a sensibilidade política» do assunto, «é importante preservar a energia nuclear na matriz energética da Europa».

O nuclear representa um terço da energia produzida na União Europeia (UE), onde existem cerca de 150 unidades de energia nuclear em 13 estados-membros, segundo Piebalgs.

O Comissário falava durante o terceiro dia de uma visita de quatro dias à China, onde participou na Sexta Conferência Energética UE-China.

Piebalgs defendeu também o investimento chinês em energia nuclear, com Pequim a admitir a construção de cerca de 32 centrais nucleares até 2020, segundo informações da indústria.

«A Comissão Europeia - disse - entende que o investimento chinês em energia nuclear é uma boa forma de diversificar as fontes energéticas e também reduzir as emissões de dióxido de carbono«.

A China assinou o protocolo de Quioto, no qual os países industrializados se comprometem a reduzir as emissões de gases causadores de «efeito de estufa» (GEE), responsáveis pelo aquecimento global, mas, tal como todos os outros países em vias de desenvolvimento, não tem objectivos de redução vinculativos.

A seguir aos Estados Unidos, a China é o segundo maior país emissor do mundo de GEE, sobretudo de dióxido de carbono, em consequência dos padrões de produção e utilização de energia no país.

Segundo os últimos dados da Comissão Europeia, a China emitiu em 2005 cerca de 3,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono, contra 4 milhões de toneladas da UE mas, segundo a Agência Internacional de Energia Atómica, em 2030, num cenário que mantenha o mesmo padrão de consumo, a China emitirá 7,1 milhões de toneladas, em comparação com 4,6 milhões da UE.

- Diário Digital / Lusa

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Inefável (sic)

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial Sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas

Luzes claras e augustas, luzes claras
Douram dos templos as sagradas aras,
Na comunhão das níveas hóstias frias...

Quando seios pubentes estremecem,
Silfos de sonhos de volúpia crescem,
Ondulantes, em formas alvadas... "


- João da Cruz e Sousa

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

E assim vai o País II

Continua a azáfama do (des)Governo Português.

A economia entrou numa onda explosiva de privatizações em massa e sem critério; as regras do jogo mantêm-se opacas. A título de exemplo: a EDP, a TAP.

Alguém falou em receitas extraordinárias?
Não devo ter percebido bem o PM, ele afirmou que não ia, sob hipótese alguma, lançar mão de receitas extraordinárias..............
Pois ... não percebi bem.

A OTA e o TGV continuam na lista das fantasias e desaires do desgoverno, a tal Petição para a realização de um Referendo a este propósito tarde em ver a luz da sua concretização, espero que não tenha sido mais um fait divers.

Continua o desperdício do erário público para os desvarios socialistas.

O PR cessante parece ter esgotado as páginas amarelas nos eleitos a condecorações; quem agradece é o fabricante das mesmas, que não tem mãos a medir para tanta encomenda.

Não me canso de citar Ramalho Ortigão e Eça de Queirós nas Farpas:

A situação politica...

Mas, perdão—antes de encetarmos este assumpto, uma pequena historia:

Era uma vez um velho burro. Fora madraço e manhoso. Não conquistára amigos porque os não merecia. Tinham-o lançado á margem no fim da vida. Principiou a viver ao acaso, pelos montes. Um dia achava-se defronte de um vallado, estacado ao sol sobre as suas quatro patas, inerte, immovel, olhando para um cardo secco com os seus grandes olhos redondos e encovados em orbitas esqueleticas, pensando nas vicissitudes da vida e procurando arrancar do seu cerebro, para se consolar, algumas idéas philosophicas.

Passou por elle e deteve-se a contemplal-o um joven asno, no viço das illusões, cheio de amor e de zurros, de alegria e de coices. A vetusta ossada angulosa do ancião parecia furar-lhe a pelle resequída e aspera. Um espesso enxame de moscas cobria-lhe as mataduras do lombo e dava-lhe o aspecto de ter um albardão feito de zumbidos e d'asas sobre um fundo de missangas pretas e palpitantes,—coisa rabujosa á vista.

—Sacode esse mosqueiro, disse-lhe o burro novo. Dar-se-ha o caso de que, á similhança do homem, deixasses tambem tu atrophiar o precioso musculo que ahi tens na face para por meio d'elle abanares a orelha e moveres a pelle?... Sacode-te, bestiaga!

Ao que o lazarento, pausado, retorquiu:

—Não sabes o que zurras, joven temerario! O destino de quem tem maselas é que o mosqueiro o cubra. As moscas que tu vês, e de que o meu cerro é a estalagem com mesa redonda, são moscas fartas, teem a mansidão abundante dos estomagos cheios. Se eu as sacudisse, viriam outras,—as famintas, de ferrões gulosos, que zinem como frechas, pousam como causticos, mordem como furunculos. As que tu vês prestam-me um serviço impagavel:—livram-me das que podem vir; são o meu xairel benigno e suave, o meu arnez, a minha couraça. Quando te chegar a idade de seres pasto de moscas (e breve te soará essa hora porque a mocidade é, como a herva, uma ephemera transição entre o alfobre da meninice e a palha da edade madura); quando te chegar o teu dia, lembra-te, asninho imprudente, d'este conselho amigo de um burro velho, que não aprende linguas, mas que tem a experiencia que vale tanto como o ouro: Nunca sacudas mosca desde que creares masela! Teme-te dos papos vasios das revoadas novas. Papos cheios não só não mordem mas até empacham! Comprehendeste, burrinho, a philosophia da minha inercia?

Revertamos agora, como vinhamos dizendo, á situação politica.

Em toda a sociedade em movimento ha dois unicos partidos: o partido conservador e o partido revolucionario.

A funcção do partido revolucionario, qualquer que seja o seu nome—republicano, socialista, federalista, fourrierista, proudhonista, positivista, etc.—é transformar a ordem estabelecida, modificando as condições da civilisação no sentido de um mais rapido progresso.

Para este fim o partido revolucionario agita constantemente por meio de idéas novas as opiniões preconcebidas.

Como, porém, não está ainda definido o programma geral e harmonico da revolução, como a tendencia progressiva das multidões indisciplinadas se basea no sentimentalismo esteril ou no phantastico ideal methaphysico dos phraseadores eloquentes, succede que todo o esforço revolucionario representa para a sociedade um perigo de desordem, de incoherencia e de anarchia.

A funcção do partido conservador é a manutenção da ordem contra todas as invasões que directa ou indirectamente ameacem a integridade da organisação existente. Em todas as velhas sociedades os governos são por essa rasão, os inimigos natos do progresso. A evolução progressiva da humanidade realisa-se, a despeito d'elles, pela elaboração irresistivel das idéas fora da esphera official, sob a acção das descobertas da sciencia ou das suggestões da arte. O mais que fazem os governos é submetterem-se ás transformações sociaes que a solução de cada novo problema resolvido pela sciencia impõe á existencia dos povos. Os governos, portanto, sempre que uma forte effervescencia intellectual não agita a sociedade e os não abala constantemente na eminencia do seu posto forçando-os a concessões successivas, tendem ao retrocesso.

A civilisação não é na orbita politica senão o justo equilibrio das forças resultantes d'essas duas tendencias: a tendencia retrograda na ordem, a tendencia anarchica na revolução.

Em Portugal o que succede?

A vida intellectual é extremamente debil. A sciencia não tem cultores desinteressados e ardentes, a acção da arte sobre a aspiração dos espiritos é nulla.

O resultado é que os partidos de opposição, não encontrando nos phenomenos da vida nacional a profunda expressão implacavel de novas necessidades a que os governos tenham de amoldar-se, acham-se naturalmente desarmados das grandes rasões que reptam os governos a progredir ou a abdicar.

Em taes condições o partido revolucionario dentro da milicia politica, partido fabricado pelos proprios governos com a corrupção do suffragio,—sendo uma pura convenção, uma fixão constitucional, uma expressão rhetorica, sem raizes na consciencia e na vontade popular,—acabou por desapparecer inteiramente do nosso systema representativo. Ha muitos annos que a revolução não tem quem a represente no parlamento portuguez.

Ha, todavia, uma maioria parlamentar e uma opposição composta de varios grupos dissidentes. Estes grupos são fragmentos dispersos do unico partido existente—o partido conservador—fragmentos cuja gravitação constitue o organismo do poder legislativo.

Estes partidos, todos conservadores, não tendo principios proprios nem idéas fundamentaes que os distingam uns dos outros, sendo absolutamente indifferente para a ordem e para o progresso que governe um d'elles ou que governe qualquer dos outros, conchavaram-se todos e resolveram de commum accordo revesarem-se no podler e governarem alternadamente segundo o lado para que as despesas da rhetorica nos debates ou a força da corrupção na urna fizesse pesar a balança da regia escolha. Tal é o espectaculo recreativo que ha vinte annos nos esta dando a representação nacional.

Imaginem meia duzia de almocreves sequiosos que acham na estrada um pipo de vinho. Como nenhum d'elles tem mais direito que os outros a beber do pipo, combina-se que cada um d'elles ponha a bocca ao espicho e beba em quanto os pontapés dos outros o não contundirem até o ponto de o obrigar a largar as mãos da vasilha para as apertar na parte ferida pelos pontapés applicados pela companhia que espera. É exactamente o que ha muito tempo tem sido feito pelos partidos portuguezes com relação ao usofructo do poder que elles acharam na estrada, perdido.

Chegou finalmente a vez de pôr o pipo á bocca um partido excepcionalmente valoroso de sede e inconfundivel de fibra. Este partido não desemboca o pipo por mais que lhe façam. Protestações escandalisadas, de almocreves, retroam.

—Este partido abusa!

—Isto não vale!

—Isto não é do jogo!

—Elle esvasia o pipo!

—Larga o pipo, pipa!

—Larga o pipo, pimpão!

—Larga o pipo, ladrão!

E incitam-se uns aos outros até á ferocidade:

—Chega-lhe rijo!

—Mais! que lhe dôa bem!

—Rebenta-me esse ôdre!

—Racha-me esse tunel!

—Ah! cão!

O partido, porém, continua sempre a beber, e é insensivel a tudo: á dor, ao insulto, ao chasco, ao improperio, á graça pesada, á insinuação perfida e á alusão venenosa!

Em vista de uma tal pertinacia, que nós mesmos somos forçados a taxar de irregular, os partidos em expectativa do pipo, confederam-se, ferem o pacto da Granja, constituem-se n'um só partido novo,—n'uma só bocca para o pipo. Fazem um programma, redigem um manifesto, vão de terra em terra pedindo ao paiz que intervenha. Precisamente lhes occorreu n'esse momento que o pipo tem dono! que é do paiz o pipo!

Instado a intervir pelos pactuantes da Granja, pelos signatarios do manifesto, pelos auctores do novo programma, pelos oradores dos meetings revolucionarios, pelos jornaes opposicionistas, o paiz responde-lhes:

Lestes a historia do sabio burro lazarento contada pelas Farpas? Eu sou esse burro. Vós sois a revoada das novas moscas pretendendo expulsar a revoada velha. Ora, moscas por moscas—sendo meu destino que ellas sempre me cubram e me comam—prefiro as antigas moscas saciadas ás novas moscas famintas.

Deixae-me em paz. E notae que eu nem sequer vos abano as orelhas,—que é para não bolir comigo!

E assim vai o País

Protecção Civil: Presidente demitiu-se por «falta de condições» - ministro

O ministro da Administração Interna, António Costa, revelou que o ex-presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, Bargão dos Santos, que hoje se demitiu, alegou «falta de condições para realizar o seu trabalho».

Bargão dos Santos demitiu-se nove dias depois de ter tomado posse e foi hoje à noite substituído pelo major-general Arnaldo José Ribeiro da Cruz, com o parecer favorável da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, da Liga Portuguesa de Bombeiros, mas com a posição contrária da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

O gabinete do ministro de Estado e da Administração Interna emitiu uma nota ao princípio da noite indicando que «o Governo aceitou o pedido de exoneração do cargo de presidente do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil que lhe foi hoje apresentado pelo major- general João Gabriel Bargão dos Santos».

O comunicado governamental não refere os motivos que levaram Bargão dos Santos, médico ortopedista militar, a pedir a demissão nove dias depois de ser empossado.

Bargão dos Santos é o terceiro militar a pedir a demissão de presidente na história curta do SNBPC, criado em 2003 em resultado da fusão do Serviço Nacional de Bombeiros e do Serviço Nacional de Protecção Civil.
O SNBPC tem como objectivo a protecção e socorro de pessoas e bens, competindo-lhe, genericamente, orientar e coordenar todas as actividades de protecção civil e socorro.

- Diário Digital / Lusa

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Dragão

eternity

Senti passar um vento misterioso,
Num torvelinho cósmico e profundo.
E me levou nos braços; e ansioso
Eu fui; e vi o Espírito do Mundo.

Todas as cousas ermas, que irradiam
Como um nocturno olhar inconsciente,
Luz de lágrima extinta, não sentiam
A trágica rajada, que somente

Meu coração crispava! Ó vento aéreo!
Vento de Exaltação e Profecia!
Vento que sopra, em ondas de mistério,
E tanto me perturba e me extasia!

Estranho vento, em fúria, sem tocar
Na mais tenrinha flor! E assim agita
Todo o meu ser, em chamas, a exalar
Luz de Deus, luz de amor, luz infinita!

Vento que só encontras resistência
Numa invisível sombra... Um arvoredo,
Ou bruta pedra, é como vaga essência;
E, para ti, eu sou como um penedo.

E na minha alma aflita, ó doido vento,
Bates, de noite; e um burburinho forte
A envolve, arrasta e leva, num momento;
E vai de vida em vida e morte em morte.

Vento que me levou, nem sei por onde;
Mas sei que fui; e, ao pé de mim, bem perto,
Vi, face a face, a névoa a arder que esconde
O fantasma de Deus, sobre o deserto!

E vi também a luz indefinida
Que, nas trevas, se fez, esclarecendo
Meu coração, que voa, além da vida,
O seu peso de lágrimas perdendo.

E aquele grande vento transtornou
Minha existência calma; e dor antiga
Meu rude e frágil corpo trespassou,
Como a chuva uns andrajos de mendiga.

E fui num grande vento; e fui; e vi;
Vi a Sombra de Deus. E, alvoroçado,
Deitei-me àquela sombra e, em mim, senti
A terra em flor e o céu todo estrelado.


- Teixeira de Pascoaes, O vento do espírito

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Dizem que é dia de S. Valentim!

Parece que sim!

De acordo com o calendário gregoriano, o dia 14 de Fevereiro é dedicado a S. Valentim, o Santo padroeiro do Amor Romântico.
A questão é:

Essa coisa do Amor Romântico ainda existe?
A sério?! Existe?
Não me parece. Deve andar acoutado em local recôndito.

Os homens, todos (???) - talvez, de românticos nem sequer as unhas.
Bom, bom, só mesmo para os comerciantes, e para pôr os nervos em franja.

Tomem lá uma florzinha para comemorar o tal do dia

CDS perdeu oportunidade de afirmação política - Telmo Correia

O deputado do CDS-PP Telmo Correia defendeu hoje que o partido perdeu uma oportunidade de afirmação política quando decidiu apoiar Cavaco Silva nas eleições Presidenciais, em detrimento da apresentação de um candidato próprio.

«Essa podia ser uma oportunidade de afirmação política de uma direita que é efectivamente direita e que poderia ter trazido um debate político, de afirmação de ideias e de valores que, na minha modestíssima opinião, não existiu durante a campanha eleitoral», referiu.

No entanto, Telmo Correia sublinhou que, dentro das soluções possíveis, os democratas-cristãos acabaram por ficar satisfeitos com o resultado das Presidenciais.

«Cavaco Silva ganhou, felicidades e bom mandato«, acrescentou.

Falando em Ponte de Lima, durante uma visita do grupo parlamentar do CDS-PP ao distrito de Viana do Castelo, Telmo Correia instou o partido a, findo o período de »suspensão« da actividade partidária que viveu durante a campanha presidencial, voltar ao debate político e ideológico »à séria«.

«O CDS, uma vez que não o fez na campanha para as Presidenciais, que o faça agora, que seja activo e dinâmico», rematou.

- Diário Digital / Lusa

sábado, fevereiro 11, 2006

À Joana

Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.

Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
porque vinha de um coração?

E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
do pranto que caiu dos meus olhos passados,
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?


- Cecília Meireles, Herança

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Ao Besugo

Apenas para:
um Abraço.

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é a minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...


- Cecília Meireles, Noções


Quando o amor te acenar, segue-o,
ainda que por caminhos ásperos e íngremes.

E quando suas asas te envolverem,
rende-te a ele,
ainda que a lâmina escondida sob suas asas possa ferir-te.

E quando ele te falar , acredita no que ele diz,
ainda que sua voz possa destroçar teus sonhos,
assim como o vento norte açoita o jardim.

Pois, se o amor te coroa, ele também te crucifica.
Se te ajuda a crescer, também te diminui.
Se te faz subir às alturas
e acaricia teus ramos mais tenros, que tremem ao sol,
também te faz descer às raízes
e abala a tua ligação com a terra.

Como os feixes de trigo, ele te mantém íntegro.
Debulha-te até que fiques nu.
Transforma-te, retirando a tua palha.
Tritura-te, até que estejas branco.
Amassa-te, até que te tornes macio;
e então te apresenta ao fogo,
para que te transformes em pão,
no banquete sagrado de Deus.

Todas essas coisas pode o amor realizar,
para que saibas dos segredos do teu coração,
e com esse conhecimento sejas um fragmento
do coração, da vida.


- Khalil Gibran, O Amor

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

1 - 99


O Conhecimento/Desconhecimento, o Visível e o Invisível, a Consciência e a Inconsciência:

na proporção, respectivamente, de:

1 - 99

Questionário de Verão

O amigo JPT lança um desafio em conta da simpatia, que é mútua, e assim sendo vou responder a esse desafio de questionário muito após o Verão, como escreveu o João:

Na Primavera o amor anda no ar
Na Primavera os bichos andam no ar
Na Primavera o pólen anda no ar

E eu não consigo parar de espirrar

No Verão os dias ficam maiores
No Verão as roupas ficam menores
No Verão o calor bate records
E os corpos libertam seus suores

Eu gosto é do Verão
De passearmos de prancha na mão
Saltarmos e rirmos na praia
De nadar e apanhar um escaldão
E ao fim do dia, bem abraçados
A ver o pôr do sol
Patrocinado por uma bebida qualquer

No Outono a escola ameaça abrir
No Outono passo a noite a tossir
No Outono à folhas sempre a caír
E a chuva faz os prédios ruir

No Inverno o Natal é baril
No Inverno ando engripado e febril
No inverno é verão no Brasil
E na Suécia suicidam-se aos mil


- Fúria do Açúcar, Eu gosto é do Verão

Quatro empregos que já tive na vida:

1. Relações públicas.
2. Directora de uma multinacional.
3. Empresária.
4. Jurista.

Quatro filmes que posso ver vezes sem conta:

1. Casablanca.
2. Pátio das Cantigas.
3. Out of Africa.
4. Star Wars, Série Completa.

Quatro sítios/países/regiões onde vivi:

1. Angola.
2. Lisboa.
3. América do Norte.
4. Ásia.

Quatro séries televisivas que não perco (perdia):

1. Espaço 1999.
2. Galáctica.
3. Wacky Races.
4. Cosmos.

Quatro sítios onde estive de férias:

1. Andorra.
2. Póvoa do Varzim.
3. Roma.
4. Praia da Rocha.

Quatro dos meus pratos preferidos:

1. Bacalhau com natas.
2. Bifanas.
3. Filetes com arroz de tomate.
4. Chocolate (de preferência branco - nada de chocolate amargo, ok já sei que não é prato, e então?)

Quatro Websites que visito diariamente:

Nã respondo

Quatro sítios onde gostaria de estar agora:

- No presente.
- Aprender com o passado e deixá-lo ir.
- Ter esperança no futuro.
- Um sítio onde reina-se Amor e Paz, verdadeiros e reais.

Três blogadoras a quem convido a fazer este questionário (se tiverem paciência e gosto):

- Zazie
- A Menina Pérolas
- A Sirotras

Quatro blogadores a quem convido a fazer este questionário (idem - tinha muitos mais, enfim ficam apenas quatro):

- O JF;
- O LAS;
- O CAA;
- O DM.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Fábula

Todos os dias um cavalo selvagem saciava a sua sede à beira de um rio pouco profundo.

Por ali também aparecia um javali que, ao remover o barro do fundo com o focinho e as patas, tornava a água turva.

O cavalo pediu-lhe que tivesse mais cuidado, mas o javali ofendeu-se e chamou-o de doido.

Acabaram por tratar-se com ódio, como se fossem os piores inimigos.

Então o cavalo selvagem, cheio de ira, foi chamar o homem e pediu-lhe ajuda.

-Enfrentarei essa besta – disse o homem – mas deves permitir-me montar o teu dorso.
O cavalo concordou e lá foram, à procura do inimigo.

Encontraram-no perto do bosque e, antes que este se pudesse ocultar na parte mais densa, o homem matou-o.

Já livre do javali, o cavalo foi até ao rio para beber, já em águas claras, ciente de que não voltaria a ser incomodado.

Contudo, o homem não pensava em desmontar.

– Estou satisfeito de puder ter ajudado – disse – Não só matei um javali, como também capturei um esplêndido cavalo.

E, embora o cavalo tenha resistido, o homem obrigou-o a fazer a sua vontade, colocou-lhe uma sela e fez dele a sua montada.

O cavalo, que tinha sido sempre livre como o vento, pela primeira vez na sua vida teve que obececer a um amo.

Estava selada a sua sorte, e desde então lamenta-se noite e dia:

-Tolo! Os incómodos que o javali me causava não eram nada comparados com isto! Por sobrevalorizar um assunto sem importância, acabei por tornar-me num escravo!

Às vezes, no afã de castigar os danos que nos causam, aliamo-nos a quem só tem interesse em dominar-nos.


- Fedro, O Cavalo e o Javali

sábado, fevereiro 04, 2006

Os orgulhosos

Quando finalmente ouvimos a porta fechar-se atrás de nós, pensei no que aconteceria se olhasse para trás. Como é que pediria perdão por uma falta destas?

Subíamos por uma físsura na pedra, que formava um caminho em zigue-zague, quando o meu guia falou:

- Aqui convém ter cuidado. Procura encostar-te na parte externa da curva.

O esforço que fazíamos para subir era tanto que a Lua já se havia posto quando finalmente escapámos daquela gruta. Paramos, enfim, sobre um terraço plano e desabitado. A beirada lisa aparentava rodear toda a montanha, até onde eu podia ver, e tinha a mesma largura formando um patamar em volta do monte. Da beira do precipício até o pé da subida íngreme, cabiam três homens deitados.

E então percebi que o penhasco interno, que não oferecia maneira de subir, era de mármore branco adornado com vários entalhes em relevo. As formas eram tão perfeitas que fariam inveja não só aos melhores escultores como à própria natureza.

À imagem do anjo que desceu à Terra para anunciar a paz tão esperada pelos homens só faltava falar, de tão perfeita que era a escultura. Poder-se-ia jurar que ele dizia "Avé!", pois aquela que nos trouxe ao mundo o Amor Supremo também estava lá representada. Em volta da sua imagem estavam as palavras: Eis a Serva de Deus.

- Esta não é a única escultura - disse o mestre. - Por que não vemos as outras?

E então segui o mestre e contemplei, além da imagem de Maria, outra história inscrita na rocha. No mármore via-se o carro e os bois puxando a Arca Santa. Na sua frente havia sete coros tão realistas que os meus sentidos ficaram em dúvida. Uns sentidos diziam "não", e outros "sim, estão a cantar!". Da mesma forma, os fumos esculpidos do incenso eram tão perfeitos que os meus olhos e nariz não conseguiam decidir entre o sim e o não.

Mais adiante, bem à frente da Arca, o modesto salmista David dançava, mostrando nada mais, nada menos do que um rei. Na janela estava a sua mulher Micol, observando com desdém.

Afastei-me um pouco para observar uma terceira história, contada pelo relevo do mármore. Lá estava o nobre imperador Trajano, cercado por cavaleiros, águias e todo o seu exército. Ao seu lado estava a pobre viúva, que lhe pedia ajuda. Podia ouvir-se o diálogo entre os dois e, no fim, o momento em que o imperador deixa as suas preocupações para atender ao humilde pedido da velhinha.

Enquanto me deleitava admirando aqueles exemplos de humildade, o mestre sussurrou-me:

- Olha! Lá vêm eles! Vê como lentamente se aproximam! Irão Mostrar-nos o caminho até aos degraus.

- Mestre - respondi - o que é isto que vejo a aproximar-se? Não parecem pessoas! Não sei o que são! A minha vista está confusa.

- A grave condição do seu tormento - disse - esmaga-os contra a terra, de tal forma que não existe a certeza no que se vê. Mas presta bem atenção e verás o que se move debaixo daquelas pedras e entenderás a pena que os golpeia.

Oh orgulhosos cristãos, miseráveis e cansados. Não vedes que somos meras larvas, nascidas para formar a angélica borboleta que à Justiça voa sem defesa?
Por que razão as vossas pretensões são tão altas se não sois mais do que insectos defeituosos?

As almas pareciam aquelas estátuas que, como pilares, sustentavam uma cornija às costas, e dobram o peito até aos joelhos. Algumas estavam mais baixas que as outras, conforme a carga que levavam às costas, mas mesmo a mais paciente de todas parecia dizer, em pranto:

"Mais do que isto, não posso!"


- Dante Alighieri, Canto X

Sagrado e Profano

A propósito da actual questão cadente, iniciada por um jornal dinamarquês a propos da caricaturização de Maomé e do Corão, e que tanta celeuma e azedume tem criado mundo fora - já para não falar daqueles rapazitos simpáticos atambacados à porta, da representação da UE e da Comissão Europeia, com os seus pirolitos reluzentes.


1 - É nítida a falta de sentido de humor - reduzindo o mundo a uma massa a preto e branco.

2 - Como, nítida é, a utilização abusiva e desproporcionada de umas caricaturas enquanto arma de arremesso.

3 - Estão a dar demasiado valor a uns arruaceiros imberbes e sedentos de exposição e sangue.

4 - Abusiva também é a extrapolação de que: estamos perante uma guerra de religiões, culturas ou civilizações!!
Onde uns caem, tentam enfiar os outros: um imenso e enorme buraco, resumindo, um vazio onde apenas é possível ouvir o vento.

5 - Tanto fru-fru e gaitinhas para nada, ou antes, é possível que seja um preliminar para o Carnaval que se aproxima.

6 - Agita-se a indignação porque é suposto existir sarciamento à liberdade de expressão! Desculpem, mas não vejo razões ou factos que apontem nesse sentido.

7 - Criticam a Grã-Bretanha referindo que se submetem aos desmandos do terroristas Islâmicos! Onde?!

8 - Foram ou não publicadas as caricaturas? Foram.
Circularam ou não as caricaturas? Circularam.
Venderam ou não venderam muitos jornais à pala desta estória? Venderam.
Um jornal apenas conhecido no seu país saiu ou não saiu do seu anonimato nacional? Saiu.

Oh meus amigos, não consideram que a coisa está a assumir proporções de ridículo? Eu considero que sim.

Ahh, para os rapazes dos pirolitos reluzentes:
vão mas é trabalhar, malandros.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

00 Sócrates

A propósito da notícia hoje publicada pela revista Visão, a quem desde já reconheço a coragem e a temeridade de publicar algo politicamente incorrecto e ao arrepio da vassalagem dos orgãos de comunicação aos poderes que estão, e independentemente de quaisquer procedimentos legais que possam vir a surgir relativamente à questão em apreço, a revista Visão provou a sua independência face ao poder político.

A secreta oculta de Sócrates

O primeiro-ministro está a criar um novo núcleo de serviços de informação, não previsto na lei e sem controlo do Parlamento. Trata-se de uma secreta paralela, uma espécie de serviço privado de José Sócrates. Tanto o secretário-geral do Serviço de Informações como o Governo garantem que a notícia é «falsa». A VISÃO reafirma a notícia e garante que vai continuar a investigar. Saiba tudo na edição desta quinta-feira da VISÃO


Uma questão de extrema gravidade e que, a provar-se verdade, abala os alicerces da democracia portuguesa.
Tal, para além de recuar-nos muito atrás no tempo, por alturas da PIDE, iria, invariavelmente, catapultar-nos com o choque tecnológico para um patamar de absoluta insanidade de controlo por parte de indíviduos não caracterizados e em absoluta ilegalidade.

Aguardemos pois para ver os resultados das declarações em sede de Assembleia da República, é aos Deputados que cabe, e que detêm a responsabilidade, de fiscalizar, para tanto também foram eleitos.

Aguardemos pois, serenamente ou nem tanto.

Algumas notinhas sobre o casório

Sobre a questão, lançada propagandisticamente e ao compasso do BE, do "casamento entre pessoas do mesmo sexo".

O legislador legisla de acordo com um modelo de sociedade que é desejado.

Essa mesma já foi exaustivamente analisada por essa blogosfera fora.
O modelo mais equilibrado e aceite pela sociedade é aquele que consta da Lei, desigadamente:

o Art. 1577º do CC - « Entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições deste Código.»

Já no Art. 1628º, alínea e), do mesmo CC « O casamento contraído por duas pessoas do mesmo sexo.» é juridicamente inexistente.

Ora, assim sendo, estão excluídos: a poligamia, e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Se estas pessoas que agora agitam a bandeirinha de que a sociedade se tem de conformar com casamentos entre pessoas do mesmo sexo, porque razão não agitam também a da poligamia?! Não dá jeito? Não serve os intentos da propaganda? Não está na moda e na agenda?

Grande lata a destes pseudo moralistas de pacotilha! São tão para a frentex numas coisas, e tão moralistas noutras...!! Ou não tivessem como padroeiro S. Anacleto Louçã.

Poligamia já!




Addenda:

Considerando que se trata de uma questão que vai abalar o modelo de sociedade existente, e que, é à sociedade que cabe decidir no seu conjunto, espero que o legislador tenha o bom-senso de não legislar sem consulta prévia à população, ie, a pretender tal alteração, submetam a Referendo a questão.