sexta-feira, dezembro 31, 2004

FELIZ 2005!



A todos os amigos e leitores, votos sinceros de que 2005 seja um muito melhor, mais intenso e produtivo Ano!

LIBERDADE

Nas asas do sonho
Voei às estrelas;
Tão lindas, tão belas
Que eu me envergonho
Não ser como elas,
Brilhando tão livres
Cada qual o seu brilho.
Caminho que trilho:
Dum lado são rosas;
Do outro são tigres.
Flores são mimosas
Sem espinhos no caule;
Flor é uma rosa
Mas não é igual.
Um tigre é a fera
Dum gato selvagem;
E o gato que espera
Na toca dum rato,
Não é fera: Impacto.

Sonhador é quem sonha;
Idealista, quem é
Defensor dum ideal
Baseado na fé
Dum dia que vem.
Por mais que se oponha
A luz não faz mal,
Levada para além
Do momento que passa.
Meu sonho trespassa
O dia de amanhã.
Mas, hoje, sou livre
Para ver as estrelas;
Para olhar para elas;
Para acabar com a guerra;
Para cavar a terra;
Para erguer a casa;
Para atiçar a brasa
Da força da vida
Que não poderá,
Jamais ser vencida
E a Liberdade, erguerá,
Levando para além
Do dia que vem.

- MATOS, A.
In “ VII Antologia de
poesia contemporânea “


LIBERDADE

Liberdade eu te sei raiz do peito
a rasgar esta terra carne minha
onde a luta se faz caudal e leito,
onde a esperança, por vezes, vai sozinha;

Eu te sei voz da voz de um povo eleito
por Abril embarcado, manhãzinha,
na aventura de um mundo de outro jeito,
de outra fé, de outro sonho que não tinha;

Eu te sei, eu te canto, eu te ofereço
a paixão que me aquece desde o berço
num poema de carne e força igual

À dos ventos, marés, tremores de terra,
para erguer-te mais alto que a alta serra
com o povo nas mãos e Portugal!

- CARVALHO, A. M. Pinto
in “ VII Antologia de poesia contemporânea “


(Da Biblioteca Camilo Castelo Branco, V. N. Famalicão)

2004 está a chegar ao FIM!

O Ano que agora vai terminar, não deixa 'grandes saudades'!

Mas, foi também Tempo de aprender, e principalmente, Tempo de depurar, de transmutar e deixar para trás superflúo.



PASSOU

Passou, fora de Quando,
De Porquê, e de Passando...,
Turbilhão de Ignorado,
Sem ter turbilhonado...,

Vasto por fora do Vasto
Sem ser, que a si se assombra...

O Universo é o seu rasto...
Deus é a sua sombra...


- Fernando Pessoa

quinta-feira, dezembro 30, 2004

O que Eles e Elas querem

- Os Homens Perfeitos e as Mulheres Ideais
(Sondagem da Revista "Sábado")

Sou leitora semanal da Revista Sábado; e aprecio, em geral, os artigos publicados nesta Revista.
Considero que é das melhores que circulam actualmente no mercado; tendo em conta: os temas, o tratamento sério dispensado e a forma equilibrada como os mesmos são expostos.

Mas, esta semana irritei-me profundamente com o artigo que faz manchete: O QUE ELES E ELAS QUEREM - OS HOMENS PERFEITOS E AS MULHERES IDEAIS!!!

Que desfaçatez!
É de bradar a tipologia dos sondados (cada cromo mais vazio que o seguinte)..
(péssimo artigo. Por certo nada mais tinham para encher páginas.)
Como se fosse possível estabelecer ipsis regulae o Homem ou a Mulher Ideal, Perfeita/o.

Depois estranham como é que tantas pessoas se encontram dependentes de calmantes, tranquilizantes, etc, etc até à náusea.

Ora bem:
Se querem encontra esse modelitos todos pré-estabelecidos, que o vizinho/a goste, aprove ou inveje (deve ser este último que as pessoas que seguem tais padrões procuram), nesse caso sugere-se que procurem um Museu, ou utilizem um computador para desenhar tal Ser Perfeito, é que, bem vendo as coisas - as pessoas são pessoas, únicas, irrepetíveis na sua originalidade.

Quem procura a Perfeição arrisca-se a não ter laços reais, concretos e verdadeiros. Apenas vazio, fantasia e solidão. Ário, vazio e estéril.

Olhem para dentro, para a substância e essência, e não para fora, o 'embrulho'. Quem só vê laços e rendinhas, não vê Coração.

Post Scriptum
Esta estória, faz lembra aquela música dos Táxi:

Chiclete

E como tudo o que é coisa que promete A gente vê como uma chiclete
Que se prova, mastiga e deita fora, sem demora
Como esta música é produto acabado Da sociedade de consumo imediato
Como tudo o que se promete Nesta vida chiclete

(..)

E nesta altura e com muita inquietação Faço um reparo e quero abrir uma excepção
Um casse-tete nunca será não, chiclete

quarta-feira, dezembro 29, 2004

A Antítese de: "Postura de Estado".

«Bruxelas Chegou a Informar Que o Negócio do Gás "Estava Aprovado"»
- Álvaro Barreto,
Ministro de Estado, das Actividades Económicas e do Trabalho (Corr.)

O ministro atribui a mudança de posição da Comissão Europeia ao "vazio de poder" por que passou a máquina comunitária na mudança de equipa de comissários.
Diz também que foi Bruxelas que sugeriu a retirada da proposta.

FLEC ameaça Luanda com nova estratégia de combate

Resistência de Cabinda desafia Angola a abrir território a jornalistas estrangeiros

Uma «nova estratégia de combate» e uma «nova metodologia de acção de acordo com o novo cenário militar» no território, é o que o Estado Maior General da FLEC acaba de advertir em comunicado, responsabilizando o governo de Luanda como «único e exclusivo responsável dos efeitos colaterais que poderão atingir interesses económicos estrangeiros em Cabinda».

A esta advertência, segue-se uma declaração da FLEC a manifestar «total disponibilidade para negociar urgentemente uma paz sólida e duradoira em Cabinda», apelando a Angola «para que cesse imediatamente os combates e as violações dos direitos humanos no território».

Agora sob um único comando após o acordo que dissolveu facções e reunificou o movimento, a FLEC afirma-se «em condições de efectuar de imediato acções militares urbanas em Tchiwoa», a capital do antigo protectorado português onde, segundo os independentistas «as Forças Armadas Angolanas atacam indiscriminadamente as populações civis isoladas do interior».

Numa alusão aos protestos de Angola contra o relatório da Human Rigths Watch desfavorável à actuação de Luanda, a FLEC «desafia o governo de Luanda a autorizar a livre entrada em Cabinda de todos os jornalistas estrangeiros e que estes circulem e constatem livremente no terreno a realidade vivida em Cabinda de Norte a Sul, e que confirmem imparcialmente a situação de guerra permanente, testemunhem e apurem as constantes violações dos direitos humanos no território», lê-se no comunicado assinado por Inácio Mbuada, porta-voz do movimento.

A FLEC diz ainda que «deplora a constante inércia e silêncio da comunidade internacional, que perante os relatórios independentes onde são denunciados actos de violações dos direitos humanos em Cabinda, prefere não se pronunciar sobre o assunto, nem condenar o Estado Angolano». É neste quadro que a FLEC faz especial apelo «aos chefes de Estado da África Central, que conhecem e vivem o sofrimento do Povo Binda, que unam esforços e encontrem os meios de impedir o prosseguimento do massacre».


- Carlos Albino

terça-feira, dezembro 28, 2004

Loja - Informações Úteis

O António da Grande Loja, publicou um artigo, o qual se transcreve.

Serviço Público - a Loja sempre 'sintonizada'.

Indicamos aqui um site que poderá ser útil quer para as autoridades portuguesas quer para as famílias que procuram informações acerca do paradeiro dos seus familiares que estão internados nos hospitais de toda a região de Phuket, Tailandia. Ver aqui. Este site reproduz nomes de todas as pessoas internadas nos hospitais de Phuket e infelizmente daqueles que padeceram já no hospital.

Fantochada

Luís Delgado no seu melhor!
Ou, igual a si mesmo.

Este pseudo opinion (dis)maker, hoje deu-lhe para o Tarot, e as Cartas da Maya!

Ai, não sei se ria ou chore, mas que dá voltas ao estomâgo dá; dá mesmo!

As cartadas de 2005 (2)

1. Paulo Portas. Sendo do mesmo signo que Sócrates, tem a mesma carta «... Não terá o caminho facilitado.» Combatente indomável, que sempre conquistou um lugar à força de trabalho, persistência e convicção, parte para estas eleições com uma expectativa muito alta, tão alta que se não a atingir terá sempre um sabor a derrota. A única vez que enfrentou Santana, perdeu, e por muitos. «O ano é de grande desgaste intelectual e físico», a acreditar na Maya.

2. Jerónimo de Sousa. Estará em ano positivo «Em 2005 joga em casa, pode ser igual a si próprio e seguir a sua impulsividade: os bons momentos ultrapassrão os maus», dizem as previsões. Sendo o novo líder comunista, nada tem a provar, num partido que só muda de década em década. Arranca fresco e bem-disposto, e num estilo que nada tem com o de Carvalhas ou, até, Cunhal: não é um pregador repetitivo e desinteressante. Também ninguém dele espera uma renovação, mas apenas a coerência de um comunismo puro. Sendo como é, é o mais heterodoxo dos ortodoxos. Estará sempre seguro e protegido.

3. Francisco Louçã. Um escorpião por signo e natureza «Forte e radical. Tem pela frente um ano forte durante o qual saberá que escolhas a fazer e que caminhos a trilhar.» É o prenúncio de um entendimento com o PS? Deus nos proteja de tal «golpe» de azar. Era o regresso de Perón e Evita. E quem seria quem, afinal?

segunda-feira, dezembro 27, 2004

A Força da Natureza e o Sofrimento dos Homens

No entardecer da Humanidade, a Natureza exerce o seu poder.
Tudo destrói.
E o Homem, com a sua 'magnífica' tecnologia, observa impotente.

Apenas isso, OBSERVA. Nada podendo fazer contra a dimensão da Natureza.



sexta-feira, dezembro 24, 2004

FELIZ NATAL!

A todos os amigos e visitantes um Excelente Natal!

Que o Amor possa inundar os corações, e trazer nem que seja por um momento muita Luz, Paz e Amor!

Divina Música!
Filha da Alma e do Amor.
Cálice da amargura
E do Amor.
Sonho do coração humano,
Fruto da tristeza.
Flor da alegria, fragrância
E desabrochar dos sentimentos.
Linguagem dos amantes,
Confidenciadora de segredos.
Mãe das lágrimas do amor oculto.
Inspiradora de poetas, de compositores
E dos grandes realizadores.
Unidade de pensamento dentro dos fragmentos
Das palavras.
Criadora do amor que se origina da beleza.
Vinho do coração
Que exulta num mundo de sonhos.
Encorajadora dos guerreiros,
Fortalecedora das almas.
Oceano de perdão e mar de ternura.
Ó música.
Em tuas profundezas
Depositamos nossos corações e almas.
Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos
E a ouvir com os corações.


- Khalil Gibran, Da Música

Sejam MUITO FELIZES :)

Gastronomia e Natal



Dois excelentes sites para obter receitas de Natal! - nacional e internacional!

ENJOY!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

O Milhafre

Um dia um homem entrou numa casa arruinada. No portal havia um nicho com um santo de pedra, que lia uma Bíblia, também de pedra, Em redor, na beira dos telhados, nas fendas das pedras, no canto do nicho, havia ervas molhadas e verdes, e ninhos de andorinhas. O santo tinha sempre as suas pálpebras de pedra descidas sobre o livro sagrado, Passavam as cavalgadas, os enterros silenciosos, os noivados, os cortejos, a pompa dos regimentos, e o santo lia atentamente o seu livro de pedra.

Vinham defronte dançar saltimbancos, passavam as frescas serenatas, vinham dos montes rebanhos e ceifeiras; o santo tinha os seus olhos de pedra sobre as páginas inertes. As devotas, lentas e desfalecidas, beijavam-lhe os pés nus, os homens severos saudavam-no, as crianças olhavam-no com os seus grandes olhos inanimados, os cães ladravam-lhe à calva: o santo, curvado, seguia o espírito de Deus por entre as letras do livro.

Passavam os fardos, os mercadores crestados pela indústria, os poetas lânguidos que desfalecem nas cançonetas, os histriões que cantam nos tablados, mulheres mais preciosas que o âmbar, os sábios, os mendigos, as virtuosas e as melodramáticas: – e o santo lia o seu livro profético.

Ora as torres gloriosas, as bandeiras, os ciprestes – ais de folhagem – os homens, perguntavam entre si: – "Que lê tão atentamente aquele santo, que nem sequer nos olha?" E os enxurros, que passam rosnando, diziam: – "Que lê tão devotamente aquele santo, que nem sequer nos escuta?"

Ora o santo lia assim. De noite, quando as bandeiras caem de sono, quando os homens estão cheios de comida e de inércia – a Lua, que ao nascer é material e metálica como uma moeda de ouro nova, depois, na suavidade do azul, é tão pura, tão imaculada, tão consoladora, como uma chaga de Cristo por onde se lhe visse a alma. A essas horas, uma criança, tão pobre e tão esfarrapada como o antigo pastor S. João, vinha deitar-se junto do nicho do santo. E então, o santo afastava um pouco o livro, e toda a noite ficava cobrindo, com a grande luz dos seus olhos, aquela criança miserável, adormecida sobre as lajes.

Depois os planetas, a Lua, a noite seguiam a sua viagem imensa para o oeste, e a leste começava uma claridade: eram as hesitações da luz do dia, medrosa por ter de descer às misérias dos homens.

As bandeiras ainda estavam desfalecidas, sonhavam as árvores, a cidade dormia como outrora Sodoma. Acordavam então as. andorinhas. Esvoaçavam gloriosas, gritando, e vinham sofregamente, em tumulto, pousar no nicho.

As andorinhas estavam nas intimidades e nas confidências do santo.

Ora o vento, que passava pelos campos e pelas eiras, vem cheio de grãos e de sementes: a chuva cai lúcida e fresca. O santo aparava a chuva nas pregas da capa, e os grãos nas páginas do livro. E as andorinhas, quando vinham para o nicho, bebiam na capa do santo e comiam sobre a Bíblia de Deus. E, enquanto comiam e bebiam, gritavam, batiam com as asas nas barbas do santo, beijavam-se na sua boca, aninhavam-se-lhe entre os braços, cobriam-no todo; e o sol, quando chegava, ficava maravilhado de ver aquele pobre santo de pedra, que ele não conhecia do Paraíso, com os pés entre as ervas verdes, rindo, sereno, sob a luz imensa, e todo vestido de asas!

O homem entrou na casa arruinada e foi, através de pedras esverdeadas, de grandes humidades que escorriam, de madeiros apodrecidos, de muralhas leprosas de musgo, de escadarias miseráveis, até uma sala enorme, escura e trágica, e tão alta, que involuntariamente o olhar procurava as constelações naquela sombra.

No fundo da sala havia um grande crucifixo de madeira. Sobre a cabeça macerada do Cristo, as traves podres do tecto abriam uma larga fenda. Por ali vinha a chuva escorrer-lhe nos cabelos como o antigo suor do Jardim das Oliveiras, vinham os granizos magoá-lo como as pedras da paixão, vinha o Sol alumiá-lo como a tocha de Judas, e a Lua vinha, também, torná-lo mais lívido, como naquela noite em que ele, depois de ter visto a gente soluçante descer para Jerusalém, sentiu pousar na sua cruz um rouxinol, que toda a noite cantou.

Sobre a cabeça e sobre os braços do Cristo, havia teias de aranha; em baixo os ratos roíam-lhe a cruz.

Então o homem sentiu que aquele seio constelado, e aquela boca donde saiu a revelação do amor, do perdão, e da alma, tinham o pó, a podridão, a caliça e os bichos; e que, se um dia Cristo, vendo o homem aflito e miserável, lhe tinha arrancado da alma o mal, não era muito que o homem, encontrando Cristo abandonado, profanado e roído, lhe limpasse da cabeça as aranhas. Mas, quando ia a limpar a imagem, viu, sobre a cruz, junto da mão pregada, um milhafre enorme. O homem, com as mãos, quis arredar o milhafre.

E a ave, então, com a antiga voz dos animais da Bíblia, do Apocalipse e dos livros dos profetas, disse surdamente: "Homem, deixa a cruz sossegada!"

Através das fendas viam-se os astros sagrados. E o milhafre, batendo as asas, dizia:

"Deixa a cruz, deixa! Não tenhas medo que apodreça. Lá em cima luzem agora estrelas, sóis, planetas, cintilações, carbúnculos. É o pó dos Deuses mortos. Todos se finaram, histriões ensanguentados, e a sua farsa acabou em desterros.

"Morreram velhos, expulsos, esfomeados e nus.

"Este ficou, solitário, alumiando. Ele perdoou enquanto os outros lutaram, ele amou enquanto os outros choraram: por isso fica enquanto os outros passam. Deixa. Esta cruz, que é de madeira, vale tanto como as que lá em cima fazem os raios dos astros, ou no silêncio dos mirtos dois olhares bem-amados.

"Deixa as aranhas, o pó, a caliça, os bichos, a neve, a geada, o apodrecimento. Ele pode bem dar às aranhas o seu corpo de madeira, pois que vos deu a vós o seu corpo de carne – a vós, que pregais com o mesmo riso e o mesmo esquecimento os morcegos no alto das janelas e o Cristo no alto dos montes; a vós, que lhe vindes limpar os cabelos de madeira, depois de lhe ter arrancado os cabelos vivos; a vós, que quereis lavar as nódoas que ele tem no peito, e não vedes as imundícies que tendes na alma. Tudo o que ele criou, o amor, o ideal, o perdão, a fé, o pudor, a religião, Deus, todo aquele evangelho da vida nova anda pelo mundo, tão degradado, tão coberto de bichos, tão imundo como o seio desta imagem antiga. A matéria, o impudor, o apetite rude, o ódio, o aviltamento, o tráfico, a miséria e a penalidade, andam sujando a tua alma, ó homem! como as aranhas andam sujando a cabeça deste Cristo! E não reparais, e não vedes, sobre os espíritos, sobre os corações, sobre as consciências, o pó, a caliça, o caruncho, os ratos e os vermes!

"Sim, é verdade: tudo é magnífico e são, e banhado de sol. As cidades são cheias e caiadas, só as consciências é que têm nódoas; as praças estão limpas de iluminações, só os corações é que estão escuros; os cais estão arejados, só os espíritos é que sufocam; os corpos estão sãos, cobertos de estofos, frescos e resplandecentes, só as almas é que andam nuas, miseráveis e leprosas. De resto, tendes o riso, a farsa, os paraísos artificiais, as arcas venais, e também o esfriamento do túmulo! Oh! amigos íntimos dos vermes, como vós cuidais do corpo, e o lavais, e o amaciais, e o engordais – para a pastagem escura das covas!

"Homem, que fizeste tu da alma? Ao princípio não era conhecida, depois foi vendida, depois foi apupada; tu, modernamente, julgaste melhor matá-la – mas não certamente de cansaço com viagens a Deus! Deste-la a despedaçar à negra matilha do mal. Em compensação, guardaste o corpo: para esse uma religião, um asilo forte como o Sol, os sete selos da lei e a escolta dos regimentos. Esse é o sagrado, o imaculado, o pontifical, o vitorioso. Proibição a Deus de lhe tocar. Para ele palácios, cortejos, serralhos, estofos, pedrarias, o sol e a iluminação dos astros. Para ele a inviolabilidade: Não matarás!

"Começaram então as cruzes a ficar desertas, os cepos a encher-se de musgo, as forcas a apodrecer nos caminhos. Nós, os milhafres, e os nossos camaradas, os abutres, para quem já não havia corpos nos despenhadeiros, ladrões arroxeados pela corda, afogados disformes, deixámos os grandes montes e os rios, as vastas tradições do sangue, e viemos, para viver, aceitar, com os capões, a domesticidade nos parques resplandecentes, ou andámo-nos mostrando aos imbecis, pelas feiras, numa gaiola! E as aves da noite, depois de terem visto a natureza imensa, as aflições do vento, as núpcias do mar, de terem lutado nas tempestades e insultado as estrelas, vêm, modestamente, comer bichinhos no saguão dos burgueses! Eu, que tinha estado entre a força, quis, ao menos, ficar entre a graça; e, depois de ter vivido na noite de Deus, quis, ao menos, morrer na madrugada de Jesus! E, entretanto, a alma morre esmagada e solitária, e a grande vida moderna, a vida do sol, da música, dos metais, vai, entre fulgurações, pisando e cuspindo naquela coisa miserável. E ainda está quente o sangue de Jesus!

"Homem, que fizeste tu do pensamento?

"Anda expulso, perseguido e sublime, como um Deus antigo. Cravaste-lhe no seio as sete dores. Coube-lhe a dor e o escárnio. É necessário que, nas cidades, os pensadores e os artistas extáticos sofram e sangrem: os triunfos dos homens da matéria são como os dos antigos imperadores – só são completos, quando passam entre torturas. E quem havia de soluçar sobre a cena moderna da paixão, senão os que têm alma?

"Amam, sufocam, caem, agonizam, e, entretanto, vai passando a coorte dos vitoriosos e dos reluzentes, e as suas bolsas riem-se daqueles corações, como os botões de ouro das suas camisas apupam a luz dos astros.

"E os que quiserem viver e tiverem a alma grande, bela e heróica, têm de se baixar à estatura burguesa e mercantil dos cérebros modernos. Os deuses olímpicos, se não se deixassem ajuizadamente finar nas florestas antigas, teriam de se empregar nas secretarias. O soberbo pavão de Juno viveria num pomar dos arrabaldes. Homero seria localista. Os cavaleiros andantes roubariam lenços nos ajuntamentos, e o trágico São Jerónimo seria presidente duma junta de paróquia. Deste modo tu aceitas a arte, o pensamento, a alma. Não, arte, não te vás; a vida moderna dar-te-á uma libré resplandecente; vem, música, tu que criaste a Alemanha, far-me-ás uma contradança; vem, arquitectura, tu que deste hospitalidade a Deus, far-me-ás uma estufa; vem, escultura, tu que fizeste o povo dos deuses, o bela escultura! vem fazer-me um gavetão. Oh! tristes domesticidades do ideal!"

Houve um silêncio. Havia na sala um ar místico, como para concepção dum deus.

O milhafre esvoaçava. Ouvia-se o chorar duma flauta. E o olhar do Cristo errava, contemplativo e atento, entre as estrelas inumeráveis, enquanto na escuridão, aos seus pés, os ratos lhe roíam a cruz.

"Vai-te, disse o milhafre. Os ratos roem a cruz, eu estou velho: a antiga geração das aves da noite vai-se. Os pregos já se despregam, a cruz apodrece. E quando ela se desfizer, atirarei o seu pó à grande natureza, ao elevar da Lua, que vale o elevar da hóstia. Irei, oh meu Deus! para além dos sóis e dos caminhos lácteos, onde as constelações são gotas de sombra, certo – eu que sou da vasta terra, o selvagem dos prados, a respiração dos antros, eu que sou a palpitação dos montes – certo de que, se os homens não deram a cruz aos Cristos, não lha dará também a natureza. E eu, que roi as ossadas verdes, tendo visto sempre Este que fez o bem, que amou, que perdoou, pregado numa cruz, irei também, entre os sóis meio doidos, eu, que devastei, e matei, e escorri de sangue, crucificar-me num astro!"

Assim falou, lentamente, aquele milhafre filosófico e letrado, enquanto as violas gemiam, e os pobres tremiam de frio; assim falava, de cima duma cruz, numa sala legendária, longe das maravilhas dos Cains burgueses, nestes tempos livres, sensatos, verdadeiros, magníficos, em que, como se não podem pôr certas verdades na boca dos homens, têm de se dependurar do bico dos milhafres.


- Eça de Queirós, Prosas Bárbaras (extracto)

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Para animar as 'hostes'!



PARÓDIA AOS LUSÍADAS

Os grandes paspalhões assinalados,
Que nas reuniões da Academia
Foram solenemente apepinados
Por sua telha ou sua fidalguia,
Que nas guerras das mocas esforçados
Mais do que a força humana permitia
No Teatro Académico asnearam
Tolices de que todos se espantaram;

E também as façanhas gloriosas
Dos Cabrais e Waldecks e quejandos,
Que à noite, com as vozes mais fanhosas,
andam o nível a pedir em bandos;
E as diabólicas fúrias deliciosas
De certos quintanistas memorandos,
Cantando espalharei por toda a parte.
Há-de-se rir o mundo até que farte.

Ó musa da ironia e da arruaça,
Que tens excepcionais o gesto e o peito,
Vira-te para mim e põe-te a jeito
De inspirar um poema de chalaça;
Quero um poema esplêndido, perfeito,
Que vos celebre e que subir vos faça,
Num pulo só, da glória à mor altura,
Cavaleiros da mais triste figura!

Haviam sido há pouco apepinados
Os meus heróis, que andavam murmurando
Que na Trindade ou para aqueles lados
Se estava contra eles conspirando,
Quando uma noite andando endiabrados
Pela Feira sobre isto conversando,
Uma moca que os ares escurece
Sobre as suas cabeças aparece.

Viu-se o Waldeck! Vinha carregado
Com a moca que pôs a todos medo.
"Ai rapazes!, bradou, venho estafado
Qual se trouxesse às costas um rochedo!
Deixai-me descansar só um bocado
Para depois contar-vos um segredo."
E diziam os outros: "Co'esta moca
'Stamos seguros, pois ninguém nos toca."


- Trindade Coelho, IN ILLO TEMPORE

Natal Político..!


- Cortesia do excelente Rui Pimentel

A moléstia e a receita

Para curar febres podres
Um doutor se foi chamar,
Que feitas as cerimónias,
Começou a receitar.
A cada penada sua
O enfermo arrancava um ai!
– "Não se assuste (diz Galeno),
Que inda desta se não vai."
– Ah! senhor! (torna o coitado,
Como quem seu fado espreita)
Da moléstia não me assusto,
"Assusto-me da receita."


- Bocage

segunda-feira, dezembro 20, 2004

Dragão e Cavalheiro



O Dragoscópio fez um ano de publicações - 18/12, ao Cavalheiro Dragão, cumprimentos e votos de contínuas labaredas!

Conheço a minha sina. Um dia, o meu nome será ligado à lembrança de algo tremendo – de uma crise como jamais houve sobre a Terra, da mais profunda colisão de consciências, de uma decisão conjurada contra tudo o que até então foi acreditado, santificado, requerido.

Eu não sou um homem, sou dinamite. E com tudo isso nada tenho de fundador de religião – religiões são assunto da plebe, eu sinto necessidade de lavar as mãos após o contacto com pessoas religiosas... Não quero “crentes”, creio ser demasiado malicioso para crer em mim mesmo, nunca me dirijo às massas... Tenho um medo pavoroso de que um dia me declarem santo: perceberão que publico este livro antes, ele deve evitar que se cometam abusos comigo... Eu não quero ser um santo, seria antes um bufão... Talvez eu seja um bufão... E apesar disso, ou melhor, não apesar disso – pois até o momento nada houve mais mendaz do que os santos –, a verdade fala em mim. – Mas a minha verdade é terrível: pois até agora chamou-se à mentira verdade.

– Tresvaloração de todos os valores: eis a minha fórmula para um ato de suprema autognose da humanidade, que em mim se fez gênio e carne. Minha sina quer que eu seja o primeiro homem decente que eu me veja em oposição à mendacidade de milênios... Eu fui o primeiro a descobrir a verdade, a sentir por primeiro a mentira como mentira – ao cheirar ... Meu gênio está nas narinas... Eu contradigo como nunca foi contradito, e sou contudo o oposto de um espírito negador. Eu sou um mensageiro alegre, como nunca houve, eu conheço tarefas de uma altura tal que até então inexistiu noção para elas, somente a partir de mim há novamente esperanças. Com tudo isso sou necessariamente também o homem da fatalidade. Pois quando a verdade sair em luta contra a mentira de milênios, teremos comoções, um espasmo de terremoto, um deslocamento de montes e vales como jamais foi sonhado. A noção de política estará então completamente dissolvida em uma guerra de espíritos, todas as formações de poder da velha sociedade terão explodido pelos ares – todas se baseiam inteiramente na mentira: haverá guerras como ainda não houve sobre a Terra. Somente a partir de mim haverá grande política na Terra.


- F. Nietzsche, Ecce homo, Porque sou um destino.

domingo, dezembro 19, 2004

Oh!! Tadinho...

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Mais um, a mandar bitaítes!!

API: Cadilhe "insatisfeito" com país que tem para apresentar aos investidores

A API foi e é, mais do mesmo:
uma burrocracia de leão, com métodos do Séc. XIX!

Sátira Parlamentar!


- Desenho humorístico de Silva Monteiro representando os trabalhos parlamentares no final da Monarquia, in "Os Ridículos", 13 de Março de 1909 (B.N.)


- Desenho humorístico de Silva Monteiro sobre as novas cores da bandeira nacional, in "os Ridículos, 23 de Agosto de 1911 (B.N.)


- Desenho humorístico sobre a luta parlamentar entre os monárquicos e republicanos, in "O Xuão", 28 de Abril
de 1908 (B.N.)


- Desenho humorístico de Silva Monteiro sobre a repressão contra os republicanos e a instabilidade social no final da Monarquia, in "Os Ridículos", 16 de Fevereiro de 1910 (B.N.)

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Doce Pensamento

PEOPLE MAY NOT REMEMBER EXACTLY WHAT YOU DID, OR WHAT YOU SAID
BUT THEY WILL ALWAYS REMEMBER HOW YOU MADE THEM FEEL.

PGR deverá analisar conclusões da comissão de inquérito a Camarate

- Acção criminosa será objecto de análise

O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Melo, afirmou hoje ter garantias do procurador-geral da república de que as conclusões da comissão de inquérito ao caso Camarate, que apontam para acção criminosa na morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa, entre outros, serão objecto de análise.

"Tive do procurador a garantia de que os factos por nós apurados merecerão a atenção da Procuradoria-Geral da República", afirmou Nuno Melo à saída de uma audiência com Souto Moura.

O líder parlamentar do CDS-PP, que presidiu à VIII comissão parlamentar de inquérito à tragédia de Camarate, considerou que "o trabalho político está concluído". "Neste momento, é aos tribunais que compete dar seguimento às conclusões apuradas", frisou, reiterando ter a "fundamentada expectativa" de que o processo terá "bom seguimento" na Procuradoria-Geral da República.

PSD, CDS-PP e Bloco de Esquerda aprovaram na Assembleia da República, na semana passada, o relatório final da comissão de inquérito sobre Camarate, que concluiu pela existência de acção criminosa na queda do avião que transportava, em Dezembro de 1980, o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro e o ministro Adelino Amaro da Costa, exigindo o julgamento do caso.

As conclusões do relatório da VIII comissão de inquérito confirmam as conclusões da VI comissão: "Presunção de que o despenhamento da aeronave foi causado por um engenho explosivo que visou a eliminação física de pessoas, tendo constituído, por isso, acção criminosa".

Por outro lado, a comissão considerou provada a existência de um incêndio a bordo da aeronave antes da queda e assumiu as conclusões de uma comissão multidisciplinar de peritos, que fixa como explicação plausível para o despenhamento da aeronave "não razões acidentais mas o rebentamento de um engenho explosivo que incapacitou a aeronave e/ou os seus tripulantes da condução de voo".

"Mas foram apurados factos que vão muito para lá da tragédia de Camarate e que nunca foram objecto de investigação judicial", sublinhou Nuno Melo, referindo-se ao Fundo de Defesa do Ultramar.

De acordo com um relatório da Inspecção-Geral de Finanças, já divulgado pelo líder parlamentar do CDS-PP, foi detectado o desaparecimento de 40 milhões de euros do Fundo de Defesa do Ultramar, em 1980, que estaria a ser investigado pelo então ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa.

terça-feira, dezembro 14, 2004

O poeta doido, o vitral e a santa morta

Era uma vez um Poeta
Que vivia num Castelo,
Num Castelo abandonado,
Povoado só de medos...

- Um Castelo com portões que nunca abriam,
E outros que abriam sem ninguém os ir abrir,
E onde os ventos dominavam,
E donde os corvos saíam,
Para almoços
Que faziam
De mendigos que caíam lá nos fossos...

Havia no Castelo, ao fim dum corredor,
(Um corredor grande, grande,
Frio, frio,
Como abóbadas sonoras como poços)
Um vitral.

Era um vitral singular...

É é bem verdade que ninguém sabia
O que ele ali fazia,
Ao fim daquele corredor,
Naquela parede ao fundo,
Aquele vitral baço e quase já sem cor.

Nem o Poeta o sabia...

Nem o Poeta o sabia,
Muito embora noite e dia
Meditasse
No vitral quase sem cor
Que estava pr'ali na sombra
Do fundo do corredor
- Com ar de quem aguardasse...

Quando, a meio da noite, o Poeta acordava,
Levantava-se e, até dia, delirava.

Era a hora do Medo...

E passeava, delirando, pelos longos corredores,
Descia as escadarias,
Corria as salas.

Sob os seus pés, as sombras deslizavam.
Pelos recantos, os fantasmas encolhiam-se.
E, devagar, bem devagar, no escuro,
Portões abriam-se, e fechavam-se, e gritavam sem rumor.
O Poeta só parava
Diante do tal vitral,
Ao fim do tal corredor...

E sonhava.

Sonhava que, para lá
Daqueles doirados velhos,
Daqueles roxos mordidos,
Que morriam
Sobre o fundo espesso e negro,
Havia...

Mas que haveria?

Qualquer coisa bem ao perto
Que o chamava de tão longe...!

E, mudo, ali ficava até ser dia,

Enquanto os ventos, lá fora,
Fingiam mortos a rir...
Enquanto as sombras passavam...
Enquanto os portões rodavam,
Sem ninguém os ir abrir!

Mas, um dia,
- Eis, ao menos, o que dizem -
O Poeta endoideceu.

E, fosse Deus que o chamasse
Ou o Diabo que lhe deu,
(Não sei...)

Sei que uma noite, a horas desconformes,
O Doido alevantou-se nu e lívido,
Com os cabelos soltos e revoltos,
A boca imóvel como as das estátuas,
Os olhos fixos, sonâmbulos, enormes...

Pegou do archote,
Desceu, escada a escada, a muda escadaria,
Seguiu pelo corredor.

Em derredor,
As sombras doidas esvoaçavam contra os muros.
Lá muito longe, o vento era um gemido que morria...

Ao fim do tal corredor,
Havia
O tal vitral.

E, de golpe,
Como dum voo em linha recta,
O Poeta-Doido ergueu-se contra ele,
Direito como uma seta...

A cabeça ficou dentro,
O corpo ficou de fora...

E os verdes, os lilases, os vermelhos da vidraça
Laivaram-se de sangue que manava,
E que fazia,
Nas lájeas do corredor,
Um rio que não secava...

Mas, no instante em que morria,
Abrindo os olhos,
- Olhos de tentação divina e demoníaca -
O Poeta pôde ver.

... E viu:

Viu que, por trás do vitral baço, havia
Um nicho feito no muro.
Dentro, iluminando o escuro,
De pé sobre tesoiros e tesoiros,
Estava
Certo cadáver duma Santa
Que fora embalsamada há muitos séculos...

E a Santa, que o esperava,
Despertou,
E, sorrindo-lhe e curvando-se, beijou
A cabeça degolada.


- José Régio

Prendas especiais para o Natal

- Livros



A quadra de Natal é pontuada por uma corrida desenfreada às lojas, em busca de prendas e presentes.
Muitas das prendas oferecidas, são-no por uma questão de mera tradição ou costume, e não como dádiva sincera e profusa de significado humano - despreendimento, gratidão e paz.

Neste Natal vale a pena oferecer três livros, escritos por Homens especiais, cheios de significado e conteúdo; e, esse conteúdo, é visível em cada texto escrito.

Para este Natal, ofereça livros:

Este, este e este.

Com conteúdo, a vida tem mais significado.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Parabéns ao Ma-Schamba

Hoje o Ma-Schamba faz um ano de publicações!

O JPT está de parabéns pela aragem fresca que sopra das belas terras africanas, no caso Moçambique.

E que bom que é, ter acesso a uma prespectiva tão humana, divertida, simpática e bem escrita!

Amigo JPT, conte muitos! Para regozijo de todos nós :)

f112034.jpg

Esta é cortesia do amigo "Chicharro"! :))

domingo, dezembro 12, 2004

Aqueduto das Águas Livres

Para os interessados:

O quase tricentenário aqueduto das águas livres, monumento nacional, está em vias de ser destruído para dar passagem a uma estrada entre Benfica e a Buraca, às portas de Lisboa.

Existem alternativas eventualmente, mais económicas. Para salvaguardar este património edificado, em vias de ser classificado património da humanidade pela UNESCO, assine a petição na internet.

A Organização OPRURB está à espera de obter 5 mil assinaturas para serem entregue no Parlamento. Para assinar a petição pela preservação do Aqueduto das Águas Livres:

Aqui

Comissão Política Nacional

O presidente do CDS-PP, Paulo Portas, enumerou hoje perante os membros da comissão política nacional do partido os argumentos contra e a favor da coligação com o PSD, sem revelar a decisão tomada, disseram à Agência Lusa fontes do partido.

«O objectivo da reunião foi ouvir», afirmou um dirigente democrata-cristão, depois de mais de quatro horas de um encontro em que os membros da comissão política saíram em silêncio.

O mesmo dirigente, sem querer adiantar a tendência maioritária das cerca de três dezenas de intervenções, frisou que a última posição de Paulo Portas, imediatamente após a abertura do processo conducente à dissolução, foi clara: a de anunciar que o CDS iria preparar listas próprias para as eleições antecipadas.

O líder Paulo Portas foi o último a abandonar o Largo do Caldas, acompanhado pelo vice-presidente Pires de Lima e pelo líder parlamentar Nuno Melo, mas escusou-se a prestar qualquer declaração.

«Quem fala às 2:35 da manhã ou está com sono ou fala mal», disse.

Link

A demissão do Governo

A decisão de apresentação da demissão por parte do Governo vem na medida, não apenas para defesa da honra, mas principalmente para restringir 'maiores danos' a uma governação atípica.

Nunca, em momento algum, ao nível da cátedra de direito constitucional, foi ou foram colocados ou desenvolvidos hipóteses académicas no sentido 'daquilo' que está actualmente a suceder - todo o processo é sobejamente conhecido para voltar a ser enumerado.

A decisão de dissolução da AR, e de não demissão do Governo, implica por seu turno que, o Governo se manteria em plenitude de funções podendo, a qualquer momento ser demitido pelo PR.
Ora, mais uma vez o PR accionaria um mecânismo, in extremis, constitucional de âmbito unipessoal.

A demissão do Governo, por motto próprio, impede o PR de demitir o Governo e de nomear um Governo de Iniciativa Presidencial.
Um Governo em Gestão não pode ser substituido, por um de iniciativa presidencial, uma vez que, já está 'diminuido' nas suas prerrogativas e capacidade de acção e decisão, e impede o PR de agir nesse sentido.

Assim sendo, a única solução para impedir uma nova actuação do PR - pela demissão e nomeação de uma Gov. de Iniciativa Presidencial, e de criar as condições de transparência necessárias para a campanha das eleições legislativas seria, de facto, a apresentação da demisão.

sábado, dezembro 11, 2004

Dissolução, Demissão, e Erosão Política

O Presidente da República demorou 10 dias a formalizar aquilo que, num repente, decidiu anunciar ao Primeiro Ministro.

O Sr. Presidente da República, tomou uma decisão com base, mais uma vez, em emoções! Já em Julho o fez.
Ao invés de convocar eleições antecipadas, como deveria tê-lo efectuado nessa altura (já então o referi - deviam ter tido lugar eleições antecipadas.); mas, considerando que o PS era na altura liderado por Ferro Rodrigues - um PS "fraco", mais à esquerda, sem quadros para governar e com uma deriva de aliança ao BE, o Sr. Presidente da República resolveu empossar Pedro Santana Lopes.

Com a eleição de José Sócrates para Secretário-Geral do PS, o PR considerou 'estarem reunidas as condições para "o PS ser governo"!!!
Permito-me discordar do Sr. PR, o PS não está em condições de governar, não tem políticas para solucionar os problemas que o país atravessa e que, em abono da verdade, foram produzidos pelos governos 'guterrianos'.

Mas, analisando a passada semana e a situação resultante do comunicado feito pelo PM após reunião com o PR:

Dissolução do Parlamento - O Sr. PR optou pela dissolução da AR.

1 - O comunicado foi feito pelo PM à comunicação social, e posteriormente enquadrado por um comunicado enviado pela Casa Civil da PR.
2 - Uma situação tão extrema, em que em causa está a separação de poderes constitucionalmente previstos, carece de um tratamento mais disciplinado, organizado, correcto, formal e emocionalmente distanciado.
3 - O PAR não foi formalmente informado, aliás deveria ter sido o primeiro a saber da AR, uma vez que, se trata da 2ª figura da hierarquia do Estado, e é Presidente da instituição que ia ser dissolvida. A dissolução da AR não é um facto corriqueiro, ou tão pouco de somenos importância.
4 - Os Partidos Políticos e o Conselho de Estado deveriam ter sido ouvidos de imediato, no máximo, no prazo de 48 horas.
Aquilo que sucedeu foi um compasso de espera de 10 dias, para obtermos um comunicado que nada acresce, que nada explica, e que, campeia já pelo PS!!
5 - Aquilo que o PR queria na realidade era o afastamento de PSL, contudo, em vez de referir: "O Governo está demitido.", referiu: "Vou dissolver o Parlamento."!!

Mas, porquê o Parlamento?!
- O Parlamento estava a funcionar em termos da maioria; existia estabilidade.
- O Parlamento foi legitimamente sufragado.
- Uma das questões mencionadas para a necessidade de tal dissolução era a "não continuidade das políticas económicas", mas no entanto o Sr. PR quis que o OGE para 2005 fosse aprovado pela maioria existente!!! Uma contradição absolutamente incompreensível.

A 'confusão' do SR. PR entre: demissão e dissolução, veio provocar efeitos mais nefastos do que aqueles que existiam à altura da 'confundida decisão'!
Se, o 'governo era incompetente' o Sr. PR não deixa os seus créditos por mãos alheias!!

É que, se tivesse ido pela demissão do governo, a maioria seria obrigada a nomear outro Primeiro-Ministro, que não aquele que se encontrava no momento da decisão de demissão. Essa sim, seria a 'vingança do chinês', e 'os desejos' que interpretou da população!!

Este é o real cenário e ambiente!

Demissão do Governo - Hoje, após toda esta confusão, o Conselho de Ministro vai reunir e apresentar ao PR a demissão do governo.

Erosão Política - A situação interna é de uma fragilidade imensa. A população está 'assustada' (sim, assustada, considerando a dependência que sempre existiu, existe, e muito infelizmente existirá do Estado, do "paizinho e mãezinha" Estado/estado). A falta de sentido de Estado, de competência, de disciplina e organização. De política reais e conscretas, de resultados concretos e de bem-fazer.

A nível internacional, estamos com uma 'triste figura' - sem mais comentários.

Na última semana muito tem sido dito sobre o Dr. Jorge Sampaio, e a sua actuação enquanto Presidente da República, e nunca a sua influência foi tão fraca, tão frágil e tão emocional.
Não pelo facto de ter-se decidido pela dissolução da AR, mas pela ausência de uma resolução célere, concreta, ponderado e fundamentada.
Uma delonga na explicação (10 dias!!!), a ausência de fundamentos concretos para tal dissolução, e a intencinalidade de aprovação do OGE para 2005, por parte de uma maioria dissolvida e aparente incompetente - à luz dos fundamentos do PR.

Se de Mário Soares restará uma nota de rodapé nas páginas de História, de Jorge Sampaio ficará apenas uma ténue lembrança do Presidente da República que, queria fazer uma coisa, e acabou a fazer outra!

No país das maravilhas

Publico a crónica, de Helena Sacadura Cabral.

Ao ler, hoje, a sua crónica, revi a dimensão humana e mais intíma da política; e pensei nas 'dores e sofrimentos' que a mesma acarreta.
Apenas seres humanos. Com alegria e tristeza. Mas, sempre, com sentimentos.

As famílias, os amigos.
Aqueles que nos amam, e que nós amamos.
Aqueles que são porto e refúgio das tempestades.
Aqueles que, independentemente de tudo, estão lá. Mais visíveis ou menos vísiveis.
Que estão para nós, por nós, para as nossas mágoas - umas mais aparentes, e a maior parte, 'escondidas'.
Que nos acompanham nas subidas, mas principalmente, nas descidas.
Que são, enfim, a razão e o sal de seguir em frente.

Apanhei a queda do Governo no lançamento do último livro da minha amiga Luísa Beltrão, o qual, por mero acaso, se chama Uma Pedra no Sapato.

A notícia veio através duma mensagem no telemóvel posto em silêncio, e dizia apenas «o teu filho caiu». No momento só me lembrei do mais velho e do seu vai-e-vem aéreo semanal. Fiquei lívida, o coração disparou e eu não consegui, sequer, reagir.

Por alguns segundos perdi completamente a noção do tempo e do local onde me encontrava.

Quando me recompus, saí da sala numa reacção automática. Nesse instante um amigo que chegava atrasado, pressentindo que eu não estava bem, disse-me a sorrir: «Não me digas que a tua palidez se deve à queda do Governo!»

Foi assim que esta mãe de família tomou conhecimento da «prenda natalícia» que o Dr. Jorge Sampaio nos reservou para as festas que se aproximam.

Minutos depois, já serena, voltei para a sala. Mas continuava ainda algo duvidosa da veracidade da notícia que, se me tranquilizou sobre o destino do mais velho, me inquietou sobre o presente do mais novo.

Ouvi a excelente apresentação feita pela Rita Ferro, abracei a Luísa e só depois tentei apurar a verdade.

Que veio confirmar a infeliz mensagem inicial. Lembrei-me, então, do título do livro acabado de sair e de como ele se adequava à singular ocasião!

Esta longa introdução serve para explicar as palavras que se seguem. Escrevo-as no dia do meu aniversário, que, também por coincidência, é o mesmo do Dr. Mário Soares. Porém, ao contrário dele, que está contente, eu estou muito preocupada.

Certamente que o facto se ficará a dever às nossas diferenças etárias e ideológicas.

Ou, quem sabe, talvez ele tenha sobre o assunto mais informação que todos nós, que ainda não ouvimos qualquer explicação do Chefe Supremo da Nação.

Sinto-me a viver num país estranho em que tudo pode ser e deixar de ser ao mesmo tempo, em que o verdadeiro e o seu contrário são ambos a mesma coisa, em que o Governo existe e não existe, em que o Parlamento está e não está dissolvido, em que estas linhas e o seu oposto são exactamente o mesmo, em que o Paulo é o Miguel, ou o contrário, enfim, em que eu própria chego a duvidar se existo.

O que do ponto de vista filosófico e emocional, e tendo em conta o extremo absurdo que constitui a nossa normalidade, pode levantar-nos dúvidas até sobre a existência do país.

Estamos a viver uma situação política de potencial demência, em que somos e não somos em simultâneo.

Se na semana passada vos dava conta das minhas dificuldades na percepção da pergunta aprovada para referendo, agora a minha perplexidade é total. Não consigo perceber o país em que vivo e tenho comigo milhões de pessoas que não podem, por esse facto, ser consideradas mentecaptas.

Por mais que me esforce para explicar aos amigos estrangeiros o que nos aconteceu, ninguém consegue entender. E aconselham-me a que vá para o pé deles, numa tentativa de me pouparem ao ciclone que se avizinha.

A curto prazo, a alternativa será passar a chamar-me Alice e acreditar que vivo no país das maravilhas.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Obrigadinha :)

JPT, o Gandula Apanha-Bolas: Ma-Schamba, pela atribuição do Prémio: Gandula "Então?" 2004!

Ahah :), obrigadinha amigo JPT pelo Prémio; uma distinção que me deixa 'babada'!

Como diria o poeta:
"Me agrada-me" a distinção!!

E daqui vai uma 'piquena' homenagem:

A utopia dos olhos escancarados

" Se num momento de loucura
acaso arriscares acima do tédio
e afoito sozinho dobrares
a agreste solidão da esquina dos dias,
poderás então entrever
por entre as brumas do tempo
a imensa multidão e o verde prazer
das tuas mais urgentes utopias.

Se depois com ardor escreveres
- ridícula como o poeta a dizia -
uma simples carta de amor
cuja verdade ofereça fogosa o seu pudor
sinceros significados tão prementes
que a ouro fiquem bordados
no seio nu das palavras inexistentes,
imune farás tombar do muro os pecados
com que este presente impune
procura sarcástico esconder-nos o futuro.

Se porem impossível te for
a sangria das palavras a sério
e ao cansaço sem outra saída
com fúria não conseguires opor
a beleza dum punho bem apertado,
arrepia caminho e não ouses.
Nunca ouses monstro malfadado
dobrar a esquina deste tempo
de cobardias prenhe e silêncios cheio.

Porque só o amor mata a hipocrisia
e reconhece os homens iguais
porque para além deste dia
só de olhos escancarados se sonha a utopia."


- Adriano Alcantara

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Relatório revela saída sem rasto de 40 milhões do Fundo do Ultramar

Conteúdo do documento será debatido amanhã na AR

O líder parlamentar do PP, Nuno Melo, disse ontem à noite que foi detectado o desaparecimento de 40 milhões de euros do Fundo de Defesa do Ultramar, em 1980, num relatório da Inspecção-geral de Finanças.

O deputado adiantou que o conteúdo do relatório, elaborado no âmbito das investigações da Comissão de Inquérito ao desastre de Camarate em 1980, será debatido amanhã na Assembleia da República.

Segundo Nuno Melo, no documento "constam negócios pouco claros de venda de armas a países como a Indonésia, o Irão, a Guatemala, e a Argentina, que tinham sido proibidos pelo então ministro da Defesa, Adelino Amaro da Costa".

"O ministro, que morreu no acidente de avião em Camarate no dia 4 de Dezembro, havia proibido a venda de armas ao Irão no dia 2 de Dezembro, mas a 5 de Dezembro a competência do Ministério foi remetida para outra entidade e a transacção veio a ser feita no dia 9", afirmou.

O líder do grupo parlamentar do PP, que preside também à Comissão de Inquérito sobre Camarate, falou num jantar em Famalicão, convocado para homenagear o trabalho dos autarcas do partido no concelho, em que esteve o líder do PP, Paulo Portas, e 700 simpatizantes. (Mais de 1000 pessoas estiveram presentes.)
"O relatório será entregue à Procuradoria Geral da República que, na hipótese de não estarem prescritos os eventuais crimes nele contidos, os poderá investigar, dizendo aos portugueses aquilo que se passou", afirmou no final do jantar à Lusa.

Nuno Melo salientou que a investigação aos dinheiros do Fundo só foi possível porque Paulo Portas, enquanto ministro da Defesa, abriu os respectivos arquivos, o que não tinha sido permitido por anteriores titulares da pasta.

"Há uma tentativa clara de que as coisas caiam no esquecimento, num apagar de memórias", declarou Nuno Melo, frisando que na época havia responsáveis militares e entidades diversas com responsabilidade na gestão daqueles fundos públicos que terão de explicar o que se passou.

"Há pessoas com altas responsabilidades de Estado, que tinham, nos termos da lei, a tutela máxima sobre o Fundo, e que terão de explicar o que aconteceu, pois não é admissível que desconhecessem a existência das contas bancárias e o destino desse dinheiro", assinalou.

Nuno Melo afirmou que os 35 a 40 milhões de euros do Fundo "saíram das contas e não se lhes conhece o rumo", o que é matéria que pode ter incidência criminal.

O líder parlamentar popular lamentou que, "infelizmente, com a dissolução da Assembleia da República termine o mandato da Comissão de Camarate", mas manifestou-se convicto de que "a polícia e os órgãos judiciais saberão cumprir o seu papel".

segunda-feira, dezembro 06, 2004

POR FIM, A VERDADE.

Camarate: relatório aponta para «acto de sabotagem»

Comissão de Inquérito revela que queda da aeronave ficou a dever-se a «rebentamento de engenho explosivo» e «não a razões acidentais». Há 24 anos, Cessna onde seguia Sá Carneiro foi alvo de atentado

A comissão multidisciplinar de peritos encarregada de investigar a tragédia de Camarate concluiu que a queda do Cessna que vitimou o então primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro se deveu a «um acto de sabotagem».

De acordo com a conclusão da súmula do relatório distribuído esta segunda-feira aos deputados da VIII Comissão de Inquérito sobre Camarate, a explicação plausível para o despenhamento da aeronave a 4 de Dezembro de 1980 encontra-se «não em razões acidentais, mas sim no rebentamento - e correspondentes consequências - de um engenho explosivo que incapacitou a aeronave e/ou os seus tripulantes».

«Não só não se encontra qualquer indício que permita filiar tal rebentamento em qualquer anomalia dos equipamentos de bordo, como se consegue compatibilizar todo um conjunto de indícios reveladores de ter sido essa a causa adequada e necessária do rebentamento», refere o documento, apresentado pelo presidente da comissão de inquérito, o líder parlamentar do CDS Nuno Melo.

Num outro ponto, onde se faz a análise das assinaturas físicas e químicas de eventual utilização de explosivos, o relatório da comissão multidisciplinar de peritos refere um conjunto de factos apurados para concluir pela existência de sabotagem.

«Este conjunto de evidências parece-me suficientemente coerente para alicerçar os indícios de que a aeronave CESSNA 421A YV-314-P se despenhou em Camarate na noite de 04 de Dezembro de 1980 em consequência de um acto de sabotagem», refere o documento.

Os deputados do PSD pediram que se avançasse imediatamente com a preparação do relatório final da comissão de inquérito, de modo a ser votado na próxima quinta-feira (previsivelmente o último plenário desta legislatura), mas, a pedido da oposição, concordaram em marcar uma audição prévia com a comissão multidisciplinar de peritos, que poderá acontecer terça-feira de manhã.

sábado, dezembro 04, 2004

Faz hoje, 24 anos

Sá Carneiro e Amaro da Costa.

POEMA DO SILÊNCIO

Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi tragicômicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalômano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.

- José Régio

Parabéns ao Tomar Partido

Parabéns ao Tomar Partido e a Jorge Ferreira, por um ano 'recheado' na Blogosfera! Com senso de humor, actualidade e qualidade.



Pela rua já serena

Pela rua já serena
Vai a noite
Não sei de que tenho pena,
Nem se é pena isto que tenho...

Pobres dos que vão sentindo
Sem saber do coração!
Ao longe, cantando e rindo,
Um grupo vai sem razão...

E a noite e aquela alegria
E o que medito a sonhar
Formam uma alma vazia
Que paira na orla do ar...


- Fernando Pessoa

Abaixo da linha de água!!

O site do PPD-PSD lançou um questionário aos seus militantes acerca da decisão da dissolução da Assembleia da República.

A votação era ontem, às 20.30 de:

56,79% consideravam ser uma decisão correcta, e
43,21% consideravam ser uma decisão incorrecta.

Tive oportunidade de comprovar a VERACIDADE desta votação por visita feita ontem e, hoje de manhã era ainda superior.

Entretanto, saiu no jornal "Público" este mesmo resultado (link indisponível).

Hoje, o webmaster do site inverteu as votações!!!!!!!!!

"Viva" a transparência, verdade, rigor e democracia que reinam nas hostes Santanistas.

Para se obter o resultado real da consulta deve voltar-se a inverter os valores, i.e., onde se lê SIM deve ler-se NÃO, e onde se lê NÃO deve ler-se SIM!

E esta, hein?!!

Fracassada Revisão da Lei Eleitoral Autárquica

A direcção do grupo parlamentar do PS emitiu ontem um comunicado onde afirma que só agendará, no Parlamento, a votação do seu projecto de revisão da lei eleitoral autárquica se todos os partidos deram para isso consenso. Como já se sabe que nem o PCP nem o Bloco o desejam, a tomada de posição dos socialistas significa que a revisão da lei cairá por terra. O mais provável é que, assim, as próximas eleições autárquicas (Outubro de 2004) se façam no modelo em vigor actualmente (e há cerca de 28 anos).

O PS 'puxou o tapete debaixo dos pés do PSD!

Não há "almoços grátis" para ninguém! Se o PPD-PSD pensava ter um "parceiro" fiel no PS, esta notícia veio comprovar que os acordos secretos entre ambos, apenas servem para bel-prazer do PS! E que, este partido, diz o mesmo e o seu contrário, onde, quando e como bem lhe entender. Santana Lopes e os seus apaniguados pensavam terem descoberto a eletricidade em pó, afinal não era mais que 'ouro dos tolos'!

Já o comentário do 'cónego' Louça à situação, deixa-me 'preocupada', e não é que se lembrou de, quase, idêntico epíteto?!!

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Golpe de Estado(?)

Quem já fazia cenários para as Legislativas, não conhece a 'peça' que é Santana Lopes e até onde pode chegar. E já agora, José Sócrates (sais-te uma boa peça!).

Mas Lopes não está sozinho, e o impensável aconteceu:
o PSD e o PS uniram-se, sim caro/a visitante, uniram-se no Parlamento para, há revelia de todas as regras parlamentares, agendarem ad hoc, a discussão e votação duma só penada da alteração à Legislação Eleitoral Autárquica!!!!!!!

Quais parceiro de coligação, quais quê!

A baixeza própria das bandas Sa(n)tanistas, vai sempre no sentido de esticar o limite do absurdo e do impensável:
"ah, pensavam que tinham visto tudo?
Pois enganaram-se, ainda aí vem mais!!"

E veio mesmo!
Sociais democratas e socialistas juntaram-se.

E aos caros 'cenaristas' uma chamada de atenção:
não se admirem caso os dois partidos (PPD-PSD e PS) façam uma coligação legislativa pré ou pós eleitoral é que, em 'gaiola de doidas', quando os "líderes" são deste calibre quem se lixa é o mexilhão.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Epígrafe

De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.

De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.

De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.

Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
--- expressão da multidão que está comigo.


- José Carlos Ary dos Santos