domingo, agosto 31, 2003

A Chuva... Intimista

A chuva...

Intimista por natureza.

Lá fora a chuva cai de mansinho, dando e permitindo uma sensação de conforto.

Qual gata, enroscada junto da lareira.
Na mesa, uma chávena de chá.
A lenha crepita, o fogo espalha-se no ar - laranja, encarnado, amarelo.

O cheiro inunda de madeira o olfato.
Uma manta... enrolada.
Um livro, lido - a meio.
Um semblante satisfeito.

A chuva cai, e com ela leva as tormentas, e deixa no seu lugar a satisfação.
É hora de recolhimento, de conforto e intimidade.
Hora de conversa à lareira, à volta da lareira.

Chegam ecos distantes da meninice; o Avô, figura temporal, na sua sabedoria dos seus provectos anos, traz ao colo uma criança. Conta-lhe estórias de outros tempos, e sossega-lhe as "feridas", qual ungento para o Coração.

A chuva caí, e com ela leva as constingências, as mágoas, as desilusões, e no seu lugar deixa o conforto e a intimidade de uma lareira.

sábado, agosto 30, 2003

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.



- Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca

Nas águas do tempo

Meu avô, nesses dias, me levava rio abaixo, enfilado em seu pequeno concho. Ele remava, devagaroso, somente raspando o remo na correnteza. O barquito cabecinhava, onda cá, onda lá, parecendo ir mais sozinho que um tronco desabandonado.

- Mas vocês vão aonde?

Era a aflição de minha mãe. O velho sorria. Os dentes, nele, eram um artigo indefinido. Vovô era dos que se calam por saber e conversam mesmo sem nada falarem.

- Voltamos antes de um agorinha, respondia.

Nem eu sabia o que ele perseguia. Peixe não era. Porque a rede ficava amolecendo o assento. Garantido era que, chegada a incerta hora, o dia já crepusculando, ele me segurava a mão e me puxava para a margem. A maneira como me apertava era a de um cego desbengalado. No entanto, era ele quem me conduzia, um passo à frente de mim. Eu me admirava da sua magreza direita, todo ele musculíneo. O avô era um homem em flagrante infância, sempre arrebatado pela novidade de viver.

Entrávamos no barquinho, nossos pés pareciam bater na barriga de um tambor. A canoa solavanqueava, ensonada. Antes de partir, o velho se debruçava sobre um dos lados e recolhia uma aguinha com sua mão em concha, E eu lhe imitava.

- Sempre em favor da água, nunca esqueça!

Era sua advertência. Tirar água no sentido contrário ao da corrente pode trazer desgraça. Não se pode contrariar os espíritos que fluem.

Depois viajávamos até ao grande lago onde nosso pequeno rio desaguava. Aquele era o lugar das interditas criaturas. Tudo o que ali se exibia, afinal, se inventava de existir. Pois, naquele lugar se perdia a fronteira entre água e terra. Aquelas inquietas calmarias, sobre as águas nenufarfalhudas, nós éramos os únicos que preponderávamos. Nosso barquito ficava ali, quieto, sonecando no suave embalo. O avô, calado, espiava as longínquas margens.
Tudo em volta mergulhava em cacimbações, sombras feitas da própria luz, fosse ali a manhã eternamente ensonada. Ficávamos assim, como em reza, tão quietos que parecia-mos perfeitos.

De repente, meu avô se erguia no concho. Com o balanço quase o barco nos deitava fora. O velho, excitado, acenava. Tirava seu pano vermelho e agitava-o com decisão. A quem acenava ele? Talvez era a ninguém. Nunca, nem por pinte, vislumbrei por ali alma deste ou de outro mundo. Mas o avô acenava seu pano.

- Você não vê lá, na margem? por trás do cacimbo?

Eu não via. Mas ele insistia, desabotoando os nervos.

- Não é lá. É lááá. Não vê o pano branco, a dançar-se?

Para mim havia era a completa neblina e os receáveis aléns, onde o horizonte se perde.
Meu velho, depois, perdia a miragem e se recolhia, encolhido no seu silêncio. E regressávamos, viajando sem companhia de palavra.

Em casa, minha mãe nos recebia com azedura. E muito me proibia, nos próximos futuros. Não queria que fôssemos para o lago, temia as ameaças que ali moravam. Primeiro, se zangava com o avô, desconfiando dos seus não-propósitos. Mas depois, já amolecida pela nossa chegada, ela ensaiava a brincadeira:

- Ao menos vissem o namwetxo moha! Ainda ganhávamos vantagem de uma boa sorte...

O namwetxo moha era o fantasma que surgia à noite, feito só de metades: um olho, uma perna, um braço. Nós éramos miúdos e saíamos, aventurosos, procurando o moha. Mas nunca nos foi visto tal monstro. Meu avô nos apoucava. Dizia ele que, ainda em juventude, se tinha entrevisto com o tal semifulano. Invenção dele, avisava minha mãe. Mas a nós, miudagens, nem nos passava desejo de duvidar.

Certa vez, no lago proibido, eu e vovô aguardávamos o habitual surgimento dos ditos panos. Estávamos na margem onde os verdes se encaniçam, aflautinados. Dizem: o primeiro homem nasceu de uma dessas canas. O primeiro homem? Para mim não podia haver homem mais antigo que meu avô. Acontece que, dessa vez, me apeteceu espreitar os pântanos. Queria subir à margem, colocar pé em terra não-firme.

- Nunca! Nunca faça isso!

O ar dele era de maiores gravidades. Eu jamais assistira a um semblante tão bravio em meu velho. Desculpei-me: que estava descendo do barco mas era só um pedacito de tempo. Mas ele ripostou:

- Neste lugar não há pedacitos. Todo o tempo, a partir daqui, são eternidades.

Eu tinha um pé meio-fora do barco, procurando o fundo lodoso da margem. Decidi me equilibrar, busquei chão para assentar o pé. Sucedeu-me então que não encontrei nenhum fundo, minha perna descia engolida pelo abismo. O velho acorreu-me e me puxou. Mas a força que me sugava era maior que o nosso esforço. Com a agitação, o barco virou e fomos dar com as costas posteriores na água. Ficámos assim, lutando dentro do lago, agarrados às abas da canoa. De repente, meu avô retirou o seu pano do barco e começou a agitá-lo sobre a cabeça.

- Cumprimenta também, você!

Olhei a margem e não vi ninguém. Mas obedeci ao avô, acenando sem convicções. Então, deu-se o espantável: subitamente, deixámos de ser puxados para o fundo. O remoinho que nos abismava se desfez em imediata calmaria. Voltámos ao barco e respirámos os alívios gerais. Em silêncio, dividimos o trabalho do regresso. Ao amarrar o barco, o velho me pediu:

- Não conte nada o que se passou. Nem a ninguém, ouviu?

Nessa noite, ele me explicou suas escondidas razões. Meus ouvidos se arregalavam para lhe decifrar a voz rouca. Nem tudo entendi. No mais ou menos, ele falou assim: nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos. O que acontece, meu filho, é que quase todos estão cegos, deixaram de ver esses outros que nos visitam. Os outros? Sim, esses que nos acenam da outra margem. E assim lhes causamos uma total tristeza. Eu levo-lhe lá nos pântanos para que você aprenda a ver. Não posso ser o último a ser visitado pelos panos.

- Me entende?

Menti que sim. Na tarde seguinte, o avô me levou uma vez mais ao lago. Chegados à beira do poente ele ficou a espreitar. Mas o tempo passou em desabitual demora. O avô se inquietava, erguido na proa do barco, palma da mão apurando as vistas. Do outro lado, havia menos que ninguém. Desta vez, bem o avô não via mais que a enevoada solidão dos pântanos. De súbito, ele interrompeu o nada:

- Fique aqui!

E saltou para a margem, me roubando o peito no susto. O avô pisava os interditos territórios? Sim, frente ao meu espanto, ele seguia em passo sabido. A canoa ficou balançando, em desequilibrismo com meu peso ímpar. Presenciei o velho a alonjar-se com a discrição de uma nuvem. Até que, entre a neblina, ele se declinou em sonho, na margem da miragem. Fiquei ali, com muito espanto, tremendo de um frio arrepioso. Me recordo de ver uma garça de enorme brancura atravessar o céu. Parecia uma seta trespassando os flancos da tarde, fazendo sangrar todo o firmamento. Foi então que deparei na margem, do outro lado do mundo, o pano branco. Pela primeira vez, eu coincidia com meu avô na visão do pano. Enquanto ainda me duvidava foi surgindo, mesmo ao lado da aparição, o aceno do pano vermelho do meu avô. Fiquei indeciso, barafundido. Então, lentamente, tirei a camisa e agitei-a nos ares. E vi: o vermelho do pano dele se branqueando, em desmaio de cor. Meus olhos se neblinaram até que se poentaram as visões.

Enquanto remava um demorado regresso, me vinham à lembrança as velhas palavras de meu velho avô: a água e o tempo são irmãos gémeos, nascidos do mesmo ventre. E eu acabava de descobrir em mim um rio que não haveria nunca de morrer. A esse rio volto agora a conduzir meu filho, lhe ensinando vislumbrar os brancos panos da outra margem.

- Mia Couto

Sob as acácias floridas

1

Com Novembro a chiar nestas cigarras
as acácias sangrando suas flores
e um sol afirmativo num céu alto
Espero a tua carta e a minha vida
Uma pausa do tempo em minhas mãos
preenchida pela contagem das horas
nas cigarras e pétalas caídas.

2

A rua corre larga e sossegada
É a hora de tu vires!
Tu vens (eu sei) na moldura vesperal
com esta luz do passado nas paredes
e este céu de altocúmulos de Dezembro.

Com os estames d'acácia
jogo a vida nas sortes infantis
«Antera cai? Não cai? Ela virá? Não vem?»
E a cada sorte recuso a evidência
«Ela virá? Não vem?»
É a hora de chegares!

3

Os aros dos meus óculos te emolduram
ó Vénus de cabelos desfrizados!
Enquanto as minhas mãos, cegas, procuram
o cofre dos teus seis apertados.

Construímos assim a primavera
- a negada primavera dos amores:
Pega uma flor d'acácia para a pores
no meu cabelo indómito de fera.

Repara e vê a doce realidade:
os nossos jogos simples e ingénuos!
Esta soalheira vespertina hoje é-nos
bela imagem da nossa felicidade.

4

Cigarreio sem sol neste Dezembro.
E um céu da cor da angústia que me dá
a tua ausência em carne e em pensamento.

Magoa-me o teu rosto que não lembro
e o tau vestido branco táfetá
que voava batido pelo vento.

Se esta vida tão clara e simples fosse
como a imagem fixada desse instante
nenhum mal me faria esta chuva precoce.

Chuva, mãe dos poetas, minha amante,
lava às acácias o sanguíneo canto,
cala a voz das cigarras e o meu pranto!

- Mário Antonio

sexta-feira, agosto 29, 2003

Uma Palavra

Talvez não deve-se sequer proferir uma palavra sobre esta questão infame, mas.. cá vai!

Uma "questão" ignóbil povoa a blogosfera, um pseudo "grupelho" denominado govd, cujas insinuações, calúnias e vergonhosas "afirmações" seriam capazes de tirar do sério até "um santo"!

Naturalmente, e dirão, que não deve ser prestada atenção a tal sucedido, mas o que é certo é que, uma coisa é o debate de ideias - de forma construtiva (em que podemos discordar), outra é a utilização da blogosfera como meio de propaganda da pior espécie!! Encapotada, manipuladora e escroque!!

A ser verdade que tal "grupelho" existe, então que se afirme, dê a cara para fazer o debate que em democracia é aceite, e exigível.

Retomando o "Quinto Império"

Diz Fernando Pessoa a respeito:

"Quinto Império

Vibra, clarim, cuja voz diz. Que outrora ergueste o grito real Por D. João, Mestre de Aviz, E Portugal!
Vibra, grita aquele hausto fundo Com que impeliste, como um remo, Em El-Rei D. João Segundo

O Império extremo! Vibra, sem lei ou com lei, Como aclamaste outrora em vão O morto que hoje é vivo — El-Rei D. Sebastião!
Vibra chamando, e aqui convoca O inteiro exército fadado Cuja extensão os pólos toca Do mundo dado!
Aquele exército que é feito Do quanto em Portugal é o mundo E enche este mundo vasto e estreito De ser profundo.
Para a obra que há que prometer Ao nosso esforço alado em si, Convoco todos sem saber (É a Hora!) aqui!
Os que, soldados da alta glória, Deram batalhas com um nome, E de cuia alma a voz da história Tem sede e fome.
E os que, pequenos e mesquinhos, No ver e crer da externa sorte, Convoco todos sem saber Com vida e morte.
Sim, estes, os plebeus do Império; Heróis sem ter para quem o ser, Chama-os aqui, ó som etéreo Que vibra a arder!
E, se o futuro é já presente Na visão de quem sabe ver, Convoca aqui eternamente Os que hão de ser! T
odos, todos! A hora passa, O génio colhe-a quando vai. Vibra! Forma outra e a mesma raça Da que se esvai.
A todos, todos, feitos num Que é Portugal, sem lei nem fim, Convoca, e, erguendo-os um a um, Vibra, clarim!
E outros, e outros, gente vária, Oculta neste mundo misto. Seu peito atrai, rubra e templária, A Cruz de Cristo.
Glosam, secretos, altos motes, Dados no idioma do Mistério — Soldados não, mas sacerdotes, Do Quinto império.
Aqui! Aqui! Todos que são. O Portugal que é tudo em si, Venham do abismo ou da ilusão, Todos aqui!
Armada intérmina surgindo, Sobre ondas de uma vida estranha. Do que por haver ou do que é vindo — É o mesmo: venha!
Vós não soubesses o que havia No fundo incógnito da raça, Nem como a Mão, que tudo guia, Seus planos traça.
Mas um instinto involuntário, Um ímpeto de Portugal, Encheu vosso destino vário De um dom fatal. De um rasgo de ir além de tudo, De passar para além de Deus, E, abandonando o Gládio e o escudo, Galgar os céus.
Titãs de Cristo! Cavaleiros De uma cruzada além dos astros, De que esses astros, aos milheiros, São só os rastros.
Vibra, estandarte feito som, No ar do mundo que há de ser. Nada pequeno é justo e bom. Vibra a vencer!
Transcende a Grécia e a sua história Que em nosso sangue continua! Deixa atrás Roma e a sua glória E a Igreja sua!
Depois transcende esse furor E a todos chama ao mundo visto. Hereges por um Deus maior E um novo Cristo!
Vinde aqui todos os que sois, Sabendo-o bem, sabendo-o mal, Poetas, ou Santos ou Heróis De Portugal.
Não foi para servos que nascemos De Grécia ou Roma ou de ninguém. Tudo negamos e esquecemos: Fomos para além. Vibra, clarim, mais alto! Vibra! Grita a nossa ânsia já ciente Que o seu inteiro voo libra De poente a oriente.
Vibra, clarim! A todos chama! Vibra! E tu mesmo, voz a arder, O Portugal de Deus proclama Com o fazer! O Portugal feito Universo, Que reúne, sob amplos céus, O corpo anónimo e disperso De Osíris, Deus. O Portugal que se levanta Do fundo surdo do Destino, E, como a Grécia, obscuro canta Baco divino.
Aquele inteiro Portugal, Que, universal perante a Cruz, Reza, ante à Cruz universal, Do Deus Jesus."


O Quinto Império Português, é a meu ver, a utilização da capacidade mais positiva da "Nação" Portuguesa - a Diplomacia, a língua que se estende ao sentimento, o sentir do colectivo impresso na acção. Uma Nação feita de misturas, de povos unidos por um sentir semelhante.
Vemos isso na crescente presença da língua portuguesa (a União) a nível mundial, e é pela Diplomacia que crescerá Portugal!

quinta-feira, agosto 28, 2003

"O Quinto Império"

Por agora o título, mais à frente a dissertação!
Pensem na questão! Até já

terça-feira, agosto 26, 2003

Os multilateralismos

O Prof. Adriano Moreira, na sua Crónica no DN de hoje:

"A segunda guerra do Iraque fez crescer as apreensões sobre o unilateralismo americano, talvez mais exactamente sobre o modelo das forças políticas que assumiram a pilotagem dos EUA tendo o Presidente Bush como líder. Uma liderança que repetidamente assumiu uma decisão internacionalista não suposta pela campanha eleitoral, na qual transpareceu a necessidade de um repouso, tão moderadamente isolacionista quanto possível, depois das décadas de responsabilidades externas assumidas pelo Estado até à queda do Muro em 1989.

Os factos, com os quais não se discute, foram mais determinantes do que as prospectivas disponíveis tinham deixado entrever, e a guerra contra o terrorismo, depois do 11 de Setembro, fez subir em flecha a popularidade do líder, que não parecia destinado a fazer lembrar os níveis exaltantes de Roosevelt. Estando a braços com o ataque ao etnocentrismo cultural da população, encontrou em Robert Kagan uma voz de amparo, designadamente no seu Of Paradise and Power (2003), onde advoga colocar um ponto final na ideia de que europeus e americanos partilham a mesma visão do mundo.

Isto acontece quando o fim da guerra fria parecia dar consistência à esperança de todos recolherem os dividendos da paz. A tremenda agressão sofrida levou os europeus a adoptarem a dolorida expressão de Colombani _ «Neste momento trágico... somos todos americanos» _, que logo fez recordar o famoso grito de Kennedy na Berlim dividida. Tem sido inquietante que, depois desta solidariedade chamada à responsabilidade de todos os aliados, o tema do unilateralismo seja o que se tornou dominante.

E que entre os sinais de crise institucional não falte um novo Muro, levantado pela guerra israelista ao custo de um milhão de dólares por quilómetro, cimentando a cólera num dos pontos críticos que dinamizam o conflito entre o islamismo e os EUA.

Tudo com efeitos colaterais evidentes na erosão das convergências ocidentais. Um desses efeitos, porventura o mais preocupante, é que o unilateralismo se traduziu em primeiro lugar na rejeição do papel institucional da ONU, objecto de uma negociação pouco apreciável sobre os pagamentos que lhe são devidos, olhada frequentemente como um embaraço à liberdade de acção, rejeição institucional que também tem inevitáveis reflexos na NATO.

Mas como é inelutável ter parceiro, para agir na desordenada comunidade internacional, a rejeição do multilateralismo institucional, como tem sido acentuado pela fina análise de Montbrial, encaminha o Governo dos EUA em exercício para aceitar o conceito de Richard Haas de um multilateralismo flutuante.

Um conceito que, se descrever com exactidão a realidade, então também denuncia uma situação dominada por planos de contingência, e não uma situação avaliada em função de um plano estratégico ordenador da verdadeira anarquia madura em que nos encontramos.

A rude experiência deste trajecto sem grande previsibilidade, nesta data ainda afectado pela relação da política externa com a programação das próximas eleições presidenciais americanas, aponta para a necessidade de fazer uma análise e um balanço prospectivo sobre os ganhos e perdas, no que respeita à relação entre o multilateralismo institucional e o multilateralismo de circunstância, para averiguar que erosão paga o primeiro em favor das contingências do segundo.

Um balanço essencial para orientar a formulação da política externa e de segurança comum europeia, sobre a questão de saber em que medida a sua própria vontade política, e capacidades são suficientemente mobilizáveis para salvaguardar e fortalecer o multilateralismo institucional para além da cortina dos discursos."


O eminente Professor, com a sua incontestável experiência, sabedoria e correcção, expressa claramente a situação! Sem outros comentários, apenas, Sr. Prof. V. Exª continua a ser, o que sempre foi, um excelente catedrático, político e, acima de tudo, Pessoa.

sábado, agosto 23, 2003

Um pouco mais de Azul

Hoje é sábado, dia de relaxar.

Ok, ok, tenho que fazer.. mas, ainda assim vou dar-me ao "luxo" de relaxar!
Quanto mais não seja viajar um pouco.. conhecem aquela: "vá para fora cá dentro?!"
Então é isso mesmo, viajar um pouco em mim!

Azul - sabedoria. Inspiração e sabedoria divina. A cor da fortuna, positiva, auto-confiança e confiança. Representa sinceridade e idealismo.

De Hubert Reeves, Ed. Gradiva
UM POUCO MAIS AZUL - A Evolução Cósmica
À procura das nossas raízes profundas este livro conta-nos a história do Universo.

Com o decorrer do tempo desenvolve-se a gestação cósmica. Em cada segundo o Universo prepara qualquer coisa. Ele sobe lentamente os degraus da complexidade. E onde nos leva essa via?

A física nuclear permite-nos compreender a evolução nuclear: como, a partir das partículas elementares emanadas da explosão inicial, se formaram os núcleos atómicos no coração das estrelas. O notável progresso da radioastronomia e da biologia molecular permite-nos reconstituir as grandes fases da evolução química entre as estrelas e nos planetas primitivos. E, finalmente, seguindo Darwin, veremos levantar-se diante de nós a grande árvore dos seres vivos no nosso planeta: a evolução biológica leva-nos das bactérias ao aparecimento da inteligência humana.

A via da complexidade termina com o ser humano? Não temos razão nenhuma para o afirmar. O coração do Mundo continua a bater no seu ritmo. O "sentido" continua em marcha. Talvez noutro planeta se tenham processado novos avanços. Que maravilhas desconhecidas prepara em nós a gestação cósmica? O Homem nasceu do primata; que nascerá do homem?

No final da leitura o leitor sentirá o nosso parentesco profundo com tudo o que existe no Universo. Na mais pura tradição hinduista, poderemos dizer que a natureza é, realmente, a família do homem."


Receitas de Azul

O famoso verso: 'Tome um pouco de azul, se a tarde é clara', de Carlos Pena Filho, lembra que foi Rimbaud quem inventou a cor das sonoridades vogais. A cor azul fala do som 'O'. Tradução de O. de Pennafort:

O, fanfarras, clarins, trons de vitória, brados,
O, silêncios azuis de anjos e sóis povoados,
O, clarão vesperal, violáceo, dos seus olhos!

São esses silêncios azuis que só os anjos sabem, os sóis povoados de luz dos seus olhos, clarão vesperal, brados.

O, supremo Clamor cheio de estranhos versos,
Silêncios assombrados de anjos e universos:
— Ó ! Ômega, o sol violeta dos Seus Olhos!


Tome um pouco de azul, se a tarde é clara

e espere pelo instante ocasional.
Nesse curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.


Pessoa, 1917:

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.


Carlos Pena Filho dá a receita: ' Para fazer um soneto':

Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
e espere pelo instante ocasional.
Nesse curto intervalo Deus prepara
e lhe oferta a palavra inicial.

Aí, adote uma atitude avara:
se você preferir a cor local,
não use mais que o sol de sua cara
e um pedaço de fundo de quintal.

Se não, procure a cinza e essa vagueza
das lembranças da infância, e não se apresse,
antes, deixe levá-lo a correnteza.

Mas ao chegar ao ponto em que se tece
dentro da escuridão a vã certeza,
ponha tudo de lado e então comece.

Sebastião Norões é autor de um famoso soneto — 'Mar da memória' — Lá o azul vem do mar:

Eu quero é o meu mar, o mar azul.
Essa incógnita de anil que se destrança
em ânsias de infinito e me circunda
em grave tom de inquietude langue.

O mar de quando eu era, não agora.
Quando as retinas fixavam tredas
a incompreensível mole líquida e convulsa.
E o pensamento convidava longes,

delimitava imprevisíveis rumos
viagens de herói e de mancebo guapo.
Quando as distâncias fomentavam sonhos.

Rebenta em mim essa aspersão tamanha
que a imagem imatura concebeu
de quando o mar era meu, o mar azul.

Lá o azul do mar está pintado de 'ânsias de infinito', de vôo, de pensamento cujas distâncias fomentavam longes sonhos, o meu mar, o meu mar interior, o tamanho mar de quando ele era meu mar.

A cor local deve ser a do 'sol de sua cara / e um pedaço de fundo de quintal ' .

E das manchas azulejantes dos venenos / ...... / Onde, tingindo azulidades com quebrantos / ......./ E o acordar louro e azul dos fósforos canoros! /.........../ Áureos peixes do mar azul, peixes cantantes... / .................../ Líquens de sol e vômitos de azul escuro.

Bacellar:

No livre azul o sossegado vento

lívido sonha linhas de escultura

que moldará nas nuvens no momento

de apascentá-las pela tarde pura.

Num arrepio de pressentimento

o rufo de asa risca na brancura,

o sol arranca brilhos do cimento

do muro novo, a folha cai. Madura.

Tudo o verão proclama: a tarde limpa,

esmaltada de claro; pela grimpa

do morro verde a cabra lenta vai...

A luz resvala na amplidão sonora.

Por que senti roçar-me a face agora

um beijo, um frêmito, um suspiro, um ai?

Azul é o céu, é o espaço. Azul é profundidade, a transparência, o vazio, a liberdade. No livre azul, no mar azul, um pouco de azul da tarde, perdidos de azul, vertiginosamente azul. O azul onde passa o vento.

Ribaud:
No meu torpor, não posso, ó vagas, as esteiras
Ultrapassar das naves cheias de algodões,
Nem vencer a altivez das velas e bandeiras,
Nem navegar sob o olho torvo dos pontões. "

sexta-feira, agosto 22, 2003

Marketing Politico

Como a designacao indica -

Marketing: A arte de vender algo - um produto, um servico, uma ideia, etc. Politico, porque, aquilo que se pretende e vender uma ideia, uma ideologia, uma pessoa, um grupo de pessoas, "uma cor", ..........

Citando um manual, de origem espanhola:

"Generalmente se asocian con el termino de marketing poli­tico o marketing electoral connotaciones de manipulacion de las percepciones y opiniones de la gente, mediante recursos sofisticados de comunicacion, principalmente a traves de la television. Frecuentemente se piensa que estos procedimientos determinan una influencia decisiva sobre las voluntades de los electores, lo cual hace suponer que en una democracia el poder lo detenta, en la practica, quien mejor puede utilizar los medios de difusion.

Esta intuicion se ve reforzada por algunas ficciones. En el final de la peli­cula "Power" se sugiere que en la tecnologi­a de comunicacion reside la verdadera soberania de un pais. Como en toda ficcion, se recogen partes de la realidad, pero muchas veces la exageracion de ciertos aspectos de un problema terminan desnaturalizandolo y dificultando su comprension.

Lo viejo y lo nuevo.

En terminos cotidianos, el marketing politico es la busqueda de votos con el auxilio de la tecnologia. Hay mucho menos novedad en esta materia de lo que podr­a suponerse, mas bien una simple evolucion. Los politicos tradicionales trataban de obtener votos mediante la utilizacion de dos tecnicas basicas: el conocimiento personalizado de su electorado y la elocuencia. Conociendo la gente podran tener presente sus gustos, intereses y puntos sensibles, informacion preciosa a la hora de hacer sus discursos. De esta manera el candidato elocuente y conocedor de su publico predicaba sobre terreno fragil, arrancaba aplausos y ganaba adhesiones.

El Marketing Poli­tico supone la evolucion de las tecnicas de conocimiento del electorado y de las tecnicas de comunicacion. Al hacerse masivos los cuerpos electorales, al contarse los electores por millones y no por cientos o miles, el conocimiento personalizado de cada uno de ellos, a la manera del viejo candidato, cuenta poco. De la misma manera, la elocuencia personal e intuitiva, se complementa con formas más eficaces de comunicacion y persuasion. El esquema tradicional del poli­tico, conocimiento del electorado y comunicacion, es, sin embargo, permanente.

Al conocimiento personalizado de los electores, tradicional, se sustituye el estudio del electorado, mediante tecnicas de encuestas de opinion, analisis cualitativos,etc. La comunicacion poli­tica se implementa siguiendo una estrategia, dictada por las peculiaridades del electorado y de acuerdo a los objetivos del candidato, con el auxilio de variados medios de difusion masiva.

El marketing y la politica.

A priori parecer­a inadecuado utilizar la palabra marketing, que supone conceptos como mercado, producto, venta consumidor, beneficio, etc, a una realidad como la politica, que parece circular en otros rieles, o pertenecer a otro universo de fenomenos. Sin embargo, sin querer violentar los significados, podemos considerar ciertos aspectos centrales de la vida poli­tica de los paises, utilizando ideas analogas a las de la economi­a.

En principio podemos considerar a los partidos politicos como empresas y a los poli­ticos como empresarios. Los partidos pueden ser vistos como empresas poli­ticas que producen bienes politicos (ideologias, servicios poli­ticos, decisiones, etc). Los productos poli­ticos de partidos y candidatos constituyen la oferta poli­tica de un pai­s en un determinado momento. A esa oferta se corresponde una demanda de la sociedad o del cuerpo electoral. Esa demanda puede estar compuesta por necesidades de autoridad o de libertad, de justicia o de eficacia, etc,etc.

Las empresas poli­ticas actuan en un mercado poli­tico donde intervienen las ofertas y demandas politicas. Cada empresa poli­tica tiene una imagen y una marca institucional. Socialistas o liberales, conservadores o democristianos.

Los electores pueden ser vistos como consumidores de bienes poli­ticos. Un candidato o un partido se "vendera" bien cuando la oferta poli­tica de ese candidato o partido sea percibida por los electores como la que mejor satisface la demanda politica. Esta demanda siempre es compleja y, normalmente, latente. Con un procedimiento de marketing se busca, mediante el estudio detallado del electorado, conocer pormenorizadamente la demanda poli­tica; con la comunicacion politica se busca que la oferta del candidato satisfaga lo mejor posible esa demanda del electorado. Este procedimiento no es, como podra percibirse y parafraseando a Lenin, "la demagogia mas la electricidad". La demanda social tambien pide ideas propias, honestidad, confianza, competencia; por lo que una simple devolucion, tipo boomerang, de los deseos sociales no seri­a necesariamente lo mas eficiente. La demagogia es frecuente, con o sin medios refinados, y muchas veces gana, por diferenciacion, una propuesta creativa, basada en la demanda de renovacion.

La organizacion del trabajo.

Este libro es un manual. Quiere ser una gui­a simple, y accesible a todos, de los procedimientos que deben seguirse para que cada partido o candidato pueda aprovechar al maximo sus potencialidades, organizando una buena campanha electoral. Se dice que ninguna campanha, por mejor que sea, hace ganar, por si­ sola, a un candidato; pero que una mala campanha si­ puede hacer perder una eleccion a cualquiera. Este principio habla tanto de la importancia como de los li­mites del marketing poli­tico.

En cuanto manual, este libro es un conjunto de orientaciones generales. Pretende ser util como vision global del "ciclo productivo" de una campanha. En ese sentido es como una especie de mapa que gui­a al candidato en las distintas instancias que debera recorrer desde que presenta su candidatura hasta el dia de la eleccion.

Este manual no sustituye, obviamente, la consulta a los tecnicos competentes en cada uno de los pasos de la campanha, pero permite decidir mejor qual tipo de tecnicos, cuando y para que deben ser contratados. Este trabajo ayuda al candidato a mantener el control conceptual de la campanha y a ser el mismo el director de campanha, o, en todo caso, decidir en pleno conocimiento de causa a quien, y con que tipo de perfil y atribuciones, ubicar en el cargo.

Hemos estructurado el cuerpo del trabajo en cuatro capitulos. En el primero se analizan los procedimientos para el estudio del cuerpo electoral, el segundo capitulo aborda la elaboracion de la estrategia electoral, el tercero se ocupa de la comunicacion poli­tica y el cuarto trata los aspectos practicos de la organizacion de la campanha.

Los tres puntos centrales que arman conceptualmente este trabajo son: 1) el objetivo de ofrecer un texto de divulgacion, de facil abordaje, de un tema reputado dificil y sofisticado, que signifique una introduccion general a su estudio, 2) acercar referencias bibliograficas de profundizacion en las distintas disciplinas componentes del marketing politico y 3) poner especial enfasis en su utilidad practica, como gui­a para la accion.

La mayoria de los ejemplos utilizados hacen referencia al ambito latinoamericano, para el cual ha sido expresamente escrito este trabajo. El contenido, sin embargo, es claramente transcultural y puede ser utilizado sin mayores adaptaciones en cualquier pai­s donde existan elecciones regulares y competitivas.

Es muy comun en estos anos atribuir ciertos poderes ocultos, vecinos de lo esoterico, a las manipulaciones de la opinion mediante recursos sofisticados de comunicacion masiva.

Muchos consultores en marketing poli­tico o expertos en medios han favorecido esta moderna supersticion, presentandose como los nuevos hechiceros . Esta estrategia del conocimiento intransferible tiene evidentes ventajas individuales, en poder y en salario, pero siendo el marketing poli­tico un enfoque naturalmente interdisciplinario, y por lo tanto plural, acepta mal estas centralizaciones seudo-ocultistas. Frecuentemente ocurren grandes catastrofes poli­ticas cuando se transfiere un poder excesivo a algun hechicero iluminado. El ex - presidente frances Georges Pompidou sacaba sus conclusiones, con mucho humor, de alguna mala experiencia: "Existen tres maneras principales de arruinarse politicamente-deja-, 1) teniendo un affaire muy notorio con alguna chica, 2) aceptando sobornos , y 3) confiando ciegamente en el consejo de un "asesor guru". La primera es la mas placentera, la segunda es la mas rapida, la tercera es la mas segura .

Nuestra idea es que no existen conocimientos intransferibles y que se pueden obtener los mas altos resultados de una campanha electoral con organizacion, creatividad, y manejo racional de los recursos. En esta empresa es tan importante hacer las buenas cosas como hacer las cosas bien. Este manual es una guia para hacer, sistematicamente, las cosas pertinentes al desarrollo optimo de una campanha. Que estas cosas se hagan de la mejor manera depende de que pueda organizarse un buen equipo de trabajo, con individuos que posean conocimientos y destrezas complementarias.

En este capi­tulo, que es eminentemente practico, queremos incluir, sin embargo, una breve introduccion tecnica a ciertos conceptos de comunicacion politica, que seran de especial utilidad en la organizacion y concepcion de los mensajes publicitarios. La primera parte trata de los procesos semanticos que se ponen en marcha en la publicidad politica televisiva. La segunda parte examina un conjunto de tecnicas de presentacion, tambien centradas en la television, tratada aqui­ como el medio clave en una campanha electoral. El capi­tulo se completa con un examen, relativamente extenso, de los principales medios de difusion que pueden ser utilizados en la campanha.

SECCION I. SEMIOLOGIA POLITICA.

Primera parte.

Procesos semanticos en la publicidad politica televisiva.

Un mensaje publicitario poli­tico esta compuesto por un conjunto bastante complejo de codigos, discursos y estructuras semanticas. Un codigo es una determinada pauta de interpretacion entre signos y significaciones. Los codigos son construi­dos socialmente, pero la decodificacion es un proceso psicologico.

La construccion de un anuncio televisivo parte de la premisa de que existen ciertos codigos comunes de significacian entre los individuos de los grupos sociales a los cuales el mensaje se dirige, y que estos codigos son conocidos por el comunicador. De la misma manera que la palabra "gato" genera, entre quienes comparten cierto codigo (la lengua castellana), connotaciones que traen a la mente de quienes la oyen representaciones similares de un tipo de animal, existe un amplio conjunto de codigos que hacen que otros signos, expresiones, movimientos, objetos, generen algun tipo de connotaciones buscadas por el comunicador.

Un mensaje poli­tico es, entonces, una serie de estrategias para activar cierto tipo de significaciones en la memoria semantica del espectador. Las estrategias se usan no solo para comunicar ciertos significados, sino para acotar los diferentes significados posibles de las palabras o imagenes utilizadas, y asi­ guiar las representaciones generadas en el espectador de una cierta manera, la querida por el comunicador.

El objetivo del comunicador, que es activar en el sentido deseado el modelo perceptivo del espectador, nunca se logra de una manera perfecta, pues la codificacion y las inferencias hechas por el espectador en el proceso de decodificacion nunca tienen una alineacion total. El proceso es, sobre todo, probabili­stico, y las probabilidades de exito aumentan cuando se tiene un conocimiento mas fino de los codigos de significacion de las culturas y subculturas a las que van dirigidos los mensajes.

La comunicacion se procesa a traves de estructuras de significacion complejas, que pueden ser esquematizadas de esta manera:

Estructura del mensaje Estructura receptora del mensaje

Discurso Universos y contextos

Sujetos de la accion Perspectiva

Narracion Sesgos ideologicos. Individualidad.

Valores.

Sentimientos.

Adaptacion libre del modelo de Frank Biocca (1991).

En este esquema se muestra como se organiza la comprension de los mensajes poli­ticos por parte del espectador.

El discurso.

El discurso de un mensaje esta compuesto por el conjunto de codigos informativos que propone. Estos codigos tienen multiples posibilidades de interpretacion. El trabajo del comunicador consiste en "podar" las ramificaciones interpretativas, cortando algunas y fomentando el desarrollo de otras. La repeticion de determinadas palabras puede senhalizar esta ruta discursiva. Otra posibilidad es el uso redundante de imagenes pertenecientes al mismo campo de significacion perseguido por el mensaje. Por ejemplo: una imagen de un pajaro muerto puede tener multiples entradas interpretativas, pero si se le suman un arroyo sucio y desechos qui­micos se van acotando las areas de significacion hacia temas ecologicos y de preocupacion por el medio ambiente.

El contexto.

Los comerciales de television se situan en un contexto determinado (tribuna, calle, parque, pradera, fabrica), que es interpretado por el espectador en algun sentido. Los candidatos, cuando aparecen en tomas de estudio, se apoyan visualmente en objetos (bandera, escritorio, biblioteca) que despiertan significaciones precisas. Este universo o contexto donde se ubica el mensaje tiene connotaciones de valor para el espectador, y promueve ideas sobre las personas que se muestran en el. El contexto encarrila al espectador en ciertas li­neas interpretativas. Es importante que el "discurso" implicito en el entorno de un spot sea coherente con el discurso expli­cito del candidato.

Sujetos de la accion.

Los mensajes poli­ticos televisivos estan compuestos por secuencias de proposiciones que se refieren a determinados sujetos, personajes o roles que actuan en un contexto particular. Los sujetos pueden ser personas, pero tambien mitos, paises, si­mbolos, ideas, etc. La definicion comunicacional de los sujetos es muy importante en la eficacia de los mensajes. Los mitos tienen un poder de comunicacion desproporcionadamente mayor que el resto de los sujetos. Sin embargo no siempre es posible, o deseable, encarnar al candidato en un mito. Pero, aun asi­, siempre es mas eficaz comunicar cualidades del candidato mediante roles. Como regla general puede decirse que los roles comunican mejor connotaciones y valores que las personas. Convencer a los electores de los buenos sentimientos de un candidato puede ser difi­cil, pero no lo es tanto si se lo muestra en un rol apropiado, el de padre de familia, por ejemplo.

Los roles, o papeles desempenhados por los sujetos de una publicidad, son muy importantes tambien en la captacion de valores ajenos a traves de metaforas. El proceso es analogico y se puede esquematizar asi­:

Sujeto N 1 Sujeto N 2

Rol comun

C/C C/C C/C

Donde llamamos CyC a las caracteri­sticas y comportamientos valorizados y puestos en relieve.

Un rol puede hacerse percibir como compartido a traves de diferentes estrategias.

Una posibilidad es que los dos sujetos de la accion desempenhen el mismo papel en narraciones paralelas. Por ejemplo: un li­der, altamente consensual, del pasado, resolvio cierto problema crucial para el pai­s. Paralelamente se postula la analogi­a con el candidato X que lidera al pai­s en la solucion del problema Y.

Hace mas de cuarenta anos atras, en su campanha de 1960, John F. Kennedy decia: "En el siglo pasado Abraham Lincoln se preguntaba si los Estados Unidos podri­an seguir viviendo la mitad libres, la mitad esclavos; hoy yo me pregunto si el mundo podra seguir viviendo la mitad libres y la mitad esclavos...". Es interesante tambien la busqueda evidente de asociacion de roles entre Hugo Chavez y Simon Bolivar, en el contexto de su "Republica Bolivariana", o la de Alejandro Toledo con el mito Inca de Pachauatec.

Otro recurso es la asociacion simple por sucesion de imagenes. A traves de la yuxtaposicion rapida de cuadros se asocian, de manera directa e irreflexiva, ciertas similitudes de sentido o de forma. Un ejemplo ti­pico es el spot final de campanha de Francois Mitterrand del ano 1988, donde se sucedi­an vertiginosamente iconos de la historia de Francia y terminaba el spot con Mitterrand mirando al horizonte (el futuro) y, cerrando, su slogan "La France Unie".

La perspectiva.

La perspectiva de un mensaje es el punto de vista que se ofrece al espectador segun la ubicacion de la camara. Las variables en juego son :la orientacion de la camara, el angulo de vision y la situacion pasiva o activa. El punto de vista se construye y tiene consecuencias en terminos de sentido para el espectador. Segun las caracteristicas del mensaje es aconsejable cambiar las perspectivas. Hay mensajes de persuasion "por cercania", en esos casos es util "personalizar" la aparicion televisiva.

Esto se obtiene "mirando a los ojos", es decir a la camara, buscando una "interaccion" con el espectador. La camara se situara, entonces, al nivel de los ojos del candidato, dando la impresion de que el candidato se dirige personalmente al espectador. La distancia de la camara es el primer plano; o semi primer plano, sugiriendo la distancia normal de conversacion.

La "interaccin" se consigue tambien con camara movil, figurando un rol activo del espectador. Donde los personajes del mensaje reaccionan y responden a sus "movimientos".

La narracion.
La manera en que un mensaje es narrado tiene gran peso en sus efectos, pues la comprension de un texto implica la captacion de su esquema narrativo.

Podemos representar, de manera simplificada, el proceso de representacion mental de la narrativa.

Historia

Contexto Episodio

Evento,suceso Reaccion

evento evento cambio de respuesta respuesta estado implicita abierta

Esta estructura describe el proceso de comprension de los mensajes y muestra, ordenados jerarquicamente, los elementos en su orden real de memorizacion.

En un nivel basico, la narrativa es la combinacion del contexto y de episodio. El episodio esta formado por un evento y por las reacciones que ese evento suscita. Las reacciones pueden ser internas (p. ej: alegria, tristeza) o externas (p.ej: celebraciones, protestas). Los espectadores parecen usar el esquema narrativo para organizar la informacion que reciben. Los elementos que no tienen una funcion importante en la narrativa generalmente se olvidan antes que los demas.

Todos los espectadores tienen un archivo muy importante de narrativas. Esta circunstancia permite hacer uso de intertextualidades. Es decir, acumulacion asociativa de narraciones, Si uno pone al candidato en un rol de heroe del lejano oeste (pensemos en Ronald Reagan), existen narrativas acumuladas en la mente de los espectadores que aportaron "historias" complementarias arquetipicas, no enunciadas en el mensaje original.

El cuidado de la estructura narrativa de un mensaje asegura una mayor comprension y memorizacion de la informacion contenida en el.

Ideologi­a, valores.

Cuando los espectadores ven un mensaje publicitario no solo decodifican su informacion sino que leen sus "entrelineas" ideologicas. Los mensajes politicos son doblemente vigilados, porque se consideran herramientas de manipulacion poli­tica. El espectador trata, en principio, y si no es evidente, de saber "de donde viene" el mensaje.

El "filtro ideologico" no se reduce a ideologias politicas tradicionales. Se refiere a la actitud del espectador de preguntarse "de donde viene" un mensaje y juzgarlo en esa perspectiva. Cuando los espectadores clasifican un mensaje como proveniente de un marco ideologico negativo para ellos, solo se interpreta el mensaje de una manera metasemiatica, es decir, interpretando las cosas no segun son explicadas, sino "como de quien viene".

Segunda parte.

Las tecnicas de presentacion.

La television es un medio de difusion que jerarquiza los aspectos visuales y personales de quienes lo utilizan en sus mensajes. Esta circunstancia determina que los factores de presentacion tengan una importancia muy grande en la percepcion de los espectadores.

El comportamiento y la comunicacion no verbal.

El comportamiento no verbal y paraverbal de las personas influye en la impresion que generan en los demas. La television aumenta a tal punto la importancia de la expresion facial de un candidato, por ejemplo, que sus gestos llegan a convertirse en un punto notorio de su "mensaje". Es clasica la referencia, a este respecto, del debate Kennedy - Nixon, de 1960. Se dice que Kennedy miraba de lleno a la camara, mientras que la mirada de Nixon era huidiza. Este comportamiento se considera que anhadia credibilidad a John F. Kennedy a los ojos de los electores.

Mucha agua ha pasado bajo los puentes del "savoir faire" comunicacional de los candidatos, y hoy cualquier candidato local mira a la camara cuando logra que le hagan un reportaje en television. Sin embargo existen otros principios, todavi­a no tan conocidos, que vale la pena repasar.

Los poli­ticos que se muestran defensivos en television son considerados mas educados, pero menos calificados y resueltos que los que tienen un desempenho mas agresivo. La posicion fisica de acercamiento a los interlocutores (inclinacion hacia adelante, por ejemplo) crea una impresion de familiaridad y armoni­a. Una posicion fisica inclinada hacia atras (una cara seria aumenta el efecto) muestra ajenidad y conflicto.

La torpeza de movimientos esta generalmente asociada, perceptivamente, con incompetencia. Mostrar al candidato en actividades deportivas, o en despliegues fisicos, genera, en cambio, una impresion de vigor, energi­a y dinamismo.

Las tecnicas de grabacion.

Las tecnicas de grabacion condicionan las percepciones de los espectadores. Las tomas que enfocan el rostro crean una sensacion de mayor empati­a que las tomas que tambien muestran el torso y los brazos. Sin embargo, cuando no aparecen los brazos se transmite menor dinamismo.

El efecto de las camaras tambien es importante. El angulo vertical tiene connotaciones de sentido relevantes, pues sugiere posiciones relativas entre el candidato y el espectador. El angulo vertical puede hacer que el candidato aparezca "por encima", "a la altura de", o en posicion "inferior" al espectador. La posicion tiene connotaciones primarias de poder, y un significado primitivo asociado a los roles de li­der y liderado. Cuando el observador se siente "menos", es decir en un angulo mas bajo, la percepcion parece normal y neutra. Pero si el espectador esta en una posicion mas alta, el candidato es percibido negativamente, como "inferior" y poco respetable.

El movimiento de la camara puede servir tambien para subrayar la actividad y la potencia de un candidato.

Los primeros planos, y las tomas de cara, dan mejor impresion que las tomas de cuerpo entero. Las tomas con la camara situada a un lado, mostrando a la persona en una posicion cercana al medio perfil, son mejores que las tomas directas desde el frente. Las tomas ligeramente de lado hacen aparecer al candidato mas confiable y mas capaz.

Las tecnicas de edicion.

La edicion y el montaje del material grabado pueden comunicar significados de importancia poli­tica. La organizacion de las secuencias, la seleccion de tomas y escenas, el ritmo, la combinacion de imagenes y textos, pueden contribuir a modelar la percepcion que tiene el electorado de los candidatos. Cambiar la opinion de los electores, una vez que se ha establecido, es muy difi­cil. Sin embargo, llegado el caso, es mas facil modificar opiniones mediante imagenes que a traves de argumentaciones verbales.

La velocidad en los cambios de tomas genera una sensacion de potencia y actividad en candidatos e ideas. A mayor velocidad el efecto es mas fuerte.

Las presentaciones televisivas que muestran un evento en una secuencia cronologica son consideradas por el publico como mas informativas, mas claras y mas originales que las no cronologicas. Las secuencias cronologicas permiten transmitir mas contenidos informativos que las no cronologicas.

Es tambien importante, para obtener una opinion positiva de los espectadores con respecto del candidato, editar por lo menos una toma de un auditorio atento e interesado, formado por personas atractivas para el grupo objetivo del mensaje. Puede tener un efecto positivo subrayar algun punto central de la presentacion del candidato con aplausos del auditorio.

Muchas veces, la diferenciacion es esencial en una estrategia de campanha. Y las tecnicas de presentacion pueden colaborar para conseguir este objetivo. Principalmente a traves de una estructuracion de los efectos organizada sobre asimetrias y contrastes. Discursos positivos en un contexto negativo, imagenes activas sobre un telon de fondo pasivo, etc."

E assim se "constroi" a politica!

quarta-feira, agosto 20, 2003

O Politicamente Correcto!

terça-feira, agosto 19, 2003

Tributo

Tributo ao grande Diplomata e ao Homem.

Sérgio Vieira de Mello, foi um Diplomata exímio.
Defensor de causas justas e meritórias. Executou/implementou programas de ajuda humanitária ao nível mundial. Mitigou muita dor, fome e sofrimento. Foi, sem dúvida, um defensor do direito e fundamento básico do ser humano - a Liberdade.
Ele prezou a defesa da Liberdade, e demais direitos fundamentais; e, na maioria das situações conseguiu.

É costume afirmar-se que ninguém é insubstituível, mas este Diplomata será difícil de substituir.

Apenas me ocorre dizer:

BEM HAJA!

segunda-feira, agosto 18, 2003

Vêm aí os ventos da mudança!!

Portas homenageia Maggiolo
Comandante da PSP executado pela Fretilin em 1975


O Exército vai prestar as honras regulamentares no funeral do tenente coronel Rui Maggiolo Gouveia, militar português assassinado em Timor Leste, em 1975, e que o ministro Paulo Portas quis homenagear com a sua presença na cerimónia.

O funeral realiza-se hoje à tarde em Mação, Santarém, com as honras militares devidas a um oficial com a patente de Rui Maggiolo Gouveia e que consiste numa guarda de honra aos restos mortais em câmara ardente e na formação de um pelotão de 30 homens, que irão fazer tiros de salva, revelou o tenente-coronel Vasco Pereira.

Rui Maggiolo Gouveia era comandante da PSP em Timor e o terceiro na hierarquia militar na altura em que rebentou a guerra civil, em Agosto de 1975. Foi preso e libertado pela UDT e depois preso e executado pela Fretilin no final desse ano.

De acordo com fonte do Ministério da Defesa, a família de Maggiolo Gouveia pediu em 2001 ao Governo português a transladação dos restos mortais, que chegaram a Portugal no mês passado, 28 anos depois da morte.

As cerimónias fúnebres culminam um longo processo de recuperação, trasladação e identificação dos restos mortais do tenente coronel.

Em Fevereiro de 2002, o então ministro da Defesa Nacional, Rui Pena, determinou a prestação das honras militares, a pedido da família.

Em Abril, quando chegou ao Ministério da Defesa, Paulo Portas empenhou-se pessoalmente no assunto e «mandou activar o processo de trasladação», referiu a fonte.

Para Paulo Portas, a cerimónia de última homenagem e o empenho do Estado português na questão representam «uma reparação do Estado português» a «um brilhante militar e exemplar cidadão», acrescentou a fonte.

10:49 18 Agosto 2003 - Expresso Online

- "Maggiolo nao e heroi!
Peco desculpa a falta de acentos mas escrevo de outro pais.

Tenho imenso a dizer sobre esta situacao da homenagem a Maggiolo. Ja escrevi varias vezes para o jornal local da terra onde Maggiolo sera enterrado e que e tambem a minha terra, Macao. Por isso e por me interessar pelos assuntos de Timor, tive alguma curiosidade em saber o que se passara com um conterraneo meu. Pensaria que ficava orgulhosa mas ao cruzar diversas fontes fiquei com a nitida sensacao de que ha hiatos que, pelo menos, nao justificam a atribuicao de acto heroico ao que Maggiolo fez.

Compreendo porque aderiu a UDT e nao sou ninguem para julgar as atitudes de pessoas que viveram antes de eu propria nascer, mas isso nao me impede que opine, respeitosamente.

1. vivia-se o clima da guerra fria, com o problema vietnamita mal solidificado, a indonesia desde 59 que tinha pretensoes sobre Timor e os americanos temiam que se constituisse uma nova Cuba no Pacifico.
2. Vivia-se o Verao quente em Portugal, com a ameaca do dominio sovietico a tempo travado, mas que levou a uma polarizacao politica muito aguda em Portugal. Essa polarizacao estendeu-se a Timor, se bem que a FRETILIN estaria muito mais ligada aos maoistas do que aos chineses, isto junto dos militantes que se assumiam como comunistas, o que nao era o caso da grande maioria, como Xanana Gusmao.

3. Ha um profundo hiato na atitude de Maggiolo. Respeitavel atitude de optar consoante a sua consciencia. Mas declara-se ainda como militar portugues na sua declaracao radiofonica, abrindo a partidarizacao "oficial" do exercito portugues em Timor. Estranho, porque nao se anunciou como simples cidadao portugues que, como qualquer pessoa no mundo, tem o direito de lutar pelas suas opcoes? E que, mesmo que demitindo-se, admite ser ainda militar. Enquanto militar e ainda representante da soberania portuguesa, ou escolhia a neutralidade ou assumia-se cidadao comum, nao um estranho mito que so pode ser explicavel face a extrema situacao psicologica em que se encontrava.
4. Diz Lemos Pires que se achava Maggiolo perturbado. Testemunhas dizem que andava exaltado, nao comia, nao dormia e fumava imenso. Mas testemunhas da sua terra, antes de ter partido para a guerra em Africa, descrevem-no como irascivel e autoritario...
Inclusive, segundo Xanana, andou a chicotear e a pisar a bandeira da forca contraria.
5. No processo de aproximacao entre faccoes timorenses alguns meses antes da guerra civil de Timor, foi considerado persona non-grata pelas suas posicoes demasiado duras em relacao ao que se exige de um processo democratico.
6. O mais estranho para mim e que diz-se ter sido preso pelos militares da UDT e obrigado a tornar-se militante. Estranho ainda que na noite em que foi preso "abandonou" as armas do seu quartel que, nao se sabe bem como :) cairam nas maos da UDT que iniciou o golpe. Armas que mataram inocentes e culpados, mas mesmo estes sao vidas humanas.
7. Por isso, condeno quem torturou e matou Maggiolo, assim com tambem nao considero correctas as atitudes deste ultimo, que poderia ter actuado de forma diferente. Assim, nao o considero traidor pois agiu de acordo com a sua consciencia, mas nao o considero heroi pois, indirectamente, podera ter contribuido para o acicatar das rivalidades timorenses e podera ter dado outro pretexto a Indonesia para ocupar Timor. Algo minuciosamente preparado militarmente e atraves de manobras de contra-informacao desde Outubtro de 1974.
8. Nao condeno os militares que abandonaram Timor para Atauro. Afinal, que se poderia fazer com um grupo de 30 paraquedistas contra um exercito javanes equipado pelos EUA e armado ate aos dentes? Massacrar os portugueses?
9. Nao compreendo como um militar com uma folha de servicos tao exemplar pode ter representado de uma forma menos nobre o Estado Portugues. Considera-lo heroi, e uma provavelmente pejorativo para um Portugal, que se assume como medicis da liberdade em Timor. Assim como e vergonhosa a forma como alguns militares portugueses na reforma e que orgulham de ter lutado pela nossa liberdade, nao compreendam que a liberdade tem dois vectores e que poder dar uma opiniao ou amar Portugal nao significa faze-lo da mesma maneira. Alguns trataram-me como se fosse uma "infiel" ou tresloucada. So porque nao tenho a mesma opiniao. Aja tento! E que ha mesmo oficiais neste pais que se orgulham de ter tratado importantes figuras internacionais e nacionais com tudo menos respeito...
10. Fico feliz, pela familia de Maggiolo e sobretudo pela sua viuva, D. Natalia Estrela Maggiolo Gouveia, pelo facto de poder ver realizado o seu objectivo e acalmado a muita dor que e a perda de um familiar. Mas o problema, para mim, nao foi nem nunca sera a trasladacao dos restos deste macaense (falta a cedilha no c, mas estes teclados nao o possuem). Mas apenas a diferenca entre um verdadeiro heroi e um homem comum. Um heroi, para mim, nao contribui para a ceifa de vidas...

Cumprs, Susana Reis"

- "
Maggiolo, um Homem

Quereria nao escrever mais sobre este assunto mas as palavras da D. Susana Reis obrigam-me a dizer mais qualquer coisa.
1)Nao sei quais as suas fontes, que cruzou para as suas informacoes, mas parece-me que a deturparam.
2)Nao sei se conhece Timor, se ja la esteve e se conhece as suas gentes.Se falou com habitantes de Timor aquela data. Seria importante para poder confirmar as suas informacoes e perceber o que realmente se tera passado.
3) Tambem tenho duvidas relativamente ao seu verdadeiro conhecimento da historia de Timor desde 1974 ( pelo menos ), Tambem fiquei com duvidas.
D. Susana, ninguem esta a tratar o Tenente Coronel Maggiolo como heroi. Apenas lhe estao a dar um funeral com honras militares como tiveram tantos combatentes que andaram pelos sertoes de Africa e Asia e ai morreram acreditando que defendiam povos e teraras de Portugal. Maggiolo nao foi heroi, talvez tenha razao, mas foi um grande homem. Vendo o rumo que as coisas tomavam, escolheu o que no seu entender era melhor para Timor. Ao menos ele nao os abandonou como fez Portugal ( o poder politico na altura).Os desertores foram os que fugiram, os que se demitiram das suas responsabilidades, os que nao cumpriram acordos, os que permitiram que a FRETILIN se armasse. A FRETILIN nao era mais maoista e menos chinesa. Isso e um grande erro. A FRETILIN era marxista, comunista. O que queria era a instauracao de uma sociedade desse tipo. Ainda hoje apresenta resquicios disso. Tem duvidas, pergunte a quem la esta ou esteve, leia e acompanhe o que vai acontecendo em Timor. Se Maggiolo andou a passear a bandeira da FRETILIN e porque teve a coragem de os desafiar. O que eu nao acredito e nas palavras do Presidente Xanana quando descreve o que sentiu quando visitou Maggiolo na prisao. Bom e melhor nao continuar.
Maggiolo merece que o tenham trazido para a sua terra. Agora ele e a familia podem ficar em paz. Mas a historia nao. Ha muitos silencios de muita gente que participou nestes acontecimentos e muitas opinioes que me soam a falso. Onde para o resultado do relatorio sobre o que aconteceu em Timor? Serao julgados os que cometeram crimes em Timor em 1974/75? Sim porque abusos aos Direitos Humanos nao foram so em 1999.Ou sera que vai tudo ser esquecido?"

- "Maltus 10:14 18 Agosto 2003

Ana Gomes não concordo contigo...
cara camarada aceito que possa ter havido aproveitamento por parte do portas para se procurar limpar de toda esta trapalhada que tem sido este governo PP/PSd..mas não posso concordar contigo...
A homenagem a Maggiolo é necessária e só peca por tardia... E até é insuficiente...Deviam ser homenageados os já aqui falados ex-comandos ou "flechas" que foram executados pelo PAIGC na Guiné...Eram Portugueses de Gema ( embora de côr Diferente da maioria metropolitana), e aqueles que em 1975 se passaram para o lado da FNLA ou em 7 de Setembro em Moçambique aqueles Comandos que apoiaram a ocupação do Radio Clube de Moçambique...Alguns foram mandados sob prisão para Portugal...Conheci alguns em Luanda..Outros apoiaram a FNLA e a Unita quando o Rosa coitadinho deu ordem aos cubanos para entrar em angola...Foram patriotas sim...O JUramento da bandeira não era o juramento cego aos politicos ou militares que cintrolam essa bandeira .. era sim a defesa da patria e essa é composta por pessoas e foram essas pessoas que eles tinham responsabilidade de defender que oslevaram atomar uma atitude face ao abandono de Portugal dos seus deveres para com os seus subditos...Leria o Livro JULGAMENTO DOS RESPONSÁVEIS de Luis Aguiar de 1978 ou o LIvro NEGRO da Descolonização.... A verdade começa agor a aparecer... Nua e Crua..."

- "Malai Kik 21:30 16 Agosto 2003

Maggiolo Gouveia
Ia comentar este assunto, mas "na Tola" antecipou-se e tirou-me as palavras exactas da boca. Para que conste, vivi em Timor e foi lá que conheci o Ten.Cor. Maggiolo Gouveia. Falo com conhecimento de causa e não admito que alguns curiosos saudosistas do PREC falem daquilo que não sabem. Vou só dar mais uma achega. À D. Susana lembro que a tal "polarização" foi exportada pelos srs. Majores Jónatas e Mota, visto que nem Fretilin nem UDT existiam oficial ou oficiosamente à data do 25 de Abril. O quartel de Taibesse, com as armas do estado português, foi oferecido à Fretilin por Lemos Pires, quando deu ordem aos oficiais para abandonarem o quartel. (não foi "tomado", como noticiou o Expresso). Assim, a autoridade civil e militar do território, que devia defender os interesses do Estado português e da população local, demitiu-se dessa missão, favorecendo um partido revolucionário sem legitimidade democrática (a mesma receita aplicada no resto do ultramar). Não será isso uma traição ao juramento que fizeram? Quando serão julgados? A D. Susana está muito equivocada quando diz que Lemos Pires não podia fazer nada. Antes de deixar o paiol à Fretilin, esta não possuia quaisquer meios operacionais. A companhia de páras estava longe de ser a única força leal ao governador, mas era mais que suficiente para pôr tudo em ordem e quiseram entrar em acção, inclusive para libertar Maggiolo Gouveia, mas uma ordem escrita de L. P. mandou não intervir e retirar para a ponte-cais. Mas atenção que L. P. se retirou para Ataúro MUITO antes da invasão indonésia! na altura ainda não havia javaneses para combater! Ele e o seu Estado-Maior assistiram ao espectáculo da invasão, no dia 7, e só depois fugiram para Darwin. Até essa data, uma embarcação abastecia regularmente os bravos de uísque e cerveja. Entretanto, os bravos da retaguarda e suas famílias foram evacuados de fragata e ficaram alojados num paquete em Darwin, a expensas da diplomacia portuguesa, enquanto os civis foram de cargueiro e... Quem são os traidores? E os vinte e tal militares que foram abandonados à sua sorte, na zona ocidental de Timor-Leste, e lá ficaram (a história já foi publicada na revista do Expresso)? Acho é piada sempre que Lemos Pires aparece na TV a ensinar a estratégia militar. Se o ridículo matasse...

Honra à memória de Maggiolo Gouveia, que, bem ou mal, tomou a decisão que achou melhor para defender os interesses dos timorenses. E a história deu-lhe razão. Foi um herói, pois só um herói não foge cobardemente, nem fugiu quando o seu algoz a isso o convidou. E já agora, adivinhem quem é o destacado político, que ocupa uma importante posição em Timor-Leste, que à data era do Comité Central da Fretilin, que decidiu sumariamente executar o malogrado Maggiolo Gouveia e várias centenas de outros mártires. E por aqui me fico (não me puxem mais pela língua).

P.S. Ao camarada "na Tola": gostava de trocar impressões consigo, sobre Timor. Com conhecimento de causa, o que é raro. Escreva-me para - bulk@oninet.pt - Um Abraço"

La piéce de resistance:
- "Quando eu tinha 12 anos
por Paulo Portas

“Lembro-me perfeitamente. Como se fosse hoje. Vasco Gonçalves apareceu na televisão mais despenteado do que nunca. Parecia sentado numa cadeira, mas na verdade deitava-se nela. Fazia gestos brutos e metralhava palavras de irritação geral com o mundo. Havia baba e raiva. Ele coçava-se e a câmara tremia. Punha e tirava os óculos ao compasso dos amores e dos ódios. Era uma cena de pura violência política no Estado à beira do colapso.
Eu tinha onze anos e espantei-me. Desde pequenino ouvia falar de política em casa, vagamente no colégio dos jesuítas, às vezes na missa. O meu pai achava que a vida faria sentido para mudar o mundo, a minha mãe suspeitava que a desordem do mundo podia dar cabo da nossa vida. Como é natural, eu não tinha opiniões, só impressões. Nem sabia de razões, só de emoções. A aparição do companheiro Vasco teve o efeito de me decidir. A imagem dele faz parte da minha memória do mal. Porque há sempre um momento, sei que Vasco Gonçalves teve a maior importância na minha iniciação militante. Se a primeira vez é importante, ele foi a minha primeira vez em política. Podia tê-lo seguido e ficaria do lado de lá da barricada: talvez fosse hoje um desses homens de esquerda que todos os dias matam a sombra, apagam o lastro e gozam o sistema. Mas não. Devo a Vasco Gonçalves o facto de ser uma criatura irremediavelmente de direita. Olhei para ele e fiquei contra-revolucionário. Daí para a frente, passei a desconfiar dos militares e a detestar o comunismo. Quanto aos militares, façam lá o que fizerem as fardas oficiais, quero-os longe. Quanto aos comunistas, levei tempo a digeri-los. Só agora consigo respeitar um camarada disposto a morrer camarada: é um facto mais digno e humanitário do que a massificação da dissidência. Não passou mais do que um mês. O Império desapareceu num ápice e Portugal tornou-se na pequena República de moda para fotógrafos, sociólogos e curiosos barbudos. O socialismo irreal nascia cá, por aqui se praticava o perfeito suicídio ocidental. Direita não havia: o último mito foi o monóculo de Spínola, homem que se celebrizou por ir à televisão anunciar que, estando o país a saque como estava, ia-se embora como foi. A burguesia tratou de salvar os haveres mais secretos e partiu. No dia em que eu fiz doze anos ganhei um direito que já não se usa: podia filiar-me num partido. Fui a correr pedir uma ficha no grémio juvenil dos laranjinhas. Como se fosse um escuteiro de Sá Carneiro. Vi por lá uma fotografia de Marx e trouxe para casa um livrinho de Bernstein. Não gostei do que vi, nem entendi o que li. Estranhei e por momentos hesitei. Mas não havia muitas opções. Atribuo a um conceito de educação nunca ter acreditado numa só palavra que Mário Soares dissesse. Enquanto as tias que sobravam iam de vison posto para os comícios dele – ‘se isto não é o povo, onde está o povo?’, perguntavam elas – eu achava-o leviano como não se pode ser e mentirolas como não se deve ser. Quanto a Freitas do Amaral, era difícil ouvi-lo nesse tempo. As vezes que o ouvi, parecia-me um bispo; e soava-me de menos, porque uma contra-revolução não se faz pedagogicamente.
Escolhi Sá Carneiro por uma irracionalidade lúcida; e por exclusão de partes. Devo a Sá Carneiro duas coisas: ser democrata e não gostar de política. Na idade que eu tinha e no estado em que o país estava, a tentação natural era tornar reaccionário. Mas Sá Carneiro, a quem segui sem me interrogar, jogava por fora do sistema e por dentro do regime. Marcou as fronteiras do que a direita portuguesa devia ser sempre e nunca mais foi: não há compromisso com a esquerda do sistema nem há compromisso à direita do regime. Era de uma solidão radical, facto dez vezes preferível ao consenso universal. Tinha sinais naturais de classe e por isso é que não parecia frequentável para a maioria dos amigos e inimigos. Conseguiu uma coligação raríssima: era um homem de dizer o que pensava e ao mesmo tempo era um político de pensar o que dizia. E coincidia. Morreu em campanha mas nunca se mortificou pelo Estado.
Nisso, era exemplar. O costume bem conservador e bem possidónio em Portugal é que a política se faz por sacrifício e com sofrimento. Sá Carneiro era um profissional, gostava de jogar e punha tudo em risco. Provou a toda a gente que a direita podia governar Portugal e provou a Portugal que a direita podia ser moderna.
Já passaram muitos anos e Sá Carneiro ainda é a última prova de ambas as teses. Pergunto-me se não foi uma ilusão. Como a águia real no país dos corvos.”

in Revista K (número 1, Outubro de 1990)"

Está na hora de fazer-se justiça! Não uma "politiquice deslavada", leia-se intencionalidade de branqueamento desta ou aquela figura, desta ou aquela acção, mas um momento de falar da PSEUDO DESCOLONIZAÇÃO!

Chegou o momento!
FAÇA-SE JUSTIÇA!

domingo, agosto 17, 2003

Impropério de Nicolau Santos

Apenas perguntas

Eduardo Ferro Rodrigues será tudo o que quiserem por inveja ou negação. Não terá jeito para líder. Os fatos que usa nunca lhe ficam bem. Os seus discursos não entusiasmam. No que toca a aparência, está nos antípodas de um Harrison Ford. Não consegue evitar que os barões socialistas já lhe rosnem às canelas.

Tudo isso será verdade. Mas a questão, a grande questão é: alguém vê Eduardo Ferro Rodrigues como pedófilo? Ou como espectador de actos pedófilos? Ou como conivente com actos pedófilos? Ou como encobridor de actos pedófilos?

Não, definitivamente não, mil vezes não. Ferro Rodrigues será tudo o que quiserem por inveja ou negação. Mas pedófilo, pedófilo não.

Estamos, claro, no domínio dos sentimentos e a Justiça não funciona assim. Acreditamos nós. Ou melhor, gostaríamos de acreditar que é cega, julga do mesmo modo ricos e pobres, é imparcial e isenta. Mas o que dizer do acto do juiz Rui Teixeira, que se serviu de um artifício legal para impedir que Paulo Pedroso visse apreciado por outros juízes o recurso sobre os fundamentos da sua prisão? Ou dos três juízes da Relação que, com base na letra e não no espírito da lei, lavaram logo daí as mãos, para não apreciar o recurso e não terem problemas, sem se importar que com essa decisão estabeleceram, na prática, que um detido pode ficar eternamente preso por um juiz sem poder recorrer da sentença? Ou do presidente da Associação Sindical de Juízes, que, como muito bem notava Miguel Sousa Tavares, veio defender a decisão dos seus colegas, como se estivesse em causa não uma questão de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos mas um problema sindical?

Esta mistura de corporativismo, de cobertura de erros e de laxismo, de odiozinho rasteiro aos políticos (consta que em altas instâncias judiciais há quem se ufane pelos corredores de que «o Pedroso já cá canta e o Ferrinho também não escapa»...), a que se junta um procurador que diz o que não deve e desdiz-se do que não devia ter dito, um juiz que quer condenar ainda na fase de instrução e manda escutar as conversas telefónicas de quem tem e quem não tem a ver com o processo, investigadores que deixam sair para a imprensa o que lhes convém, jornalistas justiceiros e ex-casapianos com sede de vingança contra o mundo em geral - já criou um monstruoso processo kafkiano em que quem está preso não sabe exactamente em que razões muito objectivas se fundamenta a sua prisão e quem está solto é confrontado com uma teia diária de factos soltos, insinuações, acusações anónimas, que conduzem, todas, a criar na opinião pública a ideia de que também deveria estar preso.

A forma como o processo da Casa Pia está a ser conduzido vai levar, em última instância, à sua descredibilização e a deixar de fora, porventura, alguns dos principais responsáveis.

E está a conduzir a uma perigosa situação política. A maioria pensará que lhe convém um líder da oposição fraco e refém do processo até às eleições de 2006. É um erro. As democracias só são fortes com governo e oposição fortes.

A alternativa é o surgimento de movimentos populistas, que odeiam os políticos em geral. E, nessa altura, a própria maioria sofrerá as consequências.

- Expresso, 28 Julho 2003

Uma aberração do intelecto. Não carece de comentários.

sábado, agosto 16, 2003

ESPOLIADO E ESQUECIDO

O DIABO retoma a causa dos espoliados das ex-colónias e aborda mais um caso humano.

Dramático.
José Alves, de 88 anos; vive agora os últimos dias da sua vida em condições difíceis.

Para trás fica uma história cor-de-rosa de um licenciado em Farmácia por terras de Moçambique

Nuno Dias da Silva

Da Polícia para a universidade

Ex-farmacêutico, ex-polícia, José Alves vive em condições desumanas

Na recôndita aldeia de Gondelim, concelho de Penacova, todos o
identificam como o «doutor José Alves», devido ao seu passado como
farmacêutico. Este idoso, de barba e cabelos bran­cos em desalinho e unhas enegreci­das, move-se com muita dificuldade, apoiando-se num providencial caja­do.
A idade não perdoa. Para ele o tempo passa devagar. Muito deva­gar.
Revela uma lucidez e uma preparação intelectual invulgar para um homem de tão provecta idade. Vive ao abandono e somente a generosida­de dos sobrinhos lhe disfarça a fome. Sobrevive com uma parca pensão de 30 contos.

Ele é um dos muitos espoliados das ex-colónias, que, da noite para o dia, ficou com uma mão-cheia de nada. Dir-se-ia que como o deste homem - nascido no período em que a I República dava os primeiros passos - há centenas de casos em Portugal. É possível. Mas cada histó­ria é urna história, e a de José Alves
reveste-se de peculiaridades.

A pacata Gondelim, nas imedia­ções da Barragem da Raiva, foi a terra que o viu nascer. Afecto à classe dos "pés-descalços" como faz ques­tão de realçar, começou logo aos 5 anos a trabalhar no campo. «Não de sol a sol, mas de estrela a estrela», apressa-se a corrigir. O serviço mili­tar foi cumprido em Vendas Novas. Os estudos ficam para trás sem gran­de êxito, apesar das potencialidades que todos lhes reconhecem. Concluiu o 2º ano do liceu apenas com a ins­trução primária cumprida. Entretan­to, aceita o desafio de dois colegas e concorre à polícia.

Entusiasmou-se, e mais tarde re­tomou os estudos. A experiência ob­tida numa farmácia da terra fá-lo ganhar o gosto por estas matérias. Demanda a «cidade dos estudantes», onde tira o Bacharelato em Farmácia, para espanto de muitos que indaga­vam o que fazia um polícia na univer­sidade. Só posteriormente, com 35 anos e uma distinta média de 15 valores, logra a licenciatura na Universidade do Porto. Inicia o périplo por algumas farmácias
do País, pri­meiramente no Padrão, no centro da cidade do Porto.

Mas o apelo das províncias ultra­marinas revelar-se-ia mais forte. Em 1948 instala-se em Moçambique, na cidade de Lourenço Marques, na Far­mácia Augusto Nazaré, onde era sócio a título simbólico, porque «a lei assim o obrigava». O despedimento leva-o até ao estabelecimento de João Ferrei­ra dos Santos, na ilha de Moçambique, descoberta por Vasco da Gama em 1498 e onde os portugueses se instala­ram em 1506. Reconhece que em três anos de permanência em África arre­cadou mais do que nos restantes anos em Portugal. «Só para dar uma ideia, passei de dois para seis contos por mês, o que na altura era significativo.»

Em 1956 atinge a emancipação, quando passa a gerir a única farmácia de Porto Amélia. O facto de ter prescindido de ajudante obrigou-o a uma entrega total ao negócio, trabalhando «24 sobre 24 horas». «Ganhei a indepen­dência e deixei-me ficar para ver se ganhava mais algum". Só num mês acumulou 50 contos.

O esboroar do sonho africano

Os dias de tempestade levam-no à cadeia, apesar de ser o primeiro a reco­nhecer que o «preto moçambicano gos­tava de ser português». Detido, convi­veu com nove pessoas como sardinha em lata, sujeitos a torturas e interrogatórios numa cela à temperatura de 40 graus. As acusações de traidor eram as mais frequentes no tempo de cativeiro, período em que perdeu dez quilos. «Só havia pão e água, e o peixe que ser­viam era podre e nem os cães o queri­am comer", relembra.

Entretanto, dá-se a transferência da prisão provisória de Porto Amélia para o estabelecimento prisional de Machava, em Lourenço Marques. «Não me mataram porque não quise­ram», relata, e conta as suas experiên­cias nesta prisão política.

Aos 65 anos regressa a Lisboa, com "alguma roupa e um transístor".
Dinheiro nem vê-lo. Antes de ser deti­do depositou cinco mil contos no con­sulado português em Moçambique, quantia que nunca mais reaveu. Fala com especial ternura do "canudo da formatura, escrito em latim", que o precipitar dos acontecimentos fizeram com que ficasse esquecido nas quen­tes terras de África.

Já em Lisboa seria acolhido pela Santa Casa da Misericórdia, onde, ironicamente, declara «não ter viste mostras de muita santidade».

À reforma social, no valor de cinco mil escudos, juntava-se o mesmo montante para a reforma da polícia, na sequência de um decreto-lei da res­ponsabilidade de Mota Pinto, que pri­vilegiaria «quem tivesse sido funcio­nário do Estado».
Um dia, na Segu­rança Social, um zeloso funcionário informou-o de que «não podia ter di­reito a duas reformas». Resultado: fi­cou reduzido a uma reforma, do tempo em que foi agente da autoridade. Do período em que foi farmacêutico, só perduram as memórias, porque da compensação social, nem tusto.

Por estes dias dorme num leito tosco e pobre sob quatro paredes sem condições, que, gracejando, denomi­na como «o palácio do doutor». Con­fessa que sofre muito com os rigores do Inverno, e o que lhe vale é o ar puro proveniente da imensa mancha de pi­nhal que o circunda - se calhar o segredo da sua longevidade.

Mais um, dos muitos casos, que continuam a escapar à sensibilidade dos políticos da nossa praça.

O guarda-costas de Salazar

José Alves fala de Salazar com veneração. No seu tempo de polícia calhou-lhe em sorte escoltar durante um mês a residência onde o Presidente do Conselho passava férias, em Santa Comba Dão. Um "momento único", em que teve oportunidade de trocar umas palavras com tão ilustre inquilino. Sabedor do empenho de Salazar pelas vindimas, o agente José Alves disparou: "Vamos ter boas colheitas, senhor doutor?" Ao que Salazar, ao entrar em casa e
sem se deter, ripostou com um lacónico "vamos, vamos". Minutos
depois, alguém vinha trazer um banco ao sentinela José Alves para que este mantivesse a sua guarda, mas desta vez sentado. Ordens expressas de Salazar. Um gesto que ainda hoje perdura no baú de recordações do ancião de Gondelim.

NOTA: Indaguei, por várias vias, se o Dr. José Alves ainda seria vivo e soube que ele teria morrido em finais de 2001."

Acresce que:

Com a Sessão Plenária da Comissão Permanente da AR, que teve lugar dia 14/08/2003, deparei-me com uma insofismável e reticente questão:

Ao solidarizarmo-nos, com profundo sentido de solidariedade, para com os outros seres humanos cujo sofrimento é absoluto (o caso dos recentes fogos em Portugal), ao ponto de não sentirem mais dor; lembro uma "canção" que teima em não desaparecer - o sofrimento dos denominados Retornados, espoliados, o que quer que queiram chamar, pois talvez não sejam dos nomes mais feios a que fomos votados.

Neste momento há pessoas que estão a sofrer "na pele" uma dor tão agonizante que, por ser tão forte, torna-as insensíveis a ela.

Assim foi com aqueles que há 28 anos atrás passaram por um "fogo" de proporções 100 vezes superiores!!

Sem nada - o resultado da luta de uma vida (ou mais!) perdidos para sempre; um Estado que já não o era!; o ABANDONO TOTAL E COMPLETO (e não me venham com essa farsa do IARN - qual "Auschwitz", apenas sem a tatuagem (perdoem-me os Judeus); o desprezo à chegada; etc, etc, etc.

A DOR era tão grande - imensa, paralizante, anestésica!!

Neste momento de dor, talvez, talvez.. aqueles que sofrem possam vislumbrar o sentido e sentimento que refiro.

28 anos depois, ao ouvir a deputada dos Verdes a requerer que seja prestada ajuda psicológica às pessoas, e em especial às crianças, não pude deixar de chorar, de lembrar - de voltar, uma e outra vez àquela canção distante, de desespero, de uma dor tão imensa, que deixa de ser dor.
E, questionei: já vai sendo tempo de se discutir O FOGO DO PASSADO, O FOGO DA GUERRA da DESTRUIÇÃO.
É tempo de haver vontade social e política para terminar com os FANTASMAS, para "arrejar" os esqueletos.

Que se encare o problema da pseudo-descolonização com seriedade, sem demagogia, sem tentativas de encobrimento e branqueamento.

Que, TODA a classe política portuguesa peça DESCULPAS com ABSOLUTA SINCERIDADE e SERIEDADE, a todos aqueles que passaram por um FOGO 100 superior (não desmerecendo o sofrimento daqueles que o sentem neste momento).

FAÇA-SE JUSTIÇA.

Sobre a "Insustentável Leveza do Ser"

Não se trata de analisar apenas, ou somente, Milan Kundera:

"Praga 1968 - Preocupar-se com coisas como a liberdade e a procura da felicidade são problemas para outras pessoas. Tomas, um talentoso cirurgião e mulherengo inveterado, está preocupado exclusivamente com a procura da paixão. O seu objectivo é apenas viver a vida com uma leveza de ser, sem se preocupar com problemas como compromissos ou a opressão Comunista."

Erradamente, Kundera viaja pelo "limbo", na procura de uma explicação aquém da verdade!
Durante toda a Vida se procura alcançar a Insustentável Leveza do Ser - a meu ver, sempre mal interpretado por quantos se reveêm na visão de Milan Kundera!

A Leveza do Ser reside na eterna pergunta: onde está a minha metade?!
A intrínseca necessidade de preencher-mo-nos com o Outro.
Na verdade o que procuramos é a NÓS MESMOS!
A nossa Outra parte, as nossas expectativas reflectidas no Outro (Eu no sexo oposto!); naquele Ser que compartilhará connosco todos os momentos da nossa vida, da nossa existência quotidiana, da nossa Existência Total.

Não um mero devaneio, mas antes a base do nosso bem-estar, da nossa Felicidade, do nosso Ser.

"Há uma maré nos negócios dos homens,
que, aproveitada na subida, conduz à fortuna;
se ignorada, toda a viagem da vida
será sulcada de escolhos."

Benvindos ao Eclético!

O local onde o debate de ideias se faz de forma construtiva!