sábado, abril 30, 2005

O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha

Hoje comemoram-se 400 Anos da publicação da Obra:

O Engenhoso Fidalgo D. Quixote de la Mancha, de Miguel Cervantes Saavedra.

Obra monumental da literatura mundial.
Um trecho da Obra:



Nisto, avistaram trinta ou quarenta moinhos de vento dos que há naqueles campos, e assim como D. Quixote os viu, disse ao seu escudeiro:

- A ventura vai guiando as nossas coisas melhor do que pudéramos desejar; pois vê lá, amigo Sancho Pança, aqueles trinta ou pouco mais desaforados gigantes, com os quais penso travar batalha e tirar de todos a vida, com cujos despojos começaremos a enriquecer, pois esta é boa guerra, e é grande serviço de Deus varrer tão má semente da face da terra.

- Que gigantes? - disse Sancho Pança.

- Aqueles que ali vês - respondeu seu amo -, de longos braços, que alguns chegam a tê-los de quase duas léguas.

- Veja vossa mercê - respondeu Sancho - que aqueles que ali aparecem não são gigantes, e sim moinhos de vento, e o que neles parecem braços são as asas, que, empurradas pelo vento, fazem rodar a pedra do moinho.

- Logo se vê - respondeu D. Quixote - que não és versado em coisas de aventuras: são gigantes, sim; e se tens medo aparta-te daqui, e põe-te a rezar no espaço em que vou com eles me bater em fera e desigual batalha.

E, isto dizendo, deu de esporas em seu cavalo Rocinante, sem atentar às vozes que o seu escudeiro Sancho lhe dava, advertindo-lhe que sem dúvida alguma eram moinhos de vento, e não gigantes, aqueles que ia acometer. Mas ele ia tão certo de que eram gigantes, que nem ouvia as vozes do seu escudeiro Sancho, nem via o que eram, embora já estivesse bem perto, antes ia dizendo em altas vozes:

- Non fuxades, cobardes e vis criaturas, que um só cavaleiro é este que
vos acomete.

Nisto se levantou um pouce de vento, e as grandes asas começaram a girar, em vista do qual, disse D. Quixote:

- Ainda que movais mais braços que os do gigante Briaréu, haveis de pagar-me.

E, isto dizendo, e encomendando-se de todo coração à sua senhora Dulcinéia, pedindo-lhe que em tal transe o socorresse, bem coberto da sua rodela, com a lança enristada, arremeteu a todo o trote de Rocinante e investiu contra o primeiro moinho que tinha à frente; e ao lhe acertar uma lançada na asa, empurrou-a o vento com tanta fúria que fez a lança em pedaços, levando consigo cavalo e cavaleiro, que foi rodando pelo campo muito estropiado. Acudiu Sancho Pança ao seu socorro, a todo o correr do seu asno, e ao chegar viu que não se podia mexer: tamanho fora o tombo que dera com ele Rocinante.

- Valha-me Deus! - disse Sancho. - Eu não disse a vossa mercê que visse bem o que fazia, que não eram senão moinhos de vento, e só o podia ignorar quem tivesse outros na cabeça?

- Cala, amigo Sancho - respondeu D. Quixote -, que as coisas da guerra mais que as outras estão sujeitas a contínua mudança: quanto mais que eu penso, e assim é verdade, que aquele sábio Frestão que me roubou o aposento e os livros tornou esses gigantes em moinhos, para me roubar a glória do seu vencimento, tal e tanta é a inimizade que me tem; mas, ao cabo do cabo, de pouco valerão as suas más artes contra a bondade da minha espada.

- Que Deus faça o que puder - respondeu Sancho Pança.

sexta-feira, abril 29, 2005

Vummmm

quinta-feira, abril 28, 2005

Do silêncio congressional

Muitos amigos estranham o meu silêncio acerca do XX Congresso do CDS-PP, mas precisamente por serem meus amigos, é que não deveriam estranhar o meu silêncio.
Dito isto: sou Liberal e não confessional.

Esperar para ver, dar tempo e trabalhar, são as palavras de ordem.

quarta-feira, abril 27, 2005

Tudo...

"Tudo vai, tudo volta;
eternamente gira a roda do ser.

Tudo morre, tudo refloresce,
eternamente transcorre o ano do ser.

Tudo se desfaz, tudo é refeito;
eternamente constrói-se a mesma casa do ser.

Tudo se separa, tudo volta a se encontrar;
eternamente fiel a si mesmo
permanece o anel do ser.

Em cada instante começa o ser;
em torno de todo o "aqui"
rola a bola "acolá ".

O meio está em toda parte.
Curvo é o caminho da eternidade".

- Nietzsche

Dos Homens Sublimes



Tranqüilo é o fundo do meu mar. Quem adivinharia que oculta monstros divertidos!

A minha profundidade é inabalável, mas radiante de enigmas e gargalhadas!

Hoje vi um homem sublime, solene, um purificador do espírito. Como a minha alma se riu da sua fealdade!
Inflando o peito, como quem aspira, estava ali silencioso o homem sublime, engalanando com feias verdades, sua polaina de caça, e rico com vestidos rotos também nele havia muitos espinhos, mas não vi nenhuma rosa.

Ainda não conhece o riso nem a beleza.

Com semblante desabrido voltou esse caçador do conhecimento.
Lutou com animais selvagens; mas a sua rígida fisionomia ainda reflete o animal selvagem: um animal não subjugado.
Ei-lo sempre como um tigre preparando o salto; mas a mim não me agradam essas almas mesquinhas; não são do meu gosto todos esses retraídos.

E vós, amigos, dizeis-me que questões de gostos não se discutem.
Toda a vida, contudo, é luta pelos gostos.
O gosto é a um tempo o peso, a balança, e o pesador; e ai de toda a coisa viva que quisesse viver sem luta pelos pesos, as balanças e os pesadores.
Se este homem sublime se enfastiasse da sua sublimidade, só então principiaria a sua beleza, e só então quereria eu gostar dele, só então lhe acharia gosto.
E só quando se apartar de si saltará por cima da sua sombra e penetrará no seu sol.
Demasiado tempo esteve sentado à sombra; o purificador do espírito viu empalidecer as faces, e quase o matou de fome a espera.
Ainda, nos seus olhos há desdém, e repugnância oculta nos seus lábios.

É verdade que descansa agora, mas ainda não descansou ao sol.
Deveria fazer como o touro, e a sua felicidade deveria rescender a terra, e não ao desprezo da terra.
Quereria vê-lo como um touro branco que sopra e muge diante do arado e o seu mugido deveria cantar o louvor de tudo o que é terrestre.
O seu semblante ainda é sombrio; nele se projeta, a sombra da mão. Ainda está na sombra o seu olhar.

A sua própria acção nele não é mais do que uma sombra; a mão escurece o que actua. Ainda não está superior ao seu acto.
Agrada-me ver nele o pescoço de um touro, mas agora também me agradaria ver-lhe o olhar de anjo.

É preciso igualmente que esqueça a sua vontade de herói: deve ser para mim um homem elevado, e não só sublime: até o éter deveria elevar esse homem sem vontade.

Venceu monstros, adivinhou enigmas; mas precisava também salvar os seus monstros e os seus enigmas; precisava transformá-los em filhos divinos.

O seu conhecimento ainda não aprendeu a sorrir e a não ter inveja: a onda da sua paixão ainda se não acalmou na beleza.
Não é de certo na sociedade que se deve calar e submergir o seu desejo, mas na beleza. A graça forma parte da generosidade dos que pensam com elevação.

Com o braço sobre a cabeça: eis como deveria repousar o herói; assim até deveria estar superior ao seu repouso.
Mas, precisamente para o herói, a beleza é a mais difícil de todas as coisas. A beleza é inexequível para toda a vontade violenta.
Um tanto mais, um tanto menos, esse pouco aqui é muito.
Permanecer com os músculos inativos e a vontade desembaraçada é o que há de mais difícil para vós, homens sublimes.

Quando o poder se torna clemente e desce ao visível, a essa clemência chamo eu beleza.

De ninguém exijo tanto a beleza como de ti, que és poderoso; seja a tua bondade a tua última vitória sobre ti mesmo.

Julgo-te capaz de todas as maldades: mas exijo de ti o bem.
Na verdade tenho-me rido amiúde dos fracos que se julgam bons por terem as patas tolhidas!

Deveis imitar a virtude da coluna, que vai sendo mais bela e mais fina, porém mais dura e resistente interiormente à medida que se alteia.

Sim, homem sublime: um dia serás belo e apresentarás ao espelho a tua própria beleza.
Então estremecerá a tua alma com desejos divinos, e na tua vaidade haverá adoração!
Porque eis aqui o segredo da tua alma: quando o herói a abandona, é então que se aproxima em sonhos o super-herói”.
Assim falava Zaratustra.

- Nietzsche

terça-feira, abril 26, 2005

Chuva Oblíqua

V

Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carroussel...

Árvores, pedras, montes, bailam parados dentro de mim...

Noite absoluta na feira iluminada, luar no dia de sol lá fora,

E as luzes todas da feira fazem ruídos dos muros do quintal...

Ranchos de raparigas de bilha à cabeça

Que passam lá fora, cheias de estar sob o sol,

Cruzam-se com grandes grupos peganhentos de gente que anda na feira,

Gente toda misturada com as luzes das barracas, com a noite e com o
luar,

E os dois grupos encontram-se e penetram-se

Até formarem só um que é os dois...

A feira e as luzes da feira e a gente que anda na feira,

E a noite que pega na feira e a levanta no ar,

Andam por cima das copas das árvores cheias de sol,

Andam visivelmente por baixo dos penedos que luzem ao sol,

Aparecem do outro lado das bilhas que as raparigas levam à cabeça,

E toda esta paisagem de Primavera é a lua sobre a feira,

E toda a feira com ruídos e luzes é o chão deste dia de sol...

De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira

E, misturado, o pó das duas realidades cai

Sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos

Com grandes naus que se vão e não pensam em voltar...

Pó de oiro branco e negro sobre os meus dedos...

As minhas mãos são os passos daquela rapariga que abandona a feira,

Sozinha (...)...

- Fernando Pessoa

sexta-feira, abril 22, 2005

Silêncio

quarta-feira, abril 20, 2005

Dragão e Cavalheiro

Ao Amigo Dragão, um Cavalheiro:





THROUGH Glastonbury's cloister dim
The midnight winds were sighing;
Chanting a low funereal hymn
For those in silence lying,
Death's gentle flock, 'mid shadows grim
Fast bound and unreplying.

Hard by the monks their mass were saying;
The organ evermore
Its wave in alternation swaying
On that smooth swell upbore
The voice of their melodious praying
Toward heaven's eternal shore.

Erelong a princely multitude
Moved on through arches grey,
Which yet, though shattered, stand where stood
(God grant they stand for aye!)
St. Joseph's church of woven wood
On England's baptism day.

The grave they found; their swift strokes fell,
Piercing dull earth and stone.
They reached ere long an oaken cell,
And cross of oak, whereon
Was graved, "Here sleeps King Arthur well,
In the isle of Avalon."

The mail on each knightly breast,
The steel at each man's side,
Sent forth a sudden gleam; each crest
Bowed low it's plumèd pride;
Down o'er the coffin stooped a priest-
But first the monarch cried:

"Great king! in youth I made a vow,
Earth's mightiest son to greet;
His hand to worship, on his brow
To gaze,his grace entreat.
Therefore, though dead, till noontide thou
Shalt fill my royal seat!"

Away the massive lid they roll'd-
Alas! what found they there?
No kingly brow, no shapely mould;
But dust where such things were.
Ashes o'er ashes, fold on fold-
And one bright wreath of hair.

Genevra's hair! like gold it lay;
For Time, though stern, is just,
And humbler things feel last his sway,
And Death reveres his trust. __
They touched that wreath: it sank away
From sunshine into dust!

Then Henry lifted from his head
The Conqueror's iron crown;
That crown upon the dust he laid,
And knelt in reverence down,
And raised both hands to heaven, and said,
"Thou, God, art King alone!"


- Aubrey de Vere

In fine

Dominus Iesus.
Uma mensagem de dor.

A hora do Opus Dei

O Opus Dei, com menos de um século de existência, já bateu os jesuítas no ensino e todas as outras ordens religiosas na economia, na banca, no dinheiro, quais novos templários. O último Papa considerou-os e beatificou o seu fundador, Monsenhor Escrivá - das beatificações mais rápidas, surpreendentes e polémicas da história da Igreja Católica. Hoje, com Ratzinger elevado a Papa, o relógio do Vaticano acertou a hora pelo relógio do Opus Dei. Com Bento XVI, a «Obra de Deus» chega assim ao poder mais desejado.

- Extracto de, A Capital

Um comentário apenas no tocante à equiparação aos cavaleiros templários: é que, muito longe de lhes chegarem aos calcanhares!
Isso queriam eles!

terça-feira, abril 19, 2005

Madeleine Albright



Madeleine Albright, a grande senhora da diplomacia americana, vem a Portugal no dia 11 de Maio, sob os auspícios do Diário de Notícias e do Diário Digital (Vide imagem acima) - um almoço/conferência.

Da diplomata:

O «Carimbo Americano»

«A democracia é um valor universal. Há países para além dos Estados Unidos que praticam a democracia. Não podemos impor a democracia; é um paradoxo. Temos de alimentá-la e apoiá-la. A verdadeira questão é até que ponto poderá haver um retrocesso com uma democracia imposta pelos Estados Unidos».

Estará em Lisboa no próximo mês. Recomenda-se.

segunda-feira, abril 18, 2005

Nos Antípodas: O Paraíso!



O AT - Faccioso, vive no Paraíso, e fez o favor de compartilhar do local.
Absolutamente fabuloso!
Quando puder, é lá o local certo.

Entretanto, o Dodo fez a gentileza de fornecer algumas informações de como lá chegar, aqui ficam:

Avião

Ilha

Boa viagem rumo ao Paraíso!

Ao AT, faço minhas as palavras do Dodo:take it easy, mate!

Haja Serenidade

Sampaio convocou partidos para discutir referendos



O Presidente da República, Jorge Sampaio, convocou os partidos políticos para audiências hoje à noite e terça-feira, em Belém, sobre o calendário político, tendo em vista a possível realização dos referendos sobre a Europa e o aborto.

Em comunicado, a Presidência da República anuncia que Jorge Sampaio "marcou, para hoje e amanhã, reuniões com os líderes dos partidos com representação parlamentar para abordar a actual perspectiva dos calendários políticos e constitucionais".

Hoje são recebidos Jorge Coelho, dirigente do PS, e Marques Mendes, líder do PSD.

Audiências prosseguem amanhã. Presidente da República quer combinar calendário político.


- Portugal Diário

Chanel et al

Deparei-me por três vezes com a "menina pérolas"!

Da primeira, vi alguém que assinava MP, como eu!
Grande confusão!
"Não quer lá ver que esta pirosa ainda não percebeu que quem chega primeiro tem precedente?!" (Tenho que confessar que também me 'salta qualquer coisa', de quando em vez - assim um misto entre, a fera e a ave, e/ou vice-versa!)

Da segunda, voltei a requer a alteração das iniciais.

Veio uma resposta educada e simpática! Alterou as iniciais para: MissPearls.

Lá me abalei a visitar o Blog; muito agradável, cheio de dicas para o Chá, e diferente do habitual.

Seja bem-vinda MissPearls!

O Labirinto das razões

Charada

Qual é a coisa, qual é ela, que ao dar uma entrevista à televisão, vê-se logo que é 'amarela'?

sábado, abril 16, 2005

Catapultas

«O americano típico, para um francês, é o que não distingue um bom vinho tinto de suco de uva, ou de óleo de motor.»

Durante a Peste Negra que assolou a Europa no século XIV era comum usarem os corpos de pesteados como armas, catapultando-os por sobre as muralhas de cidades sitiadas para infectar sua população. Nem sempre dava certo.

- General, os habitantes da cidade estão simplesmente fugindo dos corpos pesteados.

- Comecem a catapultar pesteados ainda vivos. Assim eles podem correr atrás dos que fogem.

- Sim senhor.

Em certos casos, os sitiantes recorriam a métodos mais sofisticados para solapar a moral da cidade cercada. Se era grande a coesão entre os sitiados, por exemplo...

- Preparem os intrigantes.

Uma salva de intrigantes era disparada pelas catapultas sobre a cidade, onde espalhariam boatos infundados e semeariam a discórdia.

Ou então:

- Mandem os sofistas!

Swush, swush, swush, lá iam os sofistas por cima dos muros, para começar discussões filosóficas sobre a futilidade ou não de resistir, ou da existência humana em geral.

Ou, quando a resistência parecia que não ia ceder mesmo, vinha a ordem:

- Disparar inconsequentes!

E choviam inconsequentes sobre a cidade sitiada, que em pouco tempo estaria distraída com assuntos que não tinham nada a ver com a sua situação, descuidaria da defesa e seria facilmente conquistada.

Você às vezes não sente que estamos numa cidade sobre a qual catapultaram inconsequentes para distrair nossa atenção com outros assuntos enquanto nos saqueiam?

Autoridade

Se você pedir a um americano que faça uma caricatura do que há de mais besta num francês é quase certo que ela terá alguma coisa a ver com vinho. Um francês comentando o carácter, as nuanças, a metafísica e até o sexo de um vinho é, para o americano, o máximo da empulhação pretensiosa. Já o americano típico, para um francês, é o que não distingue um bom vinho tinto de suco de uva, ou de óleo de motor. Alexis de Tocqueville, um dos primeiros franceses a tentar entender a América, já tinha escrito no século XIX que os americanos desconfiavam de qualquer noção de autoridade em matéria de gosto, principalmente vinda da Europa. Por isso não deixa de ser irónico que hoje a maior autoridade em vinhos no mundo, com influência directa no gosto dos franceses e no produto dos seus vinhedos, seja um americano. Robert Parker não é apenas o mais reconhecido crítico de vinho da actualidade, suas cotações determinam o sucesso ou a ruína de safras inteiras, e já há a acusação de que muitos produtores estão fazendo seus vinhos para agradar ao paladar do americano, que gosta de muita fruta, muito álcool e muito carvalho. Apesar do seu poder sobre os franceses, Parker mantém um estilo americano no que escreve: pouca poesia, pouca alusão a outras artes ou a características humanas («um vinho algo reticente, mas divertido») e nenhuma metafísica. Sem empulhação, dizem seus admiradores. Os franceses devem dar de ombros e dizer algo como «beu», resignadamente.

Que semana

Da série «Poesia numa hora destas?!»

Você talvez tenha
se confundido
com o noticiário.
O Papa e o Rainier morreram
o Charles e a Camila se casaram - e não o contrário.

- Luís Fernando Veríssimo (lverissimo@mail.expresso.pt)

A Harpa

VIII

Ontem, sentado num penhasco, e perto
Dos águas, então quedas, do oceano,
Eu também o louvei sem ser um justo:
E meditei, e a mente extasiada
Deixei correr pela amplidão das ondas.

Como abraço materno era suave
A aragem fresca do cair das trevas.
Enquanto, envolta em glória, a clara Lua
Sumia em seu fulgor milhões d'estrelas.

Tudo calado estava: o mar somente
As harmonias da criação soltava,
Em seu rugido; e o ulmeiro do deserto
Se agitava, gemendo e murmurando.
Ante o sopro de oeste: ali dos olhos
O pranto me correu, sem que o sentisse.
E aos pés de Deus se derramou minha alma.

- Alexandre Herculano, em A Harpa do Crente

quinta-feira, abril 14, 2005

Quem fisc(o)aliza, quem?!

Paulo Macedo foi alvo de execução fiscal por dívidas

Paulo Moita de Macedo, o director-geral dos Impostos, foi alvo de uma execução fiscal movida pelas Finanças de Benavente, relativo a uma dívida de Contribuição Autárquica - actual Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) - referente a 2001. Paulo Macedo confirma a dívida, admitindo que o (…)

O Director-Geral dos Impostos - Paulo Macedo, foi alvo do Fisco!!
É caso para dizer: TUNGAS!!

Parece que o Fisco, finalmente, considera que não existem "uns, mais iguais que outros".
Veremos quanto tempo durará esta 'igualdade' fiscal.

Quanto à dívida da pessoa na sua qualidade de director-geral dos impostos é caso para dizer: quem fiscaliza, quem? E, não será necessário, anteriormente à nomeação para os respectivos cargos, efectuar uma investigação, no caso em questão, ao historial fiscal do nomeado? Penso que sim, que é da mais elementar pertinência, dessa forma não haverá lugar a surpresas como a que foi hoje noticiada, é que representa o descrédito do cargo.

quarta-feira, abril 13, 2005

O ruidoso silêncio..

.. dos governantes!

Ei-lo ao nosso PM, no seu majestático silêncio!



O Roncinante abriu agora uma tasca cinematográfica, recomenda-se!

quinta-feira, abril 07, 2005

«Estou em melhores condições de ser candidato»

Carmona Rodrigues diz que se sentirá defraudado se PSD não o escolher para Lisboa



O actual vice-presidente da Câmara de Lisboa Carmona Rodrigues considera que está «em melhores condições» de ser o candidato do PSD à Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas e admite que se sentirá «defraudado» se tal não acontecer.

Em entrevista ao Diário de Notícias, hoje publicada, Carmona Rodrigues revela que, «com amizade», aconselhou Santana Lopes a não regressar à autarquia, na sequência da derrota nas eleições legislativas de 20 de Fevereiro, e que o ex-primeiro-ministro e actual autarca ainda não lhe disse se tenciona ou não recandidatar-se à presidência da Câmara.

Carmona Rodrigues diz-se convicto de que, na altura da escolha do candidato a Lisboa nas eleições de Outubro, o PSD «por certo escolherá o que estiver mais bem colocado», e recorda que, neste momento, as sondagens apontam-no como o melhor candidato.

Questionado sobre se gostaria de ter continuado na presidência da Câmara de Lisboa, que assumiu quando Santana Lopes se tornou primeiro-ministro, Carmona Rodrigues reconhece que gosta muito do que tem feito e diz que sente que se «casou» com estas funções.

«Empenhei-me e isso deu frutos e algum reconhecimento e visibilidade que não tinha. Acho que não me saí mal», afirma Carmona Rodrigues, acrescentando que prefere as funções de autarca às de ministro.

Comentando o regresso de Santana Lopes à autarquia e o alegado desapontamento de muitas pessoas, «nomeadamente de dentro da Câmara», Carmona Rodrigues afirma que de facto «na altura houve muitas pessoas que de uma forma emotiva fizeram essa reflexão» e revela que desaconselhou o regresso ao ex-chefe de Governo.

«Ele (Santana Lopes) não se decidiu logo e eu próprio fiz-lhe ver que as circunstâncias do seu regresso não seriam as mais favoráveis. Disse-lhe isso com amizade», afirma Carmona Rodrigues, assegurando todavia que nunca se sentiu «usado», até porque sempre preservou o seu «estatuto de independente e permaneceu na câmara porque quis, não porque tenha sido obrigado.

Perspectivando as autárquicas de Outubro, Carmona manifesta-se «disponível» para avançar com uma candidatura e diz-me mesmo convicto de que será o melhor candidato social-democrata.

«Neste momento, de acordo com as sondagens estou em melhores condições de ser o candidato», afirma, admitindo que, se não for, as suas expectativas saem defraudadas, embora também só avance depois de ver quais os apoios que pode suscitar.

Instado a comentar o nome do candidato do PS a Lisboa, Manuel Maria Carrilho, Carmona diz que não lhe parece que tenha «muita ligação à cidade de Lisboa», e que «a avaliar pelo que tem dito, que quer uma cidade cosmopolita», parece «querer começar a casa pelo telhado».

Questionado sobre se não seria suposto Santana Lopes já lhe ter dito algo sobre as eleições, admite que sim, mas diz compreender as suas razões - «Estando ele como presidente do partido tem que aguardar o desenlace do congresso» do PSD, que decorre entre sexta-feira e domingo.

Relativamente à corrida à liderança do PSD, Carmona Rodrigues resguarda-se no seu estatuto de independente para dizer que não tem preferência por qualquer dos candidatos (Marques Mendes e Luís Filipe Menezes), embora frise que tem «uma maior proximidade e identidade do estilo» com Marqes Mendes, de quem foi colega no governo.

- Portugal Diário

Serenata de Satan ás Estrellas

I
Nas noites triviaes e desoladas
Como vos quero mysticas estrellas!...
Lucidas antigas camaradas...
Gotas de luz, no frio ar nevadas,
Podesse a minha boca inda bebel-as

II
Nem vos conheço já. Por onde eu ando!...
Sois vós mysticos pregos d'uma cruz?
Que Christo estais no ceo crucificando?...
Quem triste pelo ar vos foi soltando
Profundos, soluçantes ais de luz!

III
Oh! viagens nas nuvens desmanchadas!...
Doces serões do ceo entre as estrellas!...
Hoje só ais e lágrimas caladas...
Ai! sementes de luz mal semeadas,
Ave do ceo, podesse eu ir comel-as!

IV
Triste, triste loucura oh! flores da cruz
Quando eu vos dizia soluçando:
Affastae-vos de mim cardos de luz!...
Podesse eu ter agora os pés bens nús,
inda por entre vós i-los rasgando!...

V
Hoje estou velho e só e corcovado.
Causa-me espantado a sombra d'uma estola:
Enche-me o peito, um tedio desolado:
E corro o mundo todo esfomeado,
Aos abutres do ceo pedindo esmola.

VI
Eu sou Satan o triste o derrubado!
Mas vós estrellas, sois os musgo velho
Das paredes do ceo desabitado.
E a poeira que se ergue ao ceo calado,
Quando eu bato co'o pé no Evangelho!

VII
O céo é cemiterio trivial:
Vós sois o pó dos deuses sepultados!
Deuses, magros esboços do ideal!
Só com rasgar-se a folha d'um missal,
Vós cahis mortos, hirtos, gangrenados.

VIII
Eu sou expulso, roto, escarnecido
Mas a vós já ninguém vos quer as leis.
Oh! velho Deus oh! Christo dolorido!
Lembrae-vos que sois pó enegrecido,
E cedo em negro pó vos tornareis.

- Eça de Queirós

sábado, abril 02, 2005

Divini Amoris Scientia

A um Homem Bom.





O Dom

Então um homem rico disse:

- Fala-nos do dom.

E ele respondeu:

- Dais muito pouco,

Quando dais daquilo que vos pertence.

Quando vos dais a vós mesmos
é que dais realmente.

Que é aquilo que vos pertence,
senão coisas que conservais ciosamente,
com medo de vir a precisar delas amanhã?

E amanhã,
que trará o amanhã
ao cão demasiado prudente
que enterra os ossos na areia movediça
enquanto segue os peregrinos
a caminho da cidade santa?

E que é o medo da miséria,
senão a própria miséria?

Quando o vosso poço está cheio,
não é o medo â sede
que torna a vossa sede insaciável?

Alguns dão pouco
do muito que têm, e fazem isso
em troca do reconhecimento,
e o seu desejo oculto
corrompe os seus dons.

Outros têm pouco
e dão tudo.

Estes são os que acreditam na vida,
na bondade da vida;
e o seu cofre nunca está vazio.

Há quem dê com alegria,
e esta alegria é a sua recompensa.

Há quem dê cheio de dores,
e essas dores são o seu baptismo.

Há ainda quem dê, inconsciente,
da sua virtude,
sem nisso sentir dor nem alegria.

Dão como os mirtos do vale
que a espaços atiram para o céu
o seu perfume.

É bom dar quando nos pedem;
e é bom dar sem que nos peçam,
como bons entendedores.

E para o homem generoso,
procurar aquele que vai receber
é maior alegria do que dar.

E haverá alguma coisa
que possais conservar?

Tudo quanto possuís
será dado um dia.

Portanto, dai agora,
para que o tempo de dar seja vosso
e não dos vossos herdeiros.

Muitas vezes dizeis:

- Gostava de dar
mas só aos que merecem.

As árvores dos vossos pomares
não falam assim,
nem os rebanhos das vossas devesas.

Dão para poderem viver,
porque guardar é perecer.

Por certo
aquele que é digno de receber
os seus dias e as suas noites,
é digno de receber de vós
tudo o resto.

E aquele que mereceu
beber do oceano da vida
merece encher a sua taça
do vosso regato.

E que maior merecimento
do que aquele que reside
não na caridade,
mas na coragem e na confiança
de receber?

E quem sois vós
para que os homens
devam rasgar o peito diante de vós,
vencendo o orgulho,
para poderdes ver o seu mérito
a descoberto
e a sua altivez manifesta?

Procurai primeiro
merecerdes ser doadores
e instrumentos de doação.

Porque, em verdade,
é a vida que dá à vida,
e quando julgais ser doadores,
sois apenas testemunhas.

E vós que recebeis
- e todos sois recebedores–
não atireis para cima de vós
o peso da gratidão,
sob pena de impordes um jugo
a vós mesmos e àquele que dá.

Mas elevai-vos
juntamente com o doador,
usando os dons como asas.

Porque ligar demasiada importância
à vossa divida
é duvidar da sua generosidade,
que tem por mãe a Terra magnânima
e Deus como Pai.

- Khalil Gibran