terça-feira, maio 31, 2005

Sampaio quer investir na Argélia

O presidente Jorge Sampaio, destacou hoje o interesse dos empresários portugueses em exportarem mais e fixarem-se na Argélia como forma de equilibrar a balança comercial entre os dois países, desfavorável a Portugal.

- DN

O Sr. Prexidente da República incitou os empresários portugueses a investirem na Argélia!!

Sr. Presidente, vexa. saberá? Terá conhecimento? Da situação pela qual Portugal atravessa?!!

Tem vossa exa. noção de que a Economia portuguesa anda pelas ruas da amargura, que o desemprego é uma realidade incontornável, que o I.V.A. vai aumentar para 21% onerando ainda mais pessoas, famílias e empresas, e que Portugal necessita de todo o investimento disponível, e ainda de, captar investimento estrangeiro para fazer face à tão propalada recessão?!

Tem? Ai sim?! Não parece!!

Oferece-se a vexa. un petit gateau irão bem com a cor dos olhos.

P.S.: (Salve seja!!) Não, não existiu qualquer engano na escrita, não é cadeau, é mesmo gateau.

Uma Proposta Radical para a Economia Portuguesa

Baixe-se o I.V.A. de 21% para 14%, e verão a Economia Portuguesa a florescer.

Uma forma correcta de colocar a verdadeira iniciativa privada e a concorrência de mercado a funcionar. Verão o investimento estrangeiro a entrar em Portugal, e as pessoas, famílias e empresas a criar riqueza.

Têm medo de acabar com a pseudo recessão económica? Essa ficção para inglês ver?

Baixem. E verão os resultados: a pessoas a poderem usufruir dos rendimentos do seu trabalho, Trabalho, e não cultivo de subsídios.

segunda-feira, maio 30, 2005

La vache qui ne rit pas

VIVE LES FRANÇAIS!



Stances

J'ay varié ma vie en devidant la trame
Que Clothon me filoit entre malade et sain,
Maintenant la santé se logeoit en mon sein,
Tantost la maladie extreme fleau de l'ame.

La goutte ja vieillard me bourrela les veines,
Les muscles et les nerfs, execrable douleur,
Montrant en cent façons par cent diverses peines
Que l'homme n'est sinon le subject de malheur.

L'un meurt en son printemps, l'autre attend la vieillesse,
Le trespas est tout un, les accidens divers :
Le vray tresor de l'homme est la verte jeunesse,
Le reste de nos ans ne sont que des hivers.

Pour long temps conserver telle richesse entiere
Ne force ta nature, ains ensuy la raison,
Fuy l'amour et le vin, des vices la matiere,
Grand loyer t'en demeure en la vieille saison.

La jeunesse des Dieux aux hommes n'est donnee
Pour gouspiller sa fleur, ainsi qu'on void fanir
La rose par le chauld, ainsi mal gouvernee
La jeunesse s'enfuit sans jamais revenir.


- Pierre de Ronsard (1524-1585)

sexta-feira, maio 27, 2005

Hoje como ... em 1882!!

Passemos á politica.

N'este campo não ha, ideia propriamente nacional,--é evidente.


Perdendo a pouco e pouco a consciencia da sua tradição historica, Portugal, politicamente, não tem hoje papel na civilisação. Está desempregado. Figura no congresso das nações europeias como um paiz sem modo de vida. Perante o progresso não tem profissão. A missão que elle desempenhou na Renascença pela obra magnifica dos seus sabios, dos seus navegadores, dos seus commerciantes e dos seus artistas, as excellenles condições da sua situação geographica e a paz interior de que tem gosado emquanto a Hispanha se dilacera a si mesma nas eternas lutas intermitentes de desaggregação e de unificação das suas provincias, davam a Portugal o direito e o dever de assumir n'este seculo a preponderancia hegemonica dos estados peninsulares, a direcção espiritual da civilisação iberica. Em vez d'isso Portugal descansa desde o seculo XVI sobre os monumentos immortaes da sua passada energia e acha-se no movimento moderno da raça latina como uma nacionalidade com licença illimitada para tomar ares. Os seus filhos mais intelligenles e mais fortes, uns perseguidos, outros despresados, abandonaram-o aos reis, aos estadistas, aos padres, aos persevejos, ás moscas, e foram uns para os Paizes Baixos fundar e enriquecer a Hollanda e botar á luz Spinosa; outros foram para a America Austral fundar, agricultar e enriquecer o Brazil. O resto é o que ahi está ha dusentos annos sentado ao sol n'uma ponta de banco do mappa-mundi, a cabecear, a coçar os joelhos e a ouvir ranger o calabre á nora da coisa publica, puxada pelo governo, velho boi, d'olhos tapados, afeito ao cerco peguinhado do poço sem bica, tornando a deitar para baixo a agua que traz para cima, e não sabendo o proprio governo, nem sabendo ninguem por que ninguem se importa com isso, se é já o pau da nora que empurra de traz o animal ou se é ainda o animal que tira para deante o pau da nora.

Os differentes partidos que ha muitos annos se succedcm no exercicio do poder teem por chefes dois ou tres individuos, cujas personalidades, absolutamente destituidas de ideias correlativas ou concomitantes, representam as duas ou trez phases por que successivamente vae passando e repassando em circulo sobre o mesmo carreiro a rotação governativa.

Os personagens alludidos teem as intenções mais puras e mais honestas d'este mundo. Ter outras, deshonestas e impuras, dar-lhes-hia massada, e para ahi é que elles não vão.

Diz-se tambem que são todos mais ou menos fortes n'essa arte, velha e atrasada, que se chama a eloquencia e que tem por objecto desfaser pela exageração artificial das palavras a justa proporção das coisas.

São ainda--affirma-se geralmente--habeis parlamentares, o que quer dizer que possuem o talento de dominar as assembleias por meio de transigencias reciprocas e de concessões mutuas, rasoirando os parlamentos pelo nivel de uma mediocridade discreta, tão ôcca como estéril.

Por baixo d'essas virtudes, que reconhecemos e veneramos, os homens que ha vinte annos se revezam no governo carecem das ideias geraes de que procede na sciencia o ponto de vista governativo. As assembleias das duas camaras, revezando-se ora para a direita ora para a esquerda, dão ou retiram a maioria dos votos a cada um d'aquelles senhores, consagrando-se exclusivamente a defendel-os ou a impugnal-os, sem portanto sahirem nunca da orbita dos principios que elles representam, principios a que não correspondem systemas diversos c que se distinguem apenas uns dos outros pelos signaes physionomicos dos estadistas que os teem no ventre, podendo-se dividir assim: principios governativos calvos, principios governativos d'olhos tortos e principios governativos de cabellos tingidos.

Nestes esforços successivos das grandes massas intelligentes da nação vemos dessorarem-se gerações e gerações consecutivas de deputados, fortes temperamentos alguns, solidos provincianos de boa fé, que de trez em trez annos o parlamento recebe vivos e honrados do interior das provincias para trez annos depois lh'os devolver aniquilados para toda a especie d'iniciativa, corrompidos pelo habito de serem mandados, castrados na dignidade pela disciplina imposta pelos seus chefes, podres no caracter pela fermentação da intriga, indelevelmente marcados para toda a vida, pelo ferrete official, com uma pelintrice austera e miseravel, na figura, com uma côdea veneranda de solemnidade prudhommesca, estupida e impenetravel, no cerebro.

É pela mais justa e pela mais completa comprehensão do seu destino social que tanto os individuos como os povos se disciplinam, se fortalecem e se aperfeiçoam. Em Portugal a incapacidade governativa produsiu, primeiro que tudo, este resultado funesto: fez perder ao paiz a noção historica do seu destino, cortou o fio da tradição nacional, lançando o espirito publico n'uma existencia d'accaso como a das tribus bohemias. Depois o predominio da incompetencia scientifica na direcção dos negocios dissolveu a pouco e pouco a liga que deveria estreitar a convergencia de todas as actividades para um fim commum, e pela separação dos interesses operou a separação das energias.

É assim que em pleno seculo XIX, quando está exhuberantemente demonstrado que todos os factos do universo, assim na ordem physica como na ordem social, se encadeiam uns nos outros por leis imprescriptiveis de contiguidade e de correlação, nós vemos em Portugal exercer-se a acção do poder no estudo dos phenomenos tratando-os isoladamente, n'um ponto de vista fetichista, de preto botocudo, como se cada um d'esses phenomenos, regido por uma lei especial e divina, fosse a causa e o effeito de si proprio.

Com mil exemplos se podia comprovar a affirmação que fazemos. Mas basta-nos um qualquer, tirado ao accaso do monte, para pôr essa affirmação em evidencia de facto.

Veja-se como em cada legislatura se propõe e se discute uma das poucas questões graves de que o parlamento ainda se ocupa. Referimo-nos á coisa a que, no calão official em que tem degenerado a lingua patria, se chama--_a questão da fazenda_.

Reunidas as camaras e aberto perante ellas o orçamento do Estado, começa-se invariavelmente por constatar, n'um tremolo elegiaco de symphonia funebre, que continua a existir o deficit. Cada um dos tres governos a quem a corôa alternadamente adjudica a mamadeira do systema encarrega-se de explicar aos tachigraphos essa occorrencia--aliás desagradavel, cumpre dizel-o--mas de que elle, governo em exercicio, não tem a culpa. A responsabilidade cabe ao governo transacto, bem conhecido pelos seus esbanjamentos e pela sua incuria.

Para cada um d'esses tres governos sucessivamente encarregados de trazerem o deficit ao regaço da representação nacional, o governo que immediatamente o precedeu n'esse mesmo encargo é o ultimo dos imbecis.

Tal é o conceito formidavel em que cada um dos referidos tres governos tem os outros dois!

A corôa pela sua parte--e é este o mais augusto do todos os seus privilegios--é successivamente da opinião de todos os tres ministerios; e depois de haver retirado, com sincero nojo, a sua confiança aos imbecis do grupo n.º 1, n.º 2 e n.º 3, a corôa torna a restituir a citada confiança, com uma effusão de jubilo tão sincero como o nojo anterior, a cada um dos grupos de imbecis já referidos mas collocados chronologicamente em sentido inverso d'aquelle em que estavam, ou sejam, por sua ordem, os imbecis n.º 3, n.º 2 e n.º 1.

Trocadas as descomposturas preliminares sobre a questão da fazenda, decide-se que é indispensavel, _ainda mais uma vez_, recorrer ao credito, e faz-se um novo emprestimo. No anno seguinte averigua-se por calculos cheios de engenho arithmetico que para pagar os encargos do emprestimo do anno anterior não ha outro remedio senão recorrer _ainda mais uma vez_ ao paiz, e cria-se um novo imposto.

Fazem-se emprestimos para supprir o imposto, criam-se impostos para pagar os juros dos emprestimos, tornam-se a fazer emprestimos para atalhar os desvios do imposto para o pagamento dos juros, e n'este interessante circulo vicioso, mas ingenuo, o deficit--por uma extranha birra, admissivel n'um ser teimoso, mas inexplicavel n'um mero saldo negativo, em uma não existencia,--augmenta sempre atravez das contribuições intermittentes com que se destinam a extinguil-o já o emprestimo contrahido, já o imposto cobrado.

Assim como os alforges dos antigos pobres das feiras e das extinctas ordens mendicantes, o deficit tem dois sacos, um para deante outro para traz, ambos destinados a receber o vacuo. N'um dos sacos mette-se a divida fluctuante, no outro mette-se a divida consolidada. De quando em quando ha um relampago de jubilo, porque parece por um momento que o alforge do deficit está vasio, isto é, que está sem vacuo dentro: é a divida, que se achava em estado de fluctuação no saco da frente, que passou no estado de consolidação para o saco de traz.

A alegria fugaz mas intensa que provem da illusão d'esta gigajoga vale o dinheiro que custa, mas custa sempre alguma coisa, porque de todas as vezes que elles mexem na divida, seja para o que fôr, mesmo para a mudar de saco, ella cresce.

Pela parte que lhe respeita o paiz espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se collecte, porque estará, collectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.

No emtanto o problema de augmentar a riqueza--unico meio de prover aos encargos--é considerado como absolutamente extranho á _questão da fazenda_. E todavia nem toda a gente ignora que a riqueza não augmenta senão pelo desenvolvimento progressivo do trabalho e que este se acha ligado aos progressos da industria.

Ora emquanto á industria ... Mas este novo ponto pode ficar para outra vez. O feliz encyclopedismo das inaptidões do estado proporciona-nos a facilidade de poder comprovar a sua incapacidade com um só facto qualquer, demonstrando que no paiz coliocado sob o patrocinio de um tal governo, não pode dar-se senão uma especie de cohesão politica:--a liga dos governados para o despreso convicto dos que governam.


Assim escrevia Ramalho Ortigão em, As Farpas - Junho/Julho de 1882.

POUCA VERGONHA E FALTA DE RESPEITO

É a única conclusão que se pode retirar da intenção de construção de um novo edíficio parlamentar.

Deputados querem novo edifício para gabinetes

O projecto já foi apresentado pela secretária-geral da AR aos deputados


(..)

Há duas legislaturas ficou concluído um novo edifício do Parlamento, de cinco andares, que aloja dois deputados por gabinete (refira-se que existem 230 deputados).

(..)

Com os partidos de acordo, resta saber se é compatível a necessidade de mais espaço com o aperto nas finanças públicas.

- DN

Aquando da construção do actual edíficio novo, deviam ter previsto logo e a priori, instalações suficientes para criar as condições necessárias ao exercício das funções parlamentares.

Não é no momento actual em que, o Governo se propõe aumentar o I.V.A. de 19 para 21%, em que os cidadãos se vêm confrontados com uma situação que, de dificuldade passará ao absurdo, que a AR irá dar início a uma nova construção que irá dispender milhões e milhões de contos do erário público!!!!!

Haja mais respeito, e mais vergonha quando se colocam em causa aquilo que as pessoas têm que, necessariamente pagar ao Estado, e o dispendio absurdo que o Estado assume desbaratando o dinheiro dos contribuintes!!

TENHAM VERGONHA!
Aguentem-se! Se uns têm, os outros também.

quinta-feira, maio 26, 2005

Parabéns ao 'Jaquim'

Parabéns por estes dois anos de Blogosfera.

Conte muitos!!


REGRESSO AO LAR

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!


- Guerra Junqueiro, Os Simples

quarta-feira, maio 25, 2005

MUITO BEM

Um GRANDE: MUITO BEM!
Para o Presidente da Bancada Parlamentar do CDS-PP, neste debate 'inominável'.

Autofagia política



O debate mensal de hoje de José Sócrates com os deputados é o segundo que realiza como chefe do Governo. Mas esta tarde o primeiro-ministro, com o fantasma do défice a pairar de forma mais sombria que nunca, terá o seu primeiro teste parlamentar a doer. Vai ser confrontado com a ruptura de promessas eleitorais - como a de não aumentar impostos -, mas também com o incumprimento de um compromisso assumido depois da tomada de posse o de não atirar as culpas pela situação do País para o anterior Governo (discurso a que o PS já aderiu em força).

- DN

Mais logo, um vendaval analítico: do PS, de José Sócrates, do PM, dos Ministros das Finanças, e da "bandalheira" em geral.

Meu Amor, Meu Amor

Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Eu tenho a certeza.

Deus de guarde

quarta-feira, maio 18, 2005

A tal da "inducação sesual"

Sobre o Programa de Educação Sexual nas escolas, via Faccioso: aqui e aqui. Quanto à demência, estou plenamente de acordo, é o caos.

Eu já assinei a Petição contra esta situação aberrante e inqualificável em que o Ministério da Educação, per se, instituiu um conteúdo de educação sexual às crianças, sem qualquer consulta aos Pais, que.. é de bradar!!

terça-feira, maio 17, 2005

Dragão Poeta

Para além de Filósofo, o Dragão é um autêntico poeta, da melhor cêpa!

O Problema de Portugal
não é falta de inteligência:
é, sim, a parvoíce ufana
diplomada, trolha, sacana
albardada de ciência.

O Problema de Portugal
não é a falta de herança:
é, sim, o vácuo promovido
a espírito santo de ouvido
a asno de Sancho Pança!

O problema de Portugal
não é falta de inspiração:
é, sim, a indistinta massa
que imita, bajula, grassa
esgoto d'ova em ovação.

O Problema de Portugal
não é a falta de Talento:
é, sim, a bosta que leveda
fermenta, incha, cega
e quase eclipsa o firmamento.

Repetir três vezes, antes de adormecer, para exorcizar espectros, avantesmas e aleijões mentais que possuem e assombram este país. Esses mesmo que aviltam, que degeneram uma pátria de sonhadores numa Quinta das Celebridades de pesadelo - um chiqueiro orwelliano, onde os comensais refocilantes se geminam e lambuzam: todos diferentes e todos iguais.

segunda-feira, maio 16, 2005

Hoje ... :)



Como a concha de nácar luminoso
Em que Vénus surgiu, risonha e nua,
A Galera vogava ao sol radioso
Com a graça dum Cisne que flutua.

Soltas ao vento as velas de brocado,
Ao som das Liras, sobre o rio imenso,
Dos remos de oiro e de marfim sulcado,
O destino do Mundo ia suspenso!

Como nuvens correndo, as horas passam;
Já se divisa o porto; o Sol declina,
E enquanto as velas, marinheiros, cassam,
Ela que um sonho de poder domina,

Diante do espelho, a reflectir, perscruta
Do seu corpo a beleza profanada,
Como o rufião nocturno, antes da luta,
Examinando a lâmina da espada!


- António Feijó, Sol de Inverno

sexta-feira, maio 13, 2005

Perfumes "Par Amour" - Clarins

Publico dois perfumes que recentemente descobri! Ambos excelentes, o primeiro é mais "fresco e leve" que o segundo.

O primeiro é um perfume de dia - com notas de rosa, tangerina e frutos silvestres; ao passo que, o segundo é um perfume "quente", de noite - com notas sensuais de sândalo (que aprecio muito)



Nota: Miss Pearls, está a dar-me para os perfumes, deve ter a haver com o aniversário que se aproxima!

Afinal a Zazie tem uma tasca..

e não dizia nada!

Botasse linque, e o nome é mesmo apropriado!!

Radicais pela Ética

Declaração de Princípios dos Radicais

quinta-feira, maio 12, 2005

Agradecimentos

A todos quantos "lincaram" o Sátira Direita, muito obrigada.

Espero que se divirtam a lê-lo; tanto quanto me dá, um imenso, gozo escrever aqueles textos "louquinhos": uma imensa e larga gargalhada! :)

Considero que, de facto, o riso e a alegria (o amor primeiro, claro) são os melhores medicamentos nesta Vida



Charlie Chaplin escreveu:

"Através do humor nós vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante, o insignificante. Ele também desperta o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa saúde mental."

E é bem verdade!

O COMENDADOR NEVES


Desdobrei o jornal uma hilariante crítica
de Ramalho Ortigão apupava a política,
como um Gavroche audaz, simpático, nervoso.
Levantei a vidraça: era um dia radioso!
Sentia-se a expansão da vida, um sentimento
na natureza, alegre e toda cm movimento.
Via-se o campo em roda activo e pitoresco.
Era na aldeia. Um ar vivificante, fresco,
regalava os pulmões. Os pássaros chilreavam
numa doida alegria, erguiam-se, esvoaçavam;
o sol banhava em cheio uma seara loura,
vinham cantos joviais das lides da lavoura.
E, a passo, mansamente, o pêlo ao sol brilhando,
numas terras ao longe os bois iam lavrando.

Eu lia o folhetim. O estilo de Ramalho,
neste imenso bem estar do dia e do trabalho,
vibrava, castigando uns figurões sem siso
com a ortiga da troça e o látego do riso.
Ouvi fora, na rua, umas risadas breves...
Debrucei-me à janela e avistei o Neves,
gordo, de chapéu alto - altivo e escarranchado
num burrinho cinzento O animal, coitado,
tísico, muito velho, ajoujava-se ao peso
do Neves – bom cristão, mas cabeçudo e obeso.
Era comendador e herdara dumas velhas.
Para apressar o burro, erguia-lhe as orelhas,
dava-lhe! E, ao caminhar, a alimária tristonha
revelava no olhar a íntima vergonha
de trazer sobre si tão volumoso bruto.
Ele vinha a cuspir e a chupar no charuto.
Cara enorme, barbeada, o cabelo cortado
à escovinha, o nariz vermelho e esparrado.

Apresentava sempre uns ares carrancudos.
Tinha olhar de sagui e ouvidos cabeludos.
Era feio. Um jornal chamou-lhe orango-tango;
ele leu, Ficou rubro e disse: – «Não me zango.»
E em seguida exclamou: – «Marotos!» E desfez
o jornal, esfregou-o. Andou ralado um mês.
Trazia, como sempre, o casaco cinzento,
velho, desabotoado, o colete sebento
e umas calças azuis, largas, anti-modernas,
para lhe acomodar a grossura das pernas.
«Não queria saber da moda dos janotas.»
Em baixo aparecia o elástico das botas
já ruço e desfiado.

Vinha pois muito sério
o Neves, a fumar, com cara de mistério,
notando, espiando tudo. E de instante a instante
vergastava, furioso, a alimária arquejante
e, alargando com custo as pernas mais e mais,
atirava-lhe ao ventre as botas colossais.
Descobriu-se ao passar um velho camponês,
ele correspondeu, inchando-se e cortês.
O cura apareceu a andar devagarinho,
nédio, fez-lhe um aceno... – «Olá, sr. padrinho!»
balbuciou um rapaz, à espera do outro lado,
de barrete na mão, humilde, envergonhado;
o Neves deu-lhe a mão e o moço, com respeito,
pôs nela um beijo farto e foi-se satisfeito.
Aproximou-se o cura e vários eleitores;
o Neves fez-se bom, amável. – «Meus senhores...
E apertou logo a mão a todos um por um.
E, manhoso: - «Não sei se me escapou algum...»
O burro ia escutando, irónico e paciente.
Via-se a sujeição no olhar da pobre gente,
que dava sempre o voto ao sor comendador...
Ele gozava o efeito. E com ar protector,
foi-lhes dizendo: «Adeus!» num tom muito velhaco.
Fez promessas a três e a um deu um pataco.
Que magnífica cena!

Os dois iam passando,
burro e comendador. Defronte o Brás, orando,
assomou logo à porta a rir com os fregueses.
Não tardava a eleição. Havia quatro meses
que se afagava o povo. Era um desassossego.
O cura, o sacristão, uns moços sem emprego,
um bacharel poeta e um brasileiro rico,
com fome de comenda e irmãos com fome, o Chico;
tudo o que pretendia algum favor do estado,
tudo andava lidando, ansioso, atarefado,
«para salvar o povo, a pobre humanidade»,
como disse em mau tipo o Clarim da Verdade.
O Neves igualmente andava em lida e isto
por pretender também o hábito de Cristo.
Eu desatei a rir. O Neves, que figura!
Isto dava ao Bordalo uma caricatura.

Pus-me então a pensar n burro é um animal
que trabalha a valer e não pratica  mal;
é humilde, paciente, acomodado e sóbrio,
um filósofo até – e é um pesado opróbrio
assentar-se-lhe em cima um animal humano!
Não consta que roubasse ou que fizesse dano,
a não ser pela fome; e eu nunca tive ideia
que algum burro comprasse os votos de uma aldeia,
nem sei que este animal, herói de muita lenda,
pregasse alguma vez na albarda uma comenda.

Vejam que diferença entre o jumento e o homem.
Basta só comparar o modo por que comem-
o burro come pouco, é sóbrio; ora o Neves
diz «que não se dá bem com as comidas leves»,
e, a exemplo do cura, um homem de virtude,
farta-se como três – «para gozar saúde».
]á o vi num jantar comer sofregamente,
insaciável, bestial, e olhar toda a gente
espantada. Depois da última eleição
alta noite acordou com uma indigestão;
veio um doutor do centro; esteve incomodado.
O Clarim deu notícia honrosa.

E vê-lo, irado,
lendo uma folha oposta?... Ele não sabe ler;
soletra, descompõe... E então para escrever
u nome por inteiro, é mesmo uma maçada!
Lança primeiro em roda a vista desconfiada;
põe os óculos de ouro, olha, pega na pena,
molha-a, cai-lhe um borrão, perturba-se... Que cena!
Suja as mãos, o papel, garrancha o nome extenso
e ergue-se atarantado e limpa-se no lenço.

Mas isso... ele dispensa as belas faculdades...
Ural O Neves possui várias propriedades,
trinta contos de réis a juro e em inscrições,
é sempre do governo e ganha as eleições.
O Direito e o Clarim, no nosso passado,
chamaram-lhe «homem probo, um cidadão honrado,
pai do povo...»; e ele, vendo alguém dos dois jornais,
diz, modesto: – «Gostei.» E que publiquem mais.

Na tenda orava o Brás; e um velho que eu conheço
Exclamou: – «Ora esta! O mundo está do avesso!»
E c de facto, pensei eu; o diabo, por veneta,
deu algum pontapé enorme no planeta
e o planeta tremeu, saltou fora do eixo!
Isso aí para o céu ou há grande desleixo...

Mas o sol irradiava, o azul era puríssimo,
os campos tinham vida, um bem estar suavíssimo.
Achei mais irrisório o Neves, mais casmurro,
e fez-me dó o ar sentimental do burro,
tísico, resignado, e prometi vingá-lo
com o alexandrino e o lápis do Bordalo.

Defronte a discussão tornara-se animada.
Encheu a mercearia enorme gargalhada;
dissera o Brás: – «Se o mundo endireitasse... Ó diacho!
ficava o burro em cima e o Neves por debaixo!»


- Garcia Monteiro

Liberdade



Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.


- Sophia de M. B. Andersen

sábado, maio 07, 2005

Novo

Vem aí um novo Blog, com muitas novidades!

Sátira Direita

«Sátira Política, de Costumes ou Simplesmente: Politicamente Incorrecta»

sexta-feira, maio 06, 2005

Ícaro



Ícaro - Filho de Dédalo e de uma escrava, Ícaro morreu vítima das invenções do pai, que ele utilizou sem fazer caso das advertências paternas. Eu te previno, Ícaro, tens de fixar teu curso numa altura média. Aprisionado no labirinto, com seu pai que ajudara Ariana e Teseu a matar o Minotauro, ele consegue evadir-se com o auxílio de Pasífae e graças às asas que Dédalo lhe fez e que ele fixou com cera sobre os ombros. Ícaro voou por cima do mar. E desprezando todos os conselhos de prudência elevou-se cada vez mais alto, cada vez mais perto do Sol. A cera derrete e ele precipita-se no mar.

Ícaro é o símbolo do intelecto que se tornou insensato..

(Chevalier e Gheerbrant, 1998)

O Technorati..

.. é uma 'bodega'.

Nem vale a pena chatear-me; não funciona.

Também o que é que se espera de um serviço que não é pago?!
"Não funcionar", e não poder-se reclamar.

quinta-feira, maio 05, 2005

I told you so!

PS admite mudar lei do aborto sem referendo

Vários dirigentes do PS admitem vir a alterar a lei do aborto no Parlamento, sem recurso a referendo, caso o próximo Presidente da República, que deverá herdar este dossier, bloqueie a convocação da consulta popular. Este é o único cenário em que os altos responsáveis socialistas ouvidos pelo DN consideram legítimo mudar a lei sem referendo. Uma posição que, segundo o DN apurou, tem a concordância de José Sócrates - o primeiro-ministro comprometeu-se com a alteração da lei por referendo, mas não aceita que o processo pare por expedientes políticos.

(..)

- DN

Pois é...

quarta-feira, maio 04, 2005

UM POETA

(surge et ambula)

Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.

Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno…

Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!

- Antero de Quental

Odes Modernas

TENTANDA VIA

I

Com que passo tremente se caminha
Em busca dos destinos encobertos!
Como se estão volvendo olhos incertos!
Como esta geração marcha sozinha!

Fechado, em volta, o céu! o mar, escuro!
A noite, longa! o dia, duvidoso!
Vai o giro dos céus, vem vagaroso...
Vem longe ainda a praia do futuro...

É a grande incerteza, que se estende
Sobre os destinos dum porvir, que é treva...
É o escuro terror de quem nos leva...
O futuro horrível que das almas pende!

A tristeza do tempo! o espectro mudo
Que pela mão conduz... não sei aonde!
– Quanto pode sorrir, tudo se esconde...
Quanto pode pungir, mostra-se tudo. -

Não c a grande luta, braço a braço,
No chão da Pátria, à clara luz da História...
Nem o gládio de César, nem a glória...
É um misto de pavor e de cansaço!

Não é a luta dos trezentos bravos,
Que o solo amado beijam quando caem...
Crentes que traz um Deus, e à guerra saem,
Por não dormir no leito dos escravos...

É a luta sem glória! é ser vencido
Por uma oculta, súbita fraqueza!
Um desalento, uma íntima tristeza
Que à morte leva... sem se ter vivido!

Não há aí pelejar... não há combate...
Nem há já glória no ficar prostrado –
São os tristes suspiros do Passado
Que se erguem desse chão, por toda a parte...

É a saudade, que nos rói e mina
E gasta, como à pedra a gota d'água...
Depois, a compaixão, a íntima mágoa
De olhar essa tristíssima ruína...

Tristíssimas ruínas! Entristece
E causa dó olhá-las – a vontade
Amolece nas águas da piedade,
E, em meio do lutar, treme e falece.

Cada pedra, que cai dos muros lassos
Do trémulo castelo do passado,
Deixa um peito partido, arruinado,
E um coração aberto em dois pedaços!

II

A estrada da vida anda alastrada
De folhas secas e mirradas flores...
Eu não vejo que os céus sejam maiores,
Mas a alma... essa é que eu vejo mais minguada!

Ah! via dolorosa é esta via!
Onde uma Lei terrível nos domina!
Onde é força marchar pela neblina...
Quem só tem olhos para a luz do dial

Irmãos! irmãos! amemo-nos! é a hora...
É de noite que os tristes se procuram,
E paz e união entre si juram...
Irmãos! irmãos! amemo-nos agora!

E vós, que andais a dores mais afeitos,
Que mais sabeis à Via do Calvário
Os desvios do giro solitário,
E tendes, de sofrer, largos os peitos;

Vós, que ledes na noite... vós, profetas...
Que sois os loucos... porque andais na frente...
Que sabeis o segredo da fremente
Palavra que dá fé – ó vós, poetas!

Estendei vossas almas, como mantos
Sobre a cabeça deles... e do peito
Fazei-lhes um degrau, onde com jeito
Possam subir a ver os astros santos...

Levai-os vós à pátria-misteriosa,
Os que perdidos vão com passo incerto!
Sede vós a coluna de deserto!
Mostrai-lhes vós a Via-dolorosa!

III

Sim! que é preciso caminhar avante!
Andar! passar por cima dos soluços!
Como quem numa mina vai de bruços
Olhar apenas uma luz distante!

É preciso passar sobre ruínas,
Como quem vai pisando um chão de flores!
Ouvir as maldições, ais e clamores,
Como quem ouve músicas divinas!

Beber, em taça túrbida, o veneno,
Sem contrair o lábio palpitante!
Atravessar os círculos do Dante,
E trazer desse inferno o olhar sereno!

Ter um manto da casta luz das crenças,
Para cobrir as trevas da miséria!
Ter a vara, o condão da fada aérea,
Que em ouro torne estas areias densas!

É, quando, tem temor e sem saudade,
Puderdes, dentre o pó dessa ruína,
Erguei o olhar à cúpula divina,
Heis-de então ver a nova-claridade!

Heis-de então ver, ao descerrar do escuro,
Bem como o cumprimento de um agouro,
Abrir-se, como grandes portas de ouro,
As imensas auroras do Futuro!

- Antero de Quental

terça-feira, maio 03, 2005

S o l e t r a n d o

Sem sequer fazer juízos sobre a matéria, em si.

Tão somente, trata-se de analisar os comportamentos inerentes a toda a tomada de posição - do PR e dos Partidos de esquerda com assento parlamentar.

O PR ao tomar a decisão de devolver ao Parlamento a proposta de referendo sobre a IVG, recusando o agendamento da mesma para Julho do ano em curso, suscita-me dois comentários:

- A data proposta foi intencional. O mês de Julho é um dos meses escolhidos para o gozo de férias, daí que a presença na votação de tal referendo fosse diminuta. Neste pressuposto, o PR decidiu bem. Contudo, e considerando que a atitude do PR na dissolução de um Parlamento com uma maioria absoluta legítima e democraticamente eleita, exige uma maior acuidade na análise, e esta indica que, existiu intencionalidade no agendamento para Julho, e que tal data, levaria à recusa com base nos fundamentos apresentados.

- Considero que a despenalização da IVG terá lugar por via "administrativa", tendo em conta que:

a esquerda não vai esperar que "um novo PR" agende o referendo.
O PS - 121 PCP - 12 PEV - 2 (estes é que eu não entendo! Nunca se submeteram a uma eleição autónoma..) BE - 8

e

PSD - 75 CDS-PP - 12

ainda que considerando a possibilidade de 'liberdade de voto', indubitavelmente, passará. E passará, sem respeito para com a expressão popular em referendo.
O facto de existir uma maioria de esquerda saída das últimas e recentes eleições legislativas, não implica que a população não se expresse em sentido inverso à posição defendida.
Áqueles que referem que a questão foi debatida durante a campanha eleitoral, foi sempre dito que qualquer alteração seria precedida de referendo.

Com a maioria absoluta que a esquerda tem no Parlamento, tratou-se de um "golpe de secretaria".

A 'ideia de democracia' de Louçã

Para quem tinha dúvidas relativamente à 'ideia de democracia' que o Sr. Deputado Francisco Anacleto Louçã, tem, bem assim como o escopo da "tortuosa data de agendamento" do referendo:

O dirigente do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã defendeu esta segunda-feira que o Parlamento deve seguir com a aprovação da lei de despenalização do aborto, depois de o Presidente da República ter decidido não convocar o referendo.

(..)

«O referendo era uma circunstância política vantajosa do ponto de vista democrático. Se o Presidente da República o recusou, não vamos ficar à espera. Se o referendo não é possível, a Assembleia da República tem que discutir o problema», disse.

O deputado do BE sublinhou que o projecto de lei do PS que despenaliza o aborto até às dez semanas de gravidez «foi aprovado na generalidade» e defendeu que o processo legislativo deve avançar no Parlamento, sem esperar por referendo.

Mais um, atestado de estupidez

Fala-se na descredibilização da política e dos políticos, e, de facto, a realidade não fica muito aquém desta imagem.

Ontem o PR recusou o agendamento do referendo relativo à IVG, com base em que, entre outros fundamentos, a data considerada para a realização do dito não seria a mais indicada para obter uma adesão expressiva da população às urnas - Julho, é um mês em que as pessoas 'tiram férias' de Verão.
Tal não era, por certo, desconhecido por quem propôs tal data.

Mais uma vez foi passado um atestado de estupidez à população - revelando a total falta de respeito que existe por parte de alguns para com muitos.

Mais uma vez 'as questões' serão resolvidas 'na secretaria', ao arrepio da decisão livremente expressa por cada cidadão eleitor.
Mais uma vez, a 'técnica de Orwell' será aplicada.

Quem afirma que esta maioria foi mandatada para resolver a questão da IVG sem recorrer a referendo, uma vez que tal questão foi falada durante a campanha eleitoral, deverá consultar de novo as declarações e afirmações produzidas então, em momento algum foi falado pelos partidos de esquerda que tal seria resolvido por iniciativa directa, e sim e somente após consulta popular em referendo.

«Vira o disco e toca o mesmo».

VEREMOS QUE GOLPE DE RINS UTILIZARAM PARA A PSEUDO CONSTITUIÇÃO EUROPEIA.

segunda-feira, maio 02, 2005

Pois é..

O BE dá o "toque" e o PS vai a "reboque" (?)

BE defende aprovação da despenalização, do aborto, na AR

O dirigente do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã defendeu esta segunda-feira que o Parlamento deve seguir com a aprovação da lei de despenalização do aborto, depois de o Presidente da República ter decidido não convocar o referendo.

Jorge Sampaio anunciou a sua decisão de não convocar um novo referendo ao aborto por «não estarem asseguradas as condições mínimas» a uma «participação significativa na consulta».
Para Francisco Louçã, a decisão do Presidente da República «significa que não há referendo durante o mandato de Jorge Sampaio e que o Parlamento volta a ter a responsabilidade de resolver o problema do julgamento das mulheres».

«O referendo era uma circunstância política vantajosa do ponto de vista democrático. Se o Presidente da República o recusou, não vamos ficar à espera. Se o referendo não é possível, a Assembleia da República tem que discutir o problema», disse.

O deputado do BE sublinhou que o projecto de lei do PS que despenaliza o aborto até às dez semanas de gravidez «foi aprovado na generalidade» e defendeu que o processo legislativo deve avançar no Parlamento, sem esperar por referendo.


- Diário Digital / Lusa

Jorge Sampaio não convoca referendo sobre o Aborto - oficial

O Presidente da República, Jorge Sampaio, anunciou hoje a sua decisão de não convocar o referendo ao aborto por "não estarem asseguradas as condições mínimas" a uma "participação significativa na consulta".

"Decidi não convocar o referendo proposto pela Assembleia da República sobre a interrupção voluntária da gravidez porque entendi não estarem asseguradas as condições mínimas adequadas a uma participação significativa dos portugueses", escreve Jorge Sampaio, numa mensagem enviada à Assembleia da República a que a Agência Lusa teve acesso.

Na mensagem enviada ao Parlamento, Jorge Sampaio observa, no entanto, que a oportunidade da realização de um novo referendo ao aborto "é hoje partilhada por um conjunto de forças políticas representadas" na Assembleia da República, pelo que a sua decisão não deve ser encarada como uma "rejeição política" da proposta apresentada pelo Parlamento.

"A conveniência de realização de um novo referendo é hoje partilhada por um amplo conjunto das forças políticas representadas na Assembleia da República, pelo que a recusa de convocação de que agora dou conta não deve ser interpretada como rejeição política do conteúdo da proposta que me foi apresentada, mas antes como incentivo à realização do referendo em circunstâncias mais adequadas na perspectiva de uma cidadania activa e participada", refere.

Na justificação mais detalhada da sua decisão, o Presidente da República argumenta que, "face aos prazos e limites em vigor no actual quadro jurídico", a consulta popular "teria de ser obrigatoriamente convocada para um domingo no próximo mês de Julho".

Ou seja, acrescenta o Chefe de Estado, "seria necessariamente realizado numa altura em que muitos portugueses já se encontram de férias".

Jorge Sampaio refere, de resto, que alertou "antecipadamente os partidos com representação parlamentar" para este facto, numa referência às reuniões que manteve com os partidos na véspera da aprovação da proposta do PS, a 20 de Abril, na Assembleia da República.

Na nota, o Presidente da República evoca ainda a experiência dos referendos realizados no país - que, salienta, "revelou fragilidades" -, chamando a atenção para o perigo de a própria figura do referendo ser posta em causa.

"Não obstante a importância do referendo enquanto instrumento privilegiado de exercício democrático do poder político, há que reconhecer que, do ponto de vista da participação dos cidadãos, a nossa anterior experiência revelou fragilidades cuja repetição importa prevenir, sob pena de o próprio instituto acabar por ser decisivamente posto em causa", escreve Jorge Sampaio.

Especificamente em relação à anterior consulta popular sobre o aborto, realizada em 1998, Jorge Sampaio lembra que este processo conduziu a um "bloqueio legislativo", sendo necessário garantir que o próximo referendo tenha por base uma participação mais expressiva.

"Acresce que o tema da interrupção voluntária da gravidez foi já objecto de um referendo de muito escassa participação, mas cujo resultado, se bem que não juridicamente vinculativo e com uma votação muito dividida entre o 'não' e o 'sim', resultou, na prática, num bloqueio legislativo cuja persistência é cada vez mais discutida", argumenta Sampaio.

"Importa, pois, assegurar que a próxima consulta popular sobre a mesma matéria se realize em condições de significativa participação cívica", sublinha.

Na comunicação, Jorge Sampaio advoga ainda a necessidade de "repensar a adequação dos prazos e limites circunstanciais, temporais e materiais para a realização dos referendos.

"Tendo sido desencadeado um processo de revisão constitucional extraordinária, será essa uma oportunidade excelente para correcção prévia dos requisitos e condicionamentos que se têm revelado mais problemáticos ou desajustados", conclui.


- LUSA

Detendo o PS maioria absoluta no Parlamento, coadjuvado pelo PCP e pelo BE, que se têm "batido ferozmente" pela alteração da legislação existente à IVG, duas questões se colocam:

Irá a maioria de esquerda "acatar" silenciosamente a decisão do PR?

Irá a maioria de esquerda avançar com propostas legislativas, para alteração ao quadro actual, sem consulta popular?

domingo, maio 01, 2005

Dia da Mãe



À minha Querida Mãe:



Obrigada Mãezinha!

Suavidade

Pousa a tua cabeça dolorida
Tão cheia de quimeras, de ideal,
Sobre o regaço brando e maternal
Da tua doce Mãe compadecida.

Hás-de contar-me nessa voz tão qu'rida
A tua dor que julgas sem igual,
E eu, pra te consolar, direi o mal
Que à minha alma profunda fez a Vida.

E hás-de adormecer nos meus joelhos...
E os meus dedos enrugados, velhos,
Hão-de fazer-se leves e suaves...

Hão-de pousar-se num fervor de crente,
Rosas brancas tombando docemente,
Sobre o teu rosto, como penas de aves...


- Florbela Espanca